Revisão grátis? Saiba quando você deve desconfiar

A faixa que promete a revisão de 32 itens gratuitamente, ou por um valor simbólico, só quer atrair o motorista para dentro da oficina

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Por Boris Feldman
Publicado em 15/08/2018 às 13h00

Não existe almoço gratuito: a tal revisão grátis acaba mordendo o saldo bancário do motorista Passei outro dia defronte a uma concessionária Suzuki e vi na fachada uma faixa anunciando revisão gratuita de 32 itens. E não foi só essa: já me cansei de ver anúncios deste teor em diversas outras oficinas, independentes ou autorizadas.

Revisão grátis? Saiba quando você deve desconfiar dessa oferta, pois como se diz, "não existe almoço grátis"

Algumas praticam uma variação sobre o tema: em vez de anunciar revisão grátis (pois há quem desconfie do milagre), cobra valores quase simbólicos. “Revisão de férias por R$ 60,00” ou “Revisão completa em 3x R$ 30,00”.

Não à toa, economistas dizem não existir almoço grátis. Quem o paga está sempre interessado num favor, ou em faturar lá na frente às custas do convidado. É óbvio que oficina nenhuma oferece uma revisão grátis ou cobrando menos do que um estacionamento. Como justificar o apelo publicitário?

Não passa de chamariz. Pois a oficina já percebeu não existir carro nenhum levado para revisão que não necessite substituir pelo menos o óleo do motor, ou amortecedor, bucha da suspensão ou da direção, de um alinhamento da direção…

A tal revisão gratuita ou por apenas R$ 90 começa a mostrar sua cara quando o dono do carro chega no escritório logo depois de tê-lo deixado na oficina. E recebe uma ou várias ligações da oficina. “Doutor, a bomba de água está vazando” ou “Madame, infelizmente a bucha da suspensão não vale mais nada, a senhora não ouvia um barulhinho?”

O raciocínio da oficina é de induzir o dono do carro a deixá-lo para a revisão, porque depois, com ordem de serviço emitida, vaga ocupada e semi-desmontado, ninguém vai negar a execução de um serviço importante de manutenção. Algumas, honestas, se limitam a executar, caso o dono autorize, reparos realmente necessários. Neste caso, a faixa pode não ter sido das mais honestas mas não se praticou nenhuma desonestidade: cobrou-se por um serviço que necessitava ser realizado.

Mas outras, não satisfeitas, inventam mais uma série de itens, a chamada “empurroterapia”: descarbonização do motor, lubrificação da maçaneta, limpeza do sistema de injeção (bicos), do tanque de combustível, do corpo da borboleta e outras igualmente desnecessárias. E fazem teatro: “Madame! Sorte a senhora ter trazido o carro hoje! Mais alguns quilômetros e ele a deixaria a pé”, “Doutor: tinha borra no cárter e seu motor já estava para fundir!”.

De uma coisa se pode estar certo: jamais o carro será retirado da oficina sem pagar nada ou apenas pelo valor simbólico (R$ 90), pois a faixa não passa de um apelo para se levar o possante para a revisão. Os mencionados 32 itens estão muito mal explicados, mas se o motorista questiona (o que é raro), pode-se imaginar uma lista fictícia que tem cinco deles para “conferir a pressão dos pneus”, outro tanto para “verificar o nível de água, óleo e fluidos”, mais uns sete ou oito referentes às possíveis “lâmpadas queimadas” e outros igualmente banais. Todos somados, não daria nem meia hora de mão de obra…

Mencionei a tal faixa na concessionária Suzuki pois pela primeira vez a malandragem é explícita. Nela, abaixo dos dizeres principais, em letras menores, uma observação: “Promoção não válida para veículos em garantia”. É aí que se revela o pulo do gato. Por que a concessionária nega a tal “promoção” para um automóvel no período de garantia?

Porque se este carro é levado para a revisão grátis e se descobrem itens a serem reparados, a oficina não pode cobrar um centavo do dono, pois o automóvel ainda está em garantia e a responsabilidade do reparo é da fábrica e da concessionária.

Aliás, é um expediente muito utilizado também por concessionárias que se aproveitam da presença do carro para a revisão obrigatória para faturar muito além do estabelecido pela fábrica.

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Boris Feldman

Jornalista e engenheiro com 50 anos de rodagem na imprensa automotiva. Comandou equipes de jornais, televisão e apresenta o programa AutoPapo em emissoras de rádio em todo o país.

Boris Feldman
1 Comentário
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Carlos Minkap 15 de agosto de 2018

Legitimo ¨PEGA RATÃO¨.

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