A bateria será para o carro no futuro o que motor já foi no passado

Nos automóveis elétricos, é a capacidade de armazenar energia que vai separar as montadoras de sucessos das que vão desaparecer 

fabrica de baterias da audi na belgica
Baterias são na fábrica da Audi na Bélgica (Foto: Audi | Divulgação)
Por Zeca Chaves
Publicado em 29/09/2021 às 11h38

Durante o último século, o motor foi a alma de um automóvel. Não porque ele seja a razão de um veículo se movimentar – afinal, sem rodas ele também não sairia do lugar. O motivo é outro: esse dispositivo queimador de gasolina define boa parte da personalidade de um carro.

Sozinho, o motor a combustão é responsável por três características fundamentais do veículo: desempenho, consumo de combustível e manutenção/confiabilidade.

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Há fabricantes que se notabilizaram por produzir carros com motores focados na performance, como a Ferrari. Algumas marcas tornaram-se conhecidas por frequentarem pouco o posto de gasolina, como a Honda. Outras conquistaram fama por projetos que raramente apresentam quebras ou problemas mecânicos, como a Toyota.

Além da dificuldade de encontrar um ponto de equilíbrio entre os três atributos, ainda há a grande complexidade técnica de construir um motor: ele é composto por milhares de peças e exige precisão incrível nas folgas ou superfícies internas, que têm de enfrentar altíssimas temperaturas e ainda precisam resistir a uma certa dose de desleixo do dono tanto no uso quanto na manutenção.

É por essas e outras que o motor sempre foi o grande limitador para o surgimento e a sobrevivência de qualquer fabricante de veículos. Ou você tem a competência necessária para produzir motores ou precisa de um fornecedor. Construir um motor a combustão não é tarefa para amadores.

Tudo isso explica por que, até pouco tempo atrás, era raríssimo alguém criar uma montadora a partir do zero. Era, não é mais. Os carros elétricos mudaram completamente essa lógica.

Bateria será diferencial

Desde que o veículo elétrico tornou-se uma realidade comercial, devem ter surgido no mundo mais marcas de automóveis em 5 anos do que nos últimos 50. Estima-se que só na China existam hoje 300 fabricantes de veículos elétricos.

A explicação é que o motor elétrico é ridiculamente simples de fazer comparado a seu equivalente a combustão. O elétrico necessita de menos peças (cerca de 20 partes móveis contra mais de 2.000) e emprega uma tecnologia mais antiga e menos complexa.

O segredo do automóvel elétrico, no entanto, está em outro lugar: a bateria. É ela que vai separar o joio do trigo na nova corrida automotiva.

Claro que alguns fabricantes estão desenvolvendo novos motores elétricos mais adequados ao uso em veículos, mas conceitualmente não se trata de uma revolução. Se precisar de mais potência, ainda há a chance instalar no carro dois motores elétricos (um em cada eixo, como no Tesla Model S), três (é o caso do Audi e-tron S Sportback, que tem um à frente e dois atrás) ou quatro (um para cada roda, a exemplo do Lotus Evija).

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Lotus Evija tem quatro motores elétricos, que geram 2.000 cv (Foto: Lotus | Divulgação)

Com as baterias, o buraco é mais embaixo. Não adianta ter uma enormidade de potência nos motores, se não há energia suficiente para alimentá-los. E quanto mais se pisa no acelerador, mais rapidamente a carga vai embora.

E o tempo de recarga? Parece que demora uma eternidade. É o mesmo sofrimento que temos com um celular. A diferença é que, no smartphone, você pode plugar uma bateria externa. No carro não é possível: você tem de esperar horas parado à frente da tomada.

Esse tem sido um dos grandes impeditivos para o crescimento das vendas desses novos veículos. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia (EUA) mostrou que um em cada cinco donos de carros elétricos voltou a usar modelos a gasolina, devido à demora na recarga.

O outro limitador para o sucesso dos elétricos é o alto preço, que se deve principalmente à bateria, que representa 40% do custo médio de produção desse tipo de automóvel, segundo um estudo feito para o Financial Times

Carro elétrico ficará mais barato

Porém esses dois pontos negativos devem desaparecer nas próximas gerações de baterias. O mesmo estudo da Financial Times estima que elas ficarão tão baratas que o custo de produção de um veículo elétrico vai cair de 45% superior ao dos carros convencionais, como é hoje, para apenas 5% em 2030.

O mesmo deve ocorrer com a rapidez de recarga. A Volkswagen Caminhões e a brasileira CBMM anunciaram neste mês uma parceria para produzir uma bateria com polo de nióbio que baixaria o tempo para atingir 80% da carga de 3 ou 4 horas para apenas 10 minutos.

Outras empresas querem ainda menos. A startup israelense StoreDot diz que já está testando uma bateria com polo de silício que pode ser carregada em 5 minutos.

O professor Chao-Yang Wang, que trabalha no Centro de Tecnologia de Armazenamento de Energia e Bateria da Universidade da Pensilvânia, acredita que essas baterias de carregamento ultrarrápido estarão disponíveis dentro de três anos.

Se as baterias são o novo nome do jogo na cena automotiva, então quem dominar essa tecnologia dominará o mercado nos próximos anos, especialmente a partir de 2030, que é a data estipulada para a maioria da Europa abolir o motor a combustão. É quando elas se tornarão a alma da próxima geração de carros.

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11 Comentários
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Odair 13 de outubro de 2021

Bom dia Zeca
Gostaria de saber como estão as atividades e projetos de empresas de insumos para os carros elétricos no Brasil e até mesmo com nossos vizinhos ?
Existe um material atualizado para analisar e considerar ?
Agradeço sua atenção e disposição no tema
Obrigado e muito prazer

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Joel Segala Robinson 3 de outubro de 2021

Uma pergunta. Tem conhecimento dos resultados dos testes de impacto de algum carro eletrico ? Que acontece se entrar em curto às baterias? É no caso de choque entre dois carros elétricos. Baterias explodem em baixo dos ocupantes?

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Jonil Alves de Oliveira 3 de outubro de 2021

Se for pensar no custo do veículo elétrico, sem levar em consideração a economia com manutenção e com combustível, É como pensar em comprar um carro velho só pq é mais barato. Eu imagino que dentro de uma década, os estacionamento das grandes cidades terão carregadores disponíveis para os clientes. Qto tempo, por dia deixamos o veículo em estacionamento? Sem contar que todos terão carregadores em casa, pra carregar durante a noite. O carro “elétrico” fará com os carros a “combustão”, o mesmo que o telefone “celular” fez com o telefone fixo.
Essa é a minha opinião.

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Silverio 2 de outubro de 2021

Por que eles não usam o próprio movimento das rodas para gerarem energia para recarregar as baterias, simples e bem antigos,podendo também usarem a própria lataria para gerar energia. Tudo que se movimenta gera energia.podendo também usar o sistema de dínamo que é muito antigo é usado em fusca.simples.

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Ricardo 4 de outubro de 2021

Devido a um conceito chamado motocontinuo .

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Marcelo 2 de outubro de 2021

Não acredito que haja um “diferencial” nas baterias pq essas baterias são feitas por outras empresas(basicamente LG, Samsung, Panasonic) então seria só os outros fabricantes comprarem a melhor bateria, como já é feito hoje nos celulares.
Imagino que os carros vão ser como os celulares, com os componentes praticamente iguais, o que vai diferenciar seria o design, força da marca e o “sistema operacional”, que no caso do carro seria o sistema de condução autônoma, sistema de gerenciamento de energia(no caso o quanto o carro economiza pra aumenta autonomia e entrega qnd se pede potência) e as firulas, como controle por celular, sistema de entretenimento, etc..

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José 2 de outubro de 2021

Bom,2000 peças num mptor? Talvez em uma Lamborghini, Ferrari, Talvez. Mas pelo que aprendi, nunca diga nunca. Quanto a baterias, estão melhorando a cada “dia”. Veremos onde isso tudo vai dar. Por enquanto é inviável para paises do tamanho do Brasil. Talvez para rodar nas cidades, funcione,mas para viajar tenho minhas duvidas se as pessoas ficarão paradas esperando o recarregamento da bateria. Creio que a tecnologia ainda demorará um tempo para se tornar viavel para nossa realidade. Estive a um mes conversando com um chileno, conhecido meu, e perguntei sobre o frio do inverno lá, santiago chile, perguntei se usavam lareiras e lenha. Ele me disse que proibido usar lenha, porem, o gás é caro mas a eletricidade é barata. Bem diferente da nossa realidade onde tanto um quanto outro são Muito Caros para o padrão de renda do Brasil. Por esta razão não creio que seja viável o uso de eletricos no Brasil. E mesmo com todos os avanços tecnológicos que embarcarão neles, so encarecerão ainda mais o produto.

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Vardaro 30 de setembro de 2021

Errado senhor. O que irá ser comparado ao motor de ciclo Otto é a bobina ( motor elétrico ). A bateria será o tanque de combustível.

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Izair 30 de setembro de 2021

Eu acredito que os preços dos carros elétricos vão baixar, se conseguirem uma bateria mais eficiente, pois com carregamento rápido, vai aumentar a procura por carro elétrico, porque tem muito mais vantagens do que desvantagens em relação ao carro a combustão; as indústrias produzirão em grande escala, e mais indústrias surgirão aumentando a concorrência e com isso tornando os preços mais acessíveis.

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Rodolfo 29 de setembro de 2021

Nunca vi preço de carro a gasolina cair o preço… pelo contrário, só sobe. Veio a pandemia então pensei que como caiu as vendas ia cair o preço dos carros, mas ocorreu o contrário… o preço subiu, e como subiu.
Eu não tenho uma bola de cristal, mas desconfio que o preço dos carros elétricos vão sempre subir independentemente do melhoramento da tecnologia. A culpa vai ser de alguém… imposto, lucro, etc.

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Polvo 29 de setembro de 2021

Certamente a bateria é o principal desafio. O atual estágio de desenvolvimento dos carros elétricos ainda é pouco interessante, pois custo alto e tempo de recarga alto tornam o carro elétrico pouco funcional.

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