Carro 1.0: você ainda torce o nariz para ele?

O motor de 1.000 cm³ passou por ascensão e queda. Mas voltou reformulado, repotenciado e quites com as exigências ambientais 

fiat uno mille 1990 vermelho de frente
Fiat Uno Mille: o primeiro 1.0 do Brasil (Foto: Fiat | Divulgação)
Por Boris Feldman
Publicado em 08/08/2020 às 09h00

Era fraquinho e andava se arrastando principalmente quando carregado. Velocidade máxima? 135 km/h. Mas o Uno Mille marcou o início de uma revolução da nossa indústria automobilística. Foi lançado em 1990, quando a Fiat se aproveitou de uma redução de 50% do IPI (para apenas 20%) para carros até 1.000 cm³ de cilindrada e o primeiro a se habilitar ao incentivo.

Não foi tarefa difícil para os engenheiros de Betim, pois bastou reduzir a cilindrada do Uno, de 1.050 para 1.000 cm³. A marca italiana ganhou rapidamente o mercado pois as outras fábricas tiveram de fazer verdadeira ginástica para equipar seus compactos com motores de 1.000 cm³, equipados com os 1.3, 1.5 ou 1.6.

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As potências eram baixas, no entorno de 50 cv e, com exceção do Uno, muito pesados e não concebidos para um motor tão raquítico. Mas o desempenho era medíocre em todos eles.

fiat uno mille
Uno Mille: o primeiro carro 1.0 do Brasil (Foto: Fiat | Divulgação)

Em 1993, o governo Itamar Franco eliminou de vez o IPI (caiu de 20% para 0,1%), e surgiu então o chamado “carro popular”. Bem chinfrinzinho, desprovido de acessórios, simples e barato. Um incentivo que reduziu substancialmente seu preço de tabela e decisivo num país em que sempre se pagou imposto escorchante pelo automóvel.

As vendas foram crescentes mas o conceito do “popular” foi se desvirtuando, com as fábricas incrementando-os de acessórios, equipamentos, sofisticação e maior potência. Os motores foram evoluindo, recebendo novas tecnologias, turbo, compressor e chegaram a dispor de cerca de 100 cv sob o capô.

Recorde de vendas

Embora previsto para durar até o final de 1996, o incentivo foi eliminado no início de 1995 e o IPI subiu para 7%. Mesmo assim o segmento do “popular” continuou crescendo e chegou a virar uma aberração, ganhando fatias cada vez maiores do mercado nas duas décadas seguintes. As vendas atingiram seu  pico em 2001, com inacreditáveis 70% de todo o mercado brasileiro de automóveis.

Com a crise financeira que abalou o Brasil e o mundo, o governo voltou a reduzir o IPI (para zero) em 2008, com o intuito de estimular o crescimento da indústria. As vendas reagiram e os “populares” voltaram a representar 50% do mercado.

Mas o IPI retornou aos 7% em 2010 e a diferença de preço entre um 1.0 e o 1.3 ou 1.4 já não era tão significativa. O mercado foi percebendo ser mais vantajoso um carro com maior cilindrada, mais potente e ágil, sem consumir necessariamente mais que o 1.0.

Em certas situações, o motorista tinha que afundar tanto o pé direito que o “popular” se revelava mais beberrão que os demais. Suas vendas foram declinando, chegaram a apenas 40% e continuariam decrescendo não fosse o plano Inovar Auto, que vigorou de 2013 a 2017, estimulando o aumento da eficiência energética dos modelos nacionais.

Coincidiu com uma tendência de redução de cilindrada (downsizing) adotada por toda a indústria automobilística mundial. A ideia era reduzir consumo e emissões com motores de menor cilindrada, mantendo entretanto o desempenho a partir de tecnologia de ponta.

E assim, acidentalmente, o motor de 1.000 cm³ voltou à berlinda, em geral reduzido de quatro para três cilindros. Dotado, entretanto, de turbina, injeção direta, eixos de comando variáveis e outros recursos mecânicos e eletrônicos. Além disso, equipando carros com transmissão automática, direção assistida, ar condicionado e outros confortos.

Os motores 1.0 da Volkswagen, por exemplo, chegam a desenvolver hoje 130 cv e, além de compactos, equipam até carros médios como o Golf, Virtus e até os SUVs Nivus e T-Cross.

Os “ex-populares”  estão prestes a dominar novamente o mercado brasileiro pois sua fatia de participação nas vendas cresceu de 33% em 2016 para 47% no primeiro semestre deste ano.

Depois de sua ascensão pelo preço e queda pelo fraco desempenho, o motor 1.0 voltou à baila pela tendência mundial de menores cilindradas (downsizing) para redução de consumo e emissões. O raquítico 1.0 de 30 anos atrás acabou se impondo pela tecnologia e ninguém torce mais o nariz para ele.

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12 Comentários
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OpalaSemCaneco 14 de dezembro de 2020

Kkkkk realmente, o consumo de 4 por litro do nosso querido Opalão é incrivelmente incrível, ainda mais num país onde a gasolina comum beira os 5 conto

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Antonio Donizeti Martins 14 de agosto de 2020

Eu continuo achando que 1.0 turbo é o mesmo que cavalo paraguaio. Vamos esperar 50.000 km para ver. O motor foi turbinado para durar só o tempo do financiamento do carro. É o MEU CARRO MINHA VIDA da indústria automobilística.

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Alexandre 16 de agosto de 2020

Meu up! 1.0 TSi tem 5 anos, mais de 50.000km rodados e vai muito bem, obrigado. Fazendo 18km/l na cidade, 24km/l na estrada e sem nenhum problema.

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Claudio Benevides 10 de agosto de 2020

Tenho um uno 93 vou a onde quero viajo bastante nunca fiquei na mão não perde nada para outros carro

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Fábio 9 de agosto de 2020

Acho que muitos ainda não entenderam que um motor 1.0 turbo atual tem torque e potência de carros 1.8 e 2.0 da década de 90 numa faixa de rotação muito maior e com possibilidade de preparação mais fácil e extensa, além de um consumo muito menor. Se formos além e compararmos um seis cilindros de opala com um motor atual de metade do tamanho com turbo, a diferença de desempenho é gritante, só vai deixar a desejar no ronco insubstituível do seis canecos ou dos V8.

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Esfolado 10 de agosto de 2020

Para mim é como ligar um liquidificador no trifásico

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Cleiton 9 de agosto de 2020

Sempre fui Fan dos unos principalmente os Mille os wey nem se fala, quem dera eles voltassem a ser fabricados compraria um novo com certeza show de aventureiro e econômicos em manutenção.

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Jonas Camalhonte 8 de agosto de 2020

Tive um Corsa Wind com seus 50 cavalinhos realmente era fraco mas dava pro gasto, hoje tenho um HB 20 com 30 trinta cavalos a mais e não sinto qualquer necessidade de maior potência mesmo em viagem com família e bagagem, sem duvida uma evolução muito grande – aprovado !

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Fernando B 8 de agosto de 2020

Pegue uma subida com um carro 1.0 (sem turbo) e a mesma subida com um carro 1.6. Verá a gritante diferença entre ambos. Eles melhoraram, é óbvio. Mas não existe milagre.

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Geraldo 9 de agosto de 2020

Bom antes os motores 1.0 não tinha um Bom desenvolvimento. Mas agora com tanta tecnologia . Nas estradas q temos de não pode andar acima de 100 km não vejo a nesecidade de motores grandes do tipo um opala que eu tinha 6 cl .Ter um carro 1000 em um país q a gasolina não é barata fico feliz
Agora com os de três cilindros estou feliz com o desempenho em relação ou consumo é conforto e agilidade
Acho q quem usa o carro todo dia não troca por um motor grande ,bom nos os pobres né

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Rodrigo 8 de agosto de 2020

Nada substitui o ronco, o vigor, elasticidade e suavidade de um 5 cilindros (principalmente os 2.4 do Marea), 6 cilindros (qualquer um), ou V8.

Quem gosta da batedeira dos 3 cilindros ou de motorzinho, é Dentista.

Salvem os motores, salvem os Hatches Médios, salvem as Peruas e, em breve, os Sedans!

Esse mundo de SUV, PSEUDO-SUV e downsizing está tornando o mundo dos carros muito chato!

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Walsfor 8 de agosto de 2020

Concordo com a frase que diz: quem gosta de motorzinho é dentista. É o caso do 1.0. Nada substitui o torque de um motor maior.
E também acho uma balela e um disparate midiático sem proporções os “elogios” voltados a carros elétricos, eletrificados e híbridos, que de ecológicos não tem nada, ao contrário, a eletricidade em muitos lugares do mundo vem de fontes poluidoras e nefastas ao meio ambiente.

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