Mercedes-Benz S 500: amontoado de coisas inúteis

'Claro que se você tivesse um carro desse, você se acostumaria com tudo isso. Mas não quero passar minha vida me acostumando com as coisas.'

mercedes benz s 500
Jeremy Clarkson não gostou do Mercedes S500 (Foto: Mercedes-Benz | Divulgação)
Por Jeremy Clarkson
Tradução de Bob Sharp
Publicado em 09/07/2021 às 20h59
Atualizado em 12/07/2021 às 13h26

Ao longo dos últimos 50 anos, quase todos os avanços realmente importantes do automóvel estrearam no Mercedes-Benz Classe S.

A Renault nos deu botões de ajuste de volume na coluna de direção. A Chrysler, um furgão com bancos no interior. A Austin, o volante de direção quadrado. E a Lancia, o motor V4.

Enquanto isso, a Classe S foi usada como plataforma de lançamento para os freios antitravamento que funcionavam de verdade, ao contrário do sistema ABS do Jensen FF, que era precário.

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O modelo serviu também para conhecermos o pré-tensionador dos cintos de segurança, o controle de estabilidade, o controle de velocidade de cruzeiro inteligente, o vidro do para-brisa laminado, o sistema de telefonia ativado por voz e a desativação de cilindros. Este carro sempre foi um espelho pelo qual podemos ver o futuro.

Desse modo, gostei de sentar ao volante da nova versão porque assim eu poderia saber o que um homem mortal encontraria em seu Vauxhall ou Peugeot em um prazo cinco anos. Será que haveria um sistema de ar-condicionado que reduzisse o processo de envelhecimento do motorista? Ou um laboratório médico, talvez, no qual fraturas simples poderiam ser corrigidas enquanto se dirige de volta para casa?

Monte de coisas inúteis

Não. Em vez disso o que se tem é um monte de coisas inúteis. É como se o projetista fosse uma loja de quinquilharias e colocasse tudo no carro.

Vamos tomar como exemplo o projetor de dados no para-brisa. Vemo-los em vários carros hoje, de modo que para tornar o Mercedes diferente eles resolveram exibir tudo o que é tecnicamente possível.

Velocidade, rumo do percurso, mapa de navegação por satélite, onde os tanques inimigos estão localizados, mísseis prontos para disparo, e o maior distraidor de todos, um destacado indicador do limite de velocidade que começa a piscar se você andar 1 milha por hora mais rápido do que as autoridades de trânsito acreditam ser a apropriada. É como estar dirigindo em meio a uma chuva de raios laser.

Claro que é possível personalizar tudo para o seu gosto ou necessidades pessoais, ou simplesmente desligar o equipamento, mas não dá tempo porque é preciso também desativar o sistema de saída da faixa que atua no volante caso o carro chegue perto da linha branca, e a funcionalidade de desligar/ligar motor nas paradas, o que significa que o motor de partida deve ser feito de diamante e liga de ósmio para simplesmente poder aguentar a incessante demanda em sua vida útil.

Desligar a parafernália

É imperativo desligar toda essa parafernália antes de sair com o carro, pois você terá um trabalho do diabo para achar os botões certos quando estiver dirigindo. Teve um momento em que mexi no interruptor para desligar o projetor de para-brisa e vi que era do freio de estacionamento. Isso surpreendeu o motorista do carro de trás.

Nessa mesma linha temos a alavanca seletora do câmbio. Como tem sido normal nos Mercedes grandes durante 2.000 anos, ela é montada na coluna de direção. Mas no novo classe S a manopla não tem formato próprio de uma alavanca grande. Ah, não.

Para fazer os estetas felizes, ela é idêntica à alavanca no lado oposto da coluna de direção, a das luzes e limpador de para-brisa. Com isso, toda vez que eu pretendi dobrar à esquerda coloquei o câmbio em ponto morto. Isso também surpreendia os motoristas que estavam no meu rastro.

Após apenas um curto período de tempo desenvolvi raiva deste novo carro e nem mesmo cheguei ao ponto de explorar o sistema de controle que é mostrado numa tela no meio do painel que é do tamanho do telão da Câmara dos Deputados. Definitivamente é impossível operá-lo com o carro em movimento, pois se você tentar é certo que você terá um acidente.

Este é um carro que não apenas estaciona sozinho, como também acha vagas. Ele pode se autoconduzir na cidade ou na autoestrada, pode “ler” a via à frente e se comportar como deve. Pode jogar uma luz forte no rosto de pedestres que estejam a ponto de ficar na sua frente; e pode esconder suas maçanetas de porta.

E tudo isso — além de muito mais — pode ser controlado e ajustado às suas necessidades, o que significa menus e submenus e sistemas eletrônicos tão complexos que operá-los todos seu chofer tem que ser mais brilhante do que o amado filho bastardo de Montgomery Scott e Bill Gates.

Só piora…

Sinto dizer que as notícias só pioram, porque o Classe S, de alguma maneira, não parece certo. Numa desesperada tentativa para ficar no lado certo da rigorosa legislação ambiental, os engenheiros partiram para olhar carro com um microscópio e uma lâmina de barbear cortando um grama aqui e alguns décimos lá.

Os resultados são admiráveis, porque mesmo que o Classe S seja visivelmente mais comprido do que o modelo anterior, ele agora pesa pouco mais de duas toneladas. Todavia, atrás do volante pode-se sentir o menor peso. Ele não parece frágil de maneira alguma, mas não é como um classe S deveria ser: sólido.

Não duvido nem por um segundo que em caso de acidente ele não lhe proteja como sua mãe, e isso é ótimo, mas eu gostaria de um carro que parecesse que o faria. E o C lasse S não o faz. Ele parece… falso.

Felizmente, apesar disso, seu rodar não é nem um pouco ruim. No modo conforto — que outro modo se desejaria num carro desse? — ele desliza sobre ondulações e buracos de uma maneira nunca vista desde que a Citroën usou a suspensão hidropneumática. Tenho um Bentley Flying Spur que, numa comparação, parece um skate. O Mercedes é também assustadoramente silencioso graças ao uso de espuma acústica, que é outra maneira de dizer “bruxaria”.

Motor? Pouco importa. Ele terá um independente do modelo que você escolha para comprar. E ele terá sido calibrado para suavidade e para garantir que ele não derreta muitas geleiras na Groenlândia. Você terá também tração nas quatro rodas, o que, de novo, não diz nada. Não em um carro como esse.

Esterçamento nas quatro rodas? Sim, um que estava nas prateleiras da fábrica, assim ele o tem também, apesar de ele fazer ocupantes do banco traseiro enjoarem. Todavia, felizmente não é oferecido nos carros vendidos no Reino Unido.

Se acostumar?

Eu adoraria lhe contar como é dirigi-lo com esse sistema, mas eu não estava me concentrando realmente. O maior responsável por isso foi estar absorto no painel que me mostrava uma bola em 3D que vinha em minha direção e ficava verde quando eu tirava o pé do acelerador e se afastava ficando vermelha quando acelerava. Eu não tenho a menor ideia por quê.

Cheguei a tentar saber o que significava perguntando ao computador de bordo usando minha voz, mas ele pareceu não entender uma única palavra que eu dizia.

Claro que se você tivesse um carro desse — ou o dirigisse enquanto o dono estivesse sentado atrás — você se acostumaria com tudo isso da mesma forma que você se acostuma com um telefone Google em vez de um Apple. Ou com uma dor de dente. Mas não quero passar minha vida me acostumando com as coisas.

E com certeza não venderia o carro depois de cinco anos sem descobrir metade de seus talentos. Eu ia dizer que nesse ponto seria descobrir após cinco anos de casamento do que sua esposa gosta…

Mas eu não farei isso.

Nota do Jeremy
3 ★★★☆☆
Mercedes S 500 4MATIC L AMG Line Premium Plus Executive Ficha técnica
Motor 2.999 cm³, 6 cilindros, turbo, gasolina
Potência 435 cv a 6.100 rpm
Torque 53 kgfm a 1.800 rpm
Aceleração 0-100 km/h 4,9 s
Velocidade máxima 250 km/h
Consumo 11,2 km/l
Peso 2.065 kg
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32 Comentários
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Gilson 19 de agosto de 2023

Então estava na mira de uma s500 ano 2015 mais após esses comentários fiquei desiludido

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André 18 de agosto de 2021

Impressionante!

Passam-se os anos e Jeremy Clarkson segue sendo uma máquina de acertar o calo dos fanboys, de uma maneira irreverente e divertida.

As colunas dele sempre foram a primeira coisa que eu lia na Quatro Rodas e depois de algum tempo era a única…

Esse estilo de avaliação, sem compromissos com ninguém e às vezes nem sequer com a realidade, além de divertir, sempre esconde algo capaz de nos fazer pensar e não é por menos que ele é um dos maiores jornalistas automotivos do mundo!

Pelos comentários, dá para perceber que muitos não entendem as pitadas de humor Inglês que ele coloca nos textos e em alguns casos até dá vontade de desenhar para os “comentadores”, mas acho que nem vale perder tempo…

É mais divertido ver a irritação dos que não entenderam nada, pisando nas cuecas raiva por alguém avaliar um Mercedes Classe S ou uma Ferrari e não rasgar elogios como seria de se esperar.

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Gus 21 de julho de 2021

Assustadora a ignorância da maioria dos comentários, caíram de para quedas e não conhecem a história e o método de Clarkson.

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Edvaldo. 17 de julho de 2021

Na boa e um Zé ruela. Quer ganhar dinheiro TRABALHE com respeito e dignidade só assim terás respeito e conceito. Não seja maia um POLÍTICO.

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Leonardo 16 de julho de 2021

Ahhh, esse cara é um bobão! Troca o S por um Kwid então.

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Reinaldo 15 de julho de 2021

É inacreditável que o Auto papo mantenha esse lixo falando tantas bobagens. Lá fora ele é tido como um falastrão insuportável e acusado de envolvimento com favorecimento de marcas, tendo comentado sobre carros que sequer jamais andou. Uma fraude.

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Berenice 15 de julho de 2021

Parabrizas e vidros laterais traseirosltraseiros laminados(Cadillac e La Salle 1930)controle de velocidade(Cadillac Eldorado 1953) projetor de dados no para-brisa (Cadillac 1980) desligamento automático de cilindros (Cadillac 1980),direção quadrada (Plymouth 1960), e muitas outras novidades do carro alemão foram desenvolvídas até décadas antes do MB sempre pretendendo ser um Deus em nobidades e não passa de um imitador. P. ex,ĺuzes no porta luva lançadas com alarde pela MB já eram equipamento normal em todos carros americanos há décadas

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Ronaldo 15 de julho de 2021

Invés de estarmos replicando respostas e perguntas sobre o veículo! Alguém pode me ajudar com uma vaga de Emprego? Obrigado

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Ildemarcio 17 de julho de 2021

Não. Aqui é lugar pra falar sobre carros.

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Ronaldo 15 de julho de 2021

Invés de estarmos replicando respostas e perguntas sobre o veículo! Alguém pode me ajuda com uma vaga de Emprego? Obrigado.

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Ronaldo 15 de julho de 2021

Então dirija um
queixo duro ! E no seu conceito verá que é muito mais confortante,que esse tumultuado de parafernalhas,como se refere a máquina.

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Wagner 15 de julho de 2021

Esse cara é chá.to demais, tudo que leio dele sobre carros é denegrindo e falando mal. Acho que para ele carros deve voar falar e fazer cócegas em sua nuca.

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RAFAEL 11 de julho de 2021

Jeremy mesmo sendo um fã das S meteu o pau. Agora tudo vai se voltar pro aprimoramento dos elétricos, hoje parece que não tem muito interesse das montadoras em carros pra fazer história, quando os elétricos entrarem forte, tudo vai mudar.

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Felipe 12 de julho de 2021

Concordo em partes. De fato os motores a combustão estão sendo deixados de lado, com algumas pequenas melhorias sendo feitas para reduzir emissão. No entanto, toda a parte de tecnologia embarcada será simplesmente “copiada e colada” nos modelos elétricos. A briga entre as montadoras já é muito mais pelo conforto, tecnologia e entretenimento a bordo do que potência e eficiência do motor. Dizer que tudo vai mudar é exagero.

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gustavo 10 de julho de 2021

gustavoz, entao na sua filosofia de vida ter dinheiro significa ter o paraíso? rico tem inveja sim meu caro… alias, muita! todo rico se acha exclusivo, único, diferente dos demais, basta o sr. ler a revolução dos bichos, de onde vem a celebre frase – todos os animais sao iguais, todavia alguns animais sao mais iguais que os outros! ou seja, o rico vive uma realidade paralela, onde só existe ele e sua linhagem elitista. o rico nao sabe o que o cotidiano de uma rotina a base de salário mínimo. porem, o dinheiro, que tudo compra, nao compra carinho, nao compra amor, compra ilusão! tem rico que chega ao ponto de realizar um cerimonial de premiação cheia de pessoas e dar o premio para ele mesmo! o que vc acha que é isto? inveja ou esquizofrenia? … na hora da morte , meu caro, todos somos iguais, em caixas de madeiras, sem carros e sem dinheiro… alias, a propria velhice ja faz pensar bem sobre o final… um dia, vc entende, desligue se um pouquinho das aparências e de puxa saquismos e veja a vida real…

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Leonardo 16 de julho de 2021

Rico pode até ter inveja, mas de outro rico. De pobre, jamais. Só em novela.

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Ismar Antônio Pawelak 10 de julho de 2021

Não entendi a razão de criticar tão efusivamente o carro. Tecnologia inútil, pode ser, em especial para aqueles que não a compreendem. Eu vejo como mais um avanço rumo ao futuro. Gosto do modelo. Não o trocaria por nada.

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FAY VIGATO DE OLIVEIRA 10 de julho de 2021

Eu dirigi um s500 e achei simplesmente perfeito!

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Jose Carlos Alves da Costa 10 de julho de 2021

Parece que os que aqui comentaram não entendem nada de carro e não conhecem o jornalista acima, que durante mais de 20 anos apresentou o mais famoso programa de tv sobre carros do mundo, o Top Gear.
O Jeremy foi sempre um defensor feroz da Mercedes Classe S e já teve várias, e sempre a defendeu por ser o carro introdutório de tecnologias importantes que só foram incorporadas em carros comuns anos depois, e o que ele se refere agora é que a classe S desta geração tem tecnologias que já estão em outros carros mais baratos e nada de revolucionário, mas isto não tira o mérito junto com a série 7 da BMW e o A8 da Audi formarem a trinca dos melhores sedãs de luxo a venda no mercado, e quem tiver mais money e quiser mais luxo ( não tecnologia), tem os Bentleys e Rolls Royces, para poderem esvaziar os seus bolsos.

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João Antonio Oliveira Xavier 10 de julho de 2021

Deixa o passageiro do banco de trás enjoado!! Ou seja, o dono!!! Rsrsrs. Lascou-se!!!

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Fabio 9 de julho de 2021

A matéria nos deixa apenas uma conclusão: o motorista não presta. Deem um Fusca para ele testar, sem painel digita, sem seletores complexos, sem informações sobre como o carro se comporta ou o limite de velocidade da via, sem nada! Aí ele talvez não reclame.

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Jose Carlos Alves da Costa 10 de julho de 2021

O JEREMY CLARKSON, não presta, então quem presta ?

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Wagner 15 de julho de 2021

Vc está certo, esse cara reclama de tudo, sempre comprei a 4 rodas e não teve uma matéria que ele elogiou um carro com afinco.

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Fernando 9 de julho de 2021

Reportagem inútil, fiquei com a clara sensação de inveja do jornalista, mais famoso jornalista especializado quem mesmo? Ridículo… 1 estrela

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Gustavo Z. 10 de julho de 2021

O Jeremy Clarkson não fala mal de nenhum carro porque tem inveja. Ele é multimilionário, talvez bilionário, e pode ter qualquer carro que quiser no mundo. Se ele não gostou de um carro, pode ser por qualquer motivo, mas certamente não é por inveja porque não pode comprar um. Você sabe quem ele é? Pelo jeito, não.

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Leonardo 16 de julho de 2021

Bilionário, não.

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Boris 13 de julho de 2021

Prezado, você leu o texto na integra? Você entende o que esta escrito? Como alguém que tem um Bentley Flying Spur tem inveja de um Mercedes?

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Richard Mubarak 9 de julho de 2021

Adoraria um Mercedes classe S 500 0km, como este… incluindo todos os “defeitos” mencionados!

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Alexandre 9 de julho de 2021

Você quis dizer “amontoado” ?

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Klester 9 de julho de 2021

Dor nos cotovelos de quem fez a reportagem kkk

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Gustavo Z. 10 de julho de 2021

Dor de cotovelo? De um milionário que pode comprar qualquer carro que quiser? Você nem sabe quem é o autor da reportagem, né?

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Felipe 12 de julho de 2021

Engraçado a galera comentando sobre o autor. Definitivamente não sabem de quem se trata. Dica: Essa reportagem foi traduzida para o portugues.

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