[Avaliação] Em quê a nova Fiat Strada melhorou comparada à antiga?

Renovação completa conciliou avanços às características tradicionais da picape; contudo, alguns inconvenientes da geração passada também permaneceram

nova fiat strada 2021 volcano cabine dupla vermelha dianteira
Design da nova Fiat Strada lembra o da Toro (Alexandre Carneiro | AutoPapo)
Por Alexandre Carneiro
Publicado em 10/07/2020 às 09h00
Atualizado em 11/09/2020 às 19h04

Substituir carros de enorme sucesso não é tarefa fácil para os fabricantes. Geralmente, elas procuram manter as características gerais do produto e alterar apenas um ou outro ponto fraco. A Fiat seguiu essa estratégia à risca com a nova Strada: o projeto, apesar de ser totalmente novo, manteve das várias soluções da geração anterior. Contudo, adicionou a elas aperfeiçoamentos muito bem-vindos.

Assista ao vídeo da nova Fiat Strada Volcano:

A configuração cabine dupla (há também a cabine plus, uma espécie de mescla da cabine simples com a estendida, que traz caçamba grande e 150 l de volume para pequenos objetos atrás dos bancos), avaliada pelo AutoPapo na versão top de linha Volcano, ilustra muito bem essa fórmula.

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Enquanto a antiga geração levava apenas quatro ocupantes, a nova Fiat Strada tem um banco traseiro capaz de acomodar três pessoas, elevando a lotação máxima para cinco. Além disso, a carroceria deixou de ter três portas: agora são quatro, um arranjo mais tradicional e prático.

nova fiat strada 2021 volcano cabine dupla vermelha dianteira
Design da nova Fiat Strada lembra o da Toro

Além de ter um lugar a mais, o banco traseiro ganhou conforto. O encosto parece estar um pouco menos vertical, enquanto o vão para as pernas é sensivelmente maior. Porém, não há milagre: para não sacrificar demais a área da caçamba, o espaço interno ainda é limitado.

Atrás, apenas adultos com até 1,75 m. de altura conseguem se sentar sem sacrifício: mesmo assim, somente se os bancos dianteiros não estiverem totalmente recuados. Pessoas mais altas vão sentir aperto não apenas para os joelhos, mas também para a cabeça. Além do mais, ali o assento é curto e não apoia bem as pernas.

Na frente, por outro lado, as acomodações são boas. A posição de dirigir é semelhante à de Mobi e Uno, o que é natural, já que a nova Fiat Strada compartilha a estrutura dianteira com eles. Isso significa que o motorista senta-se em posição um pouco mais verticalizada, com boa visibilidade e acesso fácil aos comandos.

Espaço interno aumentou, mas falhas de ergonomia permanecem

Entretanto, a ergonomia é não mais que razoável. As críticas começam pela coluna de direção, que não tem ajuste telescópico e pode ser regulada apenas em altura. Além disso, o conta-giros é muito pequeno, o que dificulta a leitura, enquanto os pedais são deslocados para a direita. Os bancos dianteiros também deveriam ter assentos maiores. Não por coincidência, Uno e Mobi têm inconvenientes semelhantes…

O acabamento da nova Strada também repete o padrão visto nos dois hatches de entrada da Fiat. Os plásticos a bordo são semelhantes, ainda que algumas peças tenham design específico para o modelo. No segmento de picapes compactas não é de se esperar materiais luxuosos a bordo, mas o fabricante poderia ao menos ter aplicado estofamento nos apoios de braço das portas, cujo revestimento é totalmente rígido.

Na caçamba, a nova Fiat Strada também traz bons aperfeiçoamentos. Um deles é a retirada do estepe da área destinada à carga: agora, ele fica sob o assoalho. Isso permitiu aumentar o volume para 844 litros (194 a mais que a antiga geração) mantendo praticamente as mesmas dimensões do compartimento. A trava do pneu sobressalente só pode ser acessada com a tampa traseira aberta, solução para inibir furtos. Há ainda iluminação e capota marítima.

E por falar na tampa da caçamba, ela agora traz uma mola que, segundo a Fiat, torna o fechamento até 60% mais leve. Na prática, erguer o componente realmente requer pouco esforço. Na configuração com cabine dupla, a capacidade de carga foi mantida em 650 kg, número mais que condizente para uma picape compacta.

Nova Fiat Strada tem bom desempenho sem exagerar no consumo

Ao volante, a nova Fiat Strada agrada. O maior trunfo é o motor 1.3 da família FireFly, que tem uma curva de torque muito plana e responde rápido desde as baixas rotações: os valores máximos são de 14,2 kgfm com etanol e de 13,7 kgfm com gasolina. A potência, de 109 cv com o combustível vegetal e de 101 cv com o derivado do petróleo, embora não impressione, também é elevada para a cilindrada.

nova fiat strada 2021 volcano cabine dupla motor firefly 1 3
Ao menos por enquanto, motor 1.3 FireFly é o mais potente da gama da picape

Trata-se de um motor bem-dimensionado para a picape, que é até mais leve do que parece: pesa exatos 1.174 kg. Porém, é verdade que quem está acostumado com a antiga Strada 1.8 sentirá uma queda de performance em médias e altas rotações. Essa lacuna só será preenchida no ano que vem, quando a Fiat lançará uma versão turbo do propulsor 1.0 FireFly.

Contudo, se a comparação for com a antiga Strada 1.4, a superioridade na nova geração da picape da Fiat é evidente. Além do desempenho nitidamente melhor, o motor FireFly 1.3 tem ao menos uma vantagem na parte de manutenção: em vez de correia dentada, é equipado com corrente de sincronização, que dispensa trocas periódicas.

Outra vantagem é o consumo, que mostrou-se satisfatório. A reportagem aferiu médias de 10,7 km/l na cidade e de 13,1 km/l na estrada, com gasolina. São números próximos aos oficiais: o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE) informa 12,1 km/l e 13,3 km/l com o mesmo combustível, respectivamente. Com etanol, segundo o PBE, são 8,4 km/l em percurso urbano e 9,4 no rodoviário. Como o tanque comporta 55 litros, a autonomia chega a bons 720 quilômetros.

Câmbio manual continua impreciso

O pênalti do conjunto mecânico é a imprecisão do câmbio manual de cinco marchas. Ao que parece, na nova Strada, a Fiat usou um trambulador pior que na linha Argo: o AutoPapo já testou o hatch na versão Trekking, equipado com o mesmo motor 1.3 FireFly, no qual os engates mostraram-se bem mais fáceis. Isso sem falar no curso longo demais da alavanca da transmissão, aspecto criticável nos dois modelos. Nesse ponto, era de se esperar maior evolução.

A nova Fiat Strada tem ainda um diferencial próprio, que deixou as marchas com escalonamento mais curto e faz o motor trabalhar muito cheio em alta velocidade, elevando o nível de ruído a bordo: a 120 km/h, por exemplo, o tacômetro registra 3.900 rpm em quinta. Porém, nesse caso, a mudança é plenamente justificável, pois a picape, devido à maior capacidade de carga, precisa de mais força em arrancadas e retomadas.

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Fiat manteve eixo rígido com molas semielípticas na traseira da nova geração da Strada

Na suspensão, a Fiat manteve a arquitetura do tipo McPherson, independente, na dianteira e por eixo rígido do tipo ômega (que evita raspões da parte central em ondulações do solo) com molas semielípticas na traseira. No caso do conjunto posterior, o fabricante adotou a estratégia de não mexer em time que está ganhando. Afinal, esse sistema agrada aos proprietários da picape, devido à maior robustez para o transporte de carga.

A contrapartida é o conforto de marcha pior que em um esquema com molas helicoidais. É verdade que, dentro das possibilidades, a Fiat deu à nova Strada um bom acerto de suspensão. Ainda que alguns solavancos sejam transmitidos para o interior em pisos irregulares, o rodar não chega a ser desconfortável.

Altura do solo e eletrônica ajudam a vencer obstáculos leves

Além do mais, a generosa altura em relação ao solo de 214 mm (maior que a de muito SUV por aí) deixa o modelo livre de esbarrões contra o piso mesmo em estradas de terra malconservadas, como convém a uma caminhonete. Embora não tenha opção de tração integral, a picape exibe algumas salvaguardas eletrônicas que ajudam no off-road leve.

Ao acionar o botão TC+ no painel, o motorista lança mão de um recurso que a Fiat chama de controle de tração avançado: ele impede que uma das rodas gire em falso em superfícies de baixa aderência. A função é semelhante à do sistema Locker da antiga geração, só que, em vez de bloquear o diferencial, ela atua eletronicamente. A mesma tecla ativa também a programação off-road para o ABS, que permite maior eficiência fora do asfalto.

Apesar da suspensão elevada e com eixo rígido na traseira, a nova Fiat Strada não é ruim de curva: a estabilidade não chega a ser destaque, mas está adequada à proposta e não provoca sustos. Já a direção, com assistência elétrica, é progressiva e segura, mas tem respostas um tanto artificiais. O diâmetro de giro diminuiu em relação antiga geração, facilitando manobras, mas ainda é maior que o ideal.

Os freios também mantiveram o arranjo com discos ventilados na dianteira e tambores na traseira. Eles imobilizam a picape adequadamente, mas, em um veículo com capacidade de carga de 650 kg, é desejável um sistema com discos nas quatro rodas. Dignos de elogios são os faróis Full-LED da versão Volcano, que iluminam muito bem.

Equipamentos da nova Fiat Strada Volcano são fartos

Inclusive, vale destacar que a Fiat foi generosa no pacote de equipamentos da nova Strada. O único opcional é o kit de rodas de liga leve de 16 polegadas – as de série também são de liga, mas têm 15 polegadas; ambas vêm montadas em pneus de uso misto –, que sai por R$ 2.500.

O preço sugerido da versão Volcano é de R$ 79.990, mas somente a cor preta não tem custo adicional: as demais tonalidades sólidas cobram um extra de R$ 900. Esse valor sobe para R$ 2.300 nas metálicas e para R$ 2.500 na única perolizada (branca).

nova fiat strada 2021 volcano cabine dupla bancos dianteiros
Bancos da versão Volcano são parcialmente forrados com material que imita couro

O pacote da picape inclui quatro airbags (frontais e laterais), controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, câmera e sensores de ré, sistema de monitoramento da pressão dos pneus, luzes de rodagem diurna em LED, faróis de neblina, bancos parcialmente forrados com material que imita couro, volante multifuncional em couro, ar-condicionado manual, computador de bordo, alarme, vidros elétricos nas quatro portas, travas elétricas com acionamento à distância e retrovisores elétricos.

A nova Fiat Strada Volcano vem equipada ainda com central multimídia com tela de sete polegadas sensível ao toque, compatível com as plataformas Apple CarPlay e Android Auto por projeção sem fio, com navegação via Waze e Google Maps, música streaming, reconhecimento de voz (Siri e Google Voice) e leitura e resposta de mensagem SMS e de WhatsApp.

O sistema permite múltiplas conexões via Bluetooth e possibilita parear até dois smartphones simultaneamente. Há também duas portas USB e possibilidade de personalizar a tela. Na prática, mostrou-se intuitivo e fácil de usar.

Renovação tardia, mas bem-sucedida

A Fiat demorou nada menos que 22 anos para dar uma nova geração à Strada. A safra anterior, apesar das inúmeras atualizações, já não conseguia mais atender bem a outras utilizações que não fossem o puro e simples transporte de carga. Apesar da demora, o fabricante fez um bom trabalho, mantendo a aura de robustez da picape, mas adicionando a ela mais espaço, segurança, eletrônica e conectividade.

Assim, o modelo tornou-se mais apto também à utilização recreativa. No ano que vem, a nova Fiat Strada deve ganhar, além de motor turbo, opção de câmbio automático CVT. Com mais versões, a picape poderá atender a um público ainda mais amplo. Todas devem manter a boa aceitação mercadológica típica da gama, o que facilita a revenda.

nova fiat strada 2021 volcano cabine dupla vermelha frente
Faróis Full-LED vêm de série na versão top de linha

Contudo, bem que ela poderia ganhar também coluna de direção com ajuste telescópico e, nas configurações manuais, um câmbio com melhores engates. São itens simples e pouco onerosos para o fabricante corrigir, mas que fazem diferença para o consumidor: um projeto tão recente e bem-resolvido como o da nova Strada não condiz com inconvenientes desse tipo.

Garantia e manutenção

A Fiat oferece três anos de garantia para a nova Strada. A cobertura não tem limite de quilometragem para pessoas físicas, mas para pessoas jurídicas há um teto de 100 mil quilômetros. O fabricante informa que o plano de manutenção tem preços tabelados, porém, por enquanto, disponibiliza os valores apenas das três primeiras revisões, que custam R$ 1.284 cada.

Pontos fortes da nova Fiat Strada Volcano:

  • Altura livre do solo
  • Espaço interno (amplo para uma picape compacta)
  • Capacidade de carga
  • Equipamentos de série

Pontos fracos da nova Fiat Strada Volcano

  • Indisponibilidade de motor mais potente
  • Engates imprecisos do câmbio
  • Ergonomia
Ficha técnica Fiat Strada Volcano 2021
Motor dianteiro, transversal, flex, 1.332 cm³, com quatro cilindros em linha, de 70 mm de diâmetro e 86,5 mm de curso, e oito válvulas, com comando único
Potência 101 cv (gasolina) a 6.000 rpm e 109 cv (etanol) a 6.250 rpm
Torque 13,7 kgfm (gasolina) e 14,2 kgfm (etanol) a 3.500 rpm
Transmissão manual de cinco marchas, tração dianteira
Suspensão McPherson com molas helicoidais na dianteira e eixo rígido com molas semielípticas na traseira
Rodas e pneus rodas de liga leve 6” x 16” (opcionais); pneus 205/55 R16”
Freios discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS
Direção por pinhão e cremalheira, assistida eletricamente; diâmetro de giro de 10,7 m
Dimensões 4,480 m de comprimento, 1,732 m de largura, 2,737 m de distância entre-eixos, 1,595 m de altura
Vão livre do solo altura mínima de 214 mm; ângulo de entrada de 23,2°; ângulo de saída de 28,4°, ângulo de rampa de 21,6°
Peso 1.174 kg
Tanque de combustível 55 litros
Caçamba 844 litros
Carga útil 650 kg

Fotos Alexandre Carneiro | AutoPapo

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4 Comentários
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Jo 18 de julho de 2021

Veículo robusto para trabalho pesado. Para uso esporádico no batente vale muito mais a pena a Toro básica no meu entender. O preço é principal ponto negativo, sem sombra de dúvidas.

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Sandro de Souza Triunfo 18 de outubro de 2020

Tenho Corsa tive problemas da aquecimento ferveu um 3 vezes até encontrar o defeito que era a tampa do reservatório…e agora devo trocar a junta do cabeçote por precaução?… observação ferveu só as 3 vezes até achar o defeito

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QUEZIA SILVA 31 de julho de 2020

GOSTARIA DE SABER SE OS BANCOS TRASEIROS SÃO CONFORTÁVEIS, POIS NA VERSÃO ANTIGA ERA IMPOSSÍVEL VIAJAR SENTADO NO BANCO TRASEIRO. A PESSOA FICAVA TODA QUEBRADA.

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marcus mendes 10 de julho de 2020

O Jeep Renegade, vai receber o motor 1.3 turbo ainda em 2020. Qual a versão desse motor turbo seria aplicado na Strada?

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