A verdade sobre os caminhões bicudos ‘proibidos’ no Brasil

O Velho ditado, uma mentira contada muitas vezes, podem virar uma verdade quase virou verdade no caso dos caminhões bicudos

mercedes benz atron
Edição limitada a 12 unidades marcou a despedida do bicudo ATRON em 2020 (Foto: Mercedes-Benz | Divulgação)
Por Érico Pimenta
Publicado em 05/01/2023 às 15h03

Você já deve ter ouvido, ou lido, em algum lugar que caminhões bicudos, aqueles com capôs semelhantes aos americanos são proibidos no Brasil. E por isso, só temos caminhões do tipo frontal, cara-chata ou Cabover, como você preferir chamar. Mas saiba que é uma grande mentira. E se não são proibidos, porque não temos?

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Para entender, devemos olhar para o que estava acontecendo em meados dos anos 1980 e início dos anos 1990. Não estamos falando do colapso da União Soviética ou do confisco de poupanças, aplicado pelo então presidente Fernando Collor. Muito menos do tricampeonato de Ayrton Senna na Fórmula 1.

O que queremos recordar mesmo foi a mudança da lei da balança que ocorreu naquele período. A alteração da norma exigiu que fabricantes repensassem seus produtos. Para ser mais exato, em fevereiro de 1990 o governo, através do Decreto n° 98933, fez algumas alterações na chamada “Lei da Balança”. Entre as mexidas foi alterada capacidade máxima no eixo dianteiro de 5 para 6 toneladas.

tabela da lei da balanca pbt caminhoes
Lei da Balança definiu limite de peso para cada categoria (Reprodução Rei da Estrada | Scania | Divulgação)

A Lei da Balança foi elaborada na década de 1960 e só foi posta em prática em 1974. Ela veio com o objetivo de combater o excesso de peso e recebeu atualização em fevereiro de 1990. Porém, se por um lado essa alteração fazia o caminhão ganhar 1 tonelada, por outro, ela vinha acompanhada de restrições legais, como mencionada no Artigo 82 do parágrafo 1.

O trecho do texto diz que o limite máximo PBTC (Peso Bruto Total Combinado) permanece inalterado em 45 toneladas. Outro ponto na época era a viabilidade técnica de conseguir aumentar uma tonelada nos eixos dianteiros sem alterar a distribuição de cargas nos eixos traseiros.

Metamorfose dos caminhões bicudos

Com essa viabilidade técnica, Alexandre Berger, que era o então chefe de engenharia de vendas da Scania (ele atuouna Scania de 1982 a 1994) defendia que com essa mudança, caminhões do tipo cara-chata poderiam ganhar mais espaço no mercado. Berger só não estava certo, mas como previu o futuro do mercado.

É claro que a Lei da Balança em si não foi o único motivo, já que outros fatores como uma maior oferta de cargas de grande volume e baixo peso exigiam implementos com maior capacidade volumétrica. E para manter dentro do comprimento da lei, os modelos cara chatas eram ideais. Outro motivo é a maior capacidade de manobras em pequenas áreas devido ao menor entre eixos.

volvo fh 540
Caminhões do tipo cara chata permitem implementos com maior acomodação de volume (Foto: Volvo | Divulgação)

Por fim, o surgimento de implementos do tipo bi-trem e rodotrem fez com que os limites de conjuntos em comprimento deixassem os caminhões cara-chata mais vantajosos, tanto para empresários do transporte, como para caminhoneiros autônomos.

Os anos 2000

Se há três décadas aconteceu toda essa mudança no cenário de transporte de cargas, os anos 2000 não seriam diferentes. Os modelos bicudos ainda continuam a ser produzidos, assim como atualizados e também recebem novas tecnologias. No entanto, isso não seria por muito tempo.

Em 2005 a Scania anunciou na Europa o fim da produção dos modelos bicudos. No comunicado à época, a Scania mencionava que nos anos 1990 a produção de caminhões bicudos globalmente chegava a 90%, porém esse número foi caindo e chegou a 10%. E no Brasil mais especificamente, a produção era de 4%.

Se por um lado, Scania, Volvo e até mesmo a Iveco pararam de produzir ou importar modelos bicudos, a Mercedes-Benz continuou com a produção. E isso foi até o ano de 2020 quando ela anunciava a retirada do Atron, o que por si só já é mais uma prova que caminhões bicudos não são proibidos no Brasil.

freightlner 120 daycab
Muita gente defende que caminhão deva ser bicudo como os norte-americanos (Foto: Freightliner | Divulgação)

De certa forma, algumas montadoras decidiram não ofertar esse tipo de modelo no mercado, enquanto outras, mesmo com baixas vendas continuaram a vender. Mas as baixas vendas são culpa dos empresários? transportadoras? autônomos? mercado? legislações?

Tentar achar um culpado é desnecessário, é dizer que os bicudos são proibidos no Brasil é pior ainda. Há quem defenda que esses modelos devem voltar e seguindo os modelos norte-americanos, porém isso é uma outra discussão que envolve muitos pontos.

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29 Comentários
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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

O mercado externo também inclusive a Bolívia!!!

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Fabrício B. Aguirre 10 de julho de 2023

Sou leigo, mas me parece claro que o consumo de um cara chato deve ser maior.

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PEDRO CARLOS DE FARIA PINTO 13 de janeiro de 2023

Precisamos retornar com os transportes marítimo e ferroviário. Essas são as melhores alternativas para o Brasil.

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Alfa 11 de janeiro de 2023

Devido as normas de comprimento e PBT é mais vantajoso para transportadoras e autônomos usar o caminhão cara-chara no Brasil, pois o capô dos bicudos rouba espaço que poderia ser ocupado por mais carga, aumentando o valor do frete.

No Brasil não há demanda para caminhões bicudos americanos, pois aqui a preferência é maior para os modelos europeus da MB, Volvo, Scania, Iveco, VW e DAF, que são mais potentes e possuem mais tecnologia que os americanos, que até hoje usam caixa seca, aqui a preferencia é por caixa sincronizada ou automatizada.

Além disso, os cara-chatas são mais fáceis para manobrar nas estradas estreitas e sinuosas brasileiras e nos apertados pátios de carga.

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Moreira 9 de janeiro de 2023

E o velho problema meus amigos , juntam-se 5ou 6 engenheiros sem nenhum caminhoneiro por perto e decidem por nós, isso serve tbm pra politica quando vao fazer leis para os caminhoneiros, tem gente que faz lei e projeta caminhões que nunca andaram nem de carona em um caminhão

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Pgss74 9 de janeiro de 2023

Verdade!
Brasil!!

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Santiago 25 de março de 2023

Igual os nossos ônibus urbanos. Quem os projeta, nunca usou transporte público na vida.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

Verdade!!

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Daniel Saraiva 8 de janeiro de 2023

Criar a lei da balança, torna ela mais rígida não impediu que as estradas continuem o lixo de estruturas que são!! O problema não está no tamanho da cabine , no tamanho do implemento ou do peso a ser transportado . O problema é a população que não quebra o pau com o governo para melhorar a estrutura das rodovias. Rodoanel de SP não foi concluído até hoje , assim como a TransAmazonica . As rodovias estaduais de Minas estão uma porcaria . Tem estrada de terra na Austrália onde passa trem de estrada que tá melhor que rodovia as faltada . A lei da balança tem que ser mudada para focar na capacidade do implento pois é lá que a carga fica , e não incluir o cavalo mecânico que tem a simples função de apenas tracionar . Somente assim teremos liberdade de escolher qualquer tipo e tamanho de cabine de acordo com a operação a ser realizada.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

Tem toda razão!!

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Gabriel Macedo 8 de janeiro de 2023

Lei copiada da Europa, onde os países são pequenos, este tipo de coisa só favorece as montadoras que usam uma unica forma para fazer o caminhão e cobram o mesmo que um volvo vnl nos eua por exemplo. Em um país quase do tamanho de um continente é inadmissível que você não possa usar um 113 numa camera fria 28 pallets por conta de lei. Daqui uns dias teremos que rodar 6, 8 mil km em cima de um daycab.

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Geraldo 7 de janeiro de 2023

Cara chata deveria ser proibido….bateu ….morreu.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

Bem ky poderya maz nozzoz tranzportadolez não deyxa!!

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Zilton Silva Ribeiro 7 de janeiro de 2023

O caminhão Bicudo dá mais segurança para o motorista,no caso de batida frontal e, também a cabine é mais silenciosa e menos quente!

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Paulo leal Silva 7 de janeiro de 2023

Na verdade tem mais mais a ver com o limite de comprimento do caminhão, os bicudos fazem com que diminua o espaço útil pra carga..

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Santiago 6 de janeiro de 2023

No caso específico dos EUA, além da própria legislação, tem a questão da infraestrutura viária.
No geral as estradas de lá são bem mais amplas e largas, com raios de curva mais abertos. Além do país contar com um fabuloso sistema logístico e intermodal, o qual dispensa a necessidade dos “grandoes” transitarem dentro das cidades.
Tudo isso, mais as grandes distâncias, garantem o reinado perfeito aos gigantes bicudos com verdadeiras casas a bordo.

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Paulo Raulino 7 de janeiro de 2023

As suas palavras foram consistentes e pertinentes.

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Paulo 6 de janeiro de 2023

Tanto blá blá blá de peso combinado, legislação, preço, tamanho, vantagem em manobras, mas esqueceram do principal : a segurança do motorista ! Imaginem bater um cavalo mecânico cara chata , atrás ou de frente com outra carreta. Já era o motorista… Os bicudos ainda salvavam a vida deles devido a frente longa

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HAF 6 de janeiro de 2023

Verdade, e quando a cabine nos caras chatas ”desprega”… das longarinas…

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Vito 7 de janeiro de 2023

Falou tudo meu amigo

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GEDIVALDO MACIELDE SOUZA 8 de janeiro de 2023

O ideal seria a volta dos bicudos, quem nao gosta dum 113 ?,entao a própria volvo que é dona da mack nos eua deveria repensar e voltar a produzir no Brasil, se não proibido ,qual seria o problema de ofertar esse mode ,e além do mais essa legislação é só conversinha, deveriam rever a forma de como de trata o transporte aquu no Brasil.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

Por izzo é ky sow a favor do frente longa!!

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J. Roberto 6 de janeiro de 2023

Não sou um entendido em caminhões.
Uma vez conversei com um motorista de um caminhão Mack.
Ele disse que os caminhões “bicudos”, como o Mack, tem cabinas muito mais silenciosas, espaçosos e, principalmente, oferece muito mais conforto para os motoristas que realizam longas viagens, quando comparadas com os similares “cara chatas”.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

E ele tem toda razão!!

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Lucas vieira 6 de janeiro de 2023

Isso simplesmente e culpa da legislação, e não tem muito a ver com peso bruto total combinado, mas sim do comprimento, no Brasil a norma conta a soma da medida da carreta mais cavalo, quanto no mercado norte-americano conta somente a medida do implemento descartando a medida do cavalo, assim tornando mais viável para o consumidor brasileiro os cara chata que consegue ganhar metragem no implemento

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Manoel Maxwell Marmom 4 de março de 2024

Essa medida é injusta pros caminhões de cabina convencional.

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Joao 6 de janeiro de 2023

A Volvo ainda produz caminhões bicudos no USA para o mercado interno de lá.

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Manoel Maxwell Marmom 18 de janeiro de 2024

O mercado externo também inclusive a Bolívia!!!

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WENDEL CERUTTI DA SILVA 6 de janeiro de 2023

A maioria das marcas de caminhões no Brasil são européias com modelos cara chata , logo é muito mais vantajoso unificar as linhas globais .

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