Caoa mostrou o caminho das pedras para a Chery, que devolve ingratidão 

Chineses sentem 'gosto do sucesso' do mercado brasileiro e resolvem vir desprezando parceiro local que os colocou na prateleira de cima entre os automóveis

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Exeed é espécie de 'divisão de luxo' da Chery (Foto: Exeed | Divulgção)
Por Sergio Quintanilha
Publicado em 21/10/2023 às 13h03

Não existem santos na indústria automobilística, mas a história do setor está cheia de oportunistas. Ainda é cedo para dizer que a chinesa Chery está sendo oportunista com a brasileira Caoa, mas sua ingratidão já é um fato.

Antes da união que resultou na Caoa Chery, várias marcas chinesas fracassaram no Brasil. A única que esteve perto do sucesso foi a JAC Motors, graças à visão comercial do brasileiro Sergio Habib.

Habib percebeu que o público queria equipamentos que só existiam nos carros mais caros. Então trouxe carros baratos e bem equipados. Fez tanto sucesso que a Anfavea pediu socorro ao governo, que criou uma supertaxa para os carros importados.

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Melhor assim, pois os carros das chinesas JAC, Chery, Changan, Geely, Lifan e GWM, naquela época, eram muito ruins.

Tinham design confuso, péssima ergonomia, comportamento dinâmico perigoso e até mau cheiro, por causa da cola utilizada. Neste novo ambiente, a JAC desistiu de produzir no Brasil. A Chery decidiu avançar. E fracassou.

Caoa Chery reabre porta para chineses

Hoje muitos carros chineses são bonitos, desejados, eficientes, surpreendentes e tecnológicos. A China melhorou muito a ergonomia e o comportamento dinâmico de seus automóveis.

Mas a fama dos carros chineses no Brasil não caiu do céu. Ela começou a ser construída quando o empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade decidiu comprar 50% da Chery. Nasceu a Caoa Chery.

E isso mudou tudo. Nas mãos da Caoa, os carros da Chery passaram a ter um aprimoramento técnico para ficar ao gosto dos motoristas brasileiros. Os clientes passaram a ser mais bem atendidos. As campanhas de marketing passaram a ter qualidade, abrangência e repetição de longo prazo.

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Carros da Caoa Chery ajudaram os chineses no mercado brasileiro (Foto: Caoa Chery | Divulgação)

A Caoa Chery passou a ter duas linhas de produto muito fortes (Tiggo e Arrizo), ao mesmo tempo em que fez rápidas e constantes atualizações em seus carros. A Caoa Chery rompeu o preconceito contra os carros chineses, virou uma marca desejada e se tornou uma das mais vendidas do Brasil.

Nem tudo foi perfeito. O fim da produção do Tiggo 3x, poucos meses após seu lançamento, irritou os compradores. O fechamento da fábrica de Jacareí, SP, nunca foi bem explicado. E a prometida volta da produção, em 2025, muito menos.

Independentes

Nesse meio tempo, o sucesso da Caoa Chery reanimou a indústria chinesa. Se a Caoa Chery pode, por que não podemos? – pensaram a GWM e a BYD.

Com o caminho das pedras desbravado pela Caoa, a GWM e a BYD resolveram vir sozinhas. E se havia algum mal-estar na relação entre a Caoa e a Chery, o sonho do voo solo aflorou de vez na Chery. Que pensou: – já sabemos fazer, e se a GWM e a BYD podem fazer sozinhas, nós também podemos.

Agora a Chery diz que quer importar, vender e até produzir no Brasil carros de suas marcas Exeed, Jaecco e Omoda, mas sem a parceria da Caoa. Que, de seu lado, não aceita ficar à parte desse negócio. Se essas marcas são boas, por que não trazê-las dentro da joint-venture estabelecida em 2017?

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Exeed é uma das marcas que a Chery planeja oferecer sem a Caoa no Brasil (Foto: Exeed | Divulgação)

Talvez a Caoa não queira ou não possa fazer investimentos de altíssimo valor neste momento. Não seria uma surpresa, pois uma empresa brasileira, por mais robusta que seja, dificilmente consegue ter o poder financeiro de uma montadora chinesa com atuação internacional.

Justificativa?

Houve algum fato que justifique uma quebra de contrato? Afinal, por que a Chery agora quer virar as costas para a parceira que lhe abriu o mercado?

Seja lá o que for, a Chery precisa explicar à população brasileira, e a todos os jornalistas que vêm falando de seus carros há mais de uma década, o que ela tem em mente, e o porquê.

Por enquanto, a Chery Internacional preferiu escolher três ou quatro jornalistas para plantar notícias a seu favor e criar uma narrativa de que sua parceira no Brasil, a Caoa, não merece consideração. Se não merece, a Chery tem que dizer quais são os motivos.

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30 Comentários
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TELESFORO MATOS 7 de dezembro de 2023

Muito, muito, muito pior a CAOA fez com a hyundai.

Matou todos os carros importados da marca para vender Tiggo…

Nada como um dia atrás do outro…

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Paulo 3 de novembro de 2023

Só sei de uma coisa, os carros chineses vão dominar o Brasil.

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Santiago 23 de outubro de 2023

A CAOA abriu as portas do mercado brasileiro para a Chery, e a Chery forneceu platafornas que a CAOA não tinha como desenvolver sozinha. Ambas cresceram e ganharam com a parceria, porém, como sabemos, nem todos os casamentos duram pra sempre…Menos ainda no mundo dos negócios, aonde é muito raro que principios morais se sobreponham aos interesses financeiros.

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Gilmar 23 de outubro de 2023

E as operações Zelotes e Acrônimo da PF com a CAOA, foram esquecidas.

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Magno 22 de outubro de 2023

Chinês é assim. Quem ganhar só o tempo todo.

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Marcelo 22 de outubro de 2023

Não ouvi a Caoa se queixando disso em nenhum momento.É falta de matéria do Uol?? Cada uma….

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Jeferson 22 de outubro de 2023

Um exemplo comparativo bem simples do que está acontecendo:

Um restaurante tem dois sócios. Um deles, está preocupado com a chegada de novos restaurantes nas proximidades, mas ao mesmo tempo vê oportunidade de crescimento. Então ele propõe ao outro sócio ampliar o menu e investir na estrutura do restaurante. O outro sócio, além de não apoiar o investimento, também quer impedir seu parceiro de negócio em investir. O resultado disso, naturalmente, vai ser a dissolução da sociedade.

É o que está acontecendo. A Chery, vendo a chegada da BYD e da GWM ao mercado brasileiro, com produção local e com boa possibilidade de abocanhar as vendas da Chery, quer trazer novos produtos para o Brasil e num segundo momento, quer produzir no Brasil, na fábrica de Jacareí, que pertence 50% a Chery, diferentemente de Anápolis, que pertence integralmente à Caoa. Porém, a fábrica de Jacareí demanda novos investimentos, pois a plataforma de montagem não permite a montagem de veículos com entre-eixos maiores e também não tem flexibilidade para montar veículos de dimensões diferentes.

A CAOA parece querer esperar pelo fim do ciclo de investimentos em Anápolis e se o Regime Automotivo do Centro-Oeste, com sua generosa redução de IPI, será prorrogado para além de dezembro de 2025, para ver o que fazer com Jacareí.

A CAOA não quer investir em Jacareí, mas também não quer permitir que a Chery o faça, mesmo com os chineses já propondo eles assumirem sozinhos a modernização da planta. Com isso, a única opção que restará para a Chery no futuro é construir outra fábrica do zero, mesmo já tendo uma planta ou tentar convencer a Caoa a vender sua metade na fábrica de Jacareí.

Aqui não se trata de ingratidão, mas de uma visão de mercado muito infeliz da CAOA. Sabendo que o contrato de parceria com a Hyundai não será mais prorrogado, deveriam tratar melhor a Chery. Afinal, a CAOA ainda não tem nem capital e nem know-how suficiente para desenvolver e colocar em linha de produção um veículo projetado do zero.

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jose antonio 25 de outubro de 2023

UM GRANDE ERRO NESSA PARCERIA, NA MINHA OPINIÃO, FOI NÃO INVESTIREM NA LINHA DOS CARROS POPULARES, PRINCIPALMENTE O NEW QQ, POIS TENHO UM HÁ CINCO ANOS E NÃO TENHO O QUE RECLAMAR, CAOA CRESCEU O OLHO NOS CARROS DE ALTO VALORES AGREGADOS. AFASTANDO OS COMPRADORES DE BAIXA RENDA, CONTRARIANDO OS INTERESSES DOS CHINESES, DAI DEU NISSO, O MESMO DEVE TER ACONTECIDO COM A HIUDAY EM RELAÇÃO AO HB20, LEMBRAM?

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Jeferson 25 de outubro de 2023

Na verdade foi o contrário. A Chery cometeu dois grandes erros quando chegou ao Brasil: Focar em veículos compactos (populares) quando o mercado já direcionava para SUV e não ter desenvolvido na fábrica de Jacareí uma plataforma de montagem flexível, que permitisse montar veículos com entre-eixos maiores.

Foi um erro estratégico que limitou muito a operação da Chery. Além disso, os primeiros carros que ela trouxe não eram bons, longe disso aliás. Especialmente o primeiro QQ. Se ela tivesse trazido o primeiro Tiggo apresentado aqui para a produção local, teria sido muito mais bem sucedida. A Chery acreditou que carro barato vende bem. Até pode ser verdade isso, mas ele precisa ter qualidade também, e não tinham. Com isso não conseguiam ter volume de vendas. E veículos compactos, por terem margens de lucro menores, dependem de grande volume de vendas para manter a operação rentável. Por conta disso, a operação teve muitas dificuldades.

Até dava para a Chery ter investido mais em compactos, mas no começo ela deveria ter investido em veículos com maior valor agregado, para consolidar imagem no mercado.

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João Batista Correia Lima filho 22 de outubro de 2023

Lembro bem quando a hunday quebrou o contrato com a Caoa e tirou dela os carros pequenos deixando só os caros, foi quando a Caos como retaliação partiu para o investimento na Chery. Hoje vemos os carros grande da Hunday sem vendas e apenas os 1.0 com retorno. O chinês é muito pior, não é confiável de jeito algum.

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Reginaldo Martins 3 de novembro de 2023

O problema é que brasileiro não pensa em produzir nada, primeiro foi a dependência dos coreanos agora dos chineses, tem que investir em um produto próprio e com qualidade, e valor pra ter volume de vendas, aí sim vem crescimento, mas enquanto acharem que especuladores são investidores o país vai rumo ao fundo do poço, investimento o carro nacional precisa ser produzido, será que nos brasileiros não conseguimos produzir um carro com capacidade de brigar no mercado global…quanta incapacidade a nossa…
ESPECULADOR NAO É INVESTIDOR
A PALAVRA CERTA É “SANGUE SUGAS”

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Victor Hugo 22 de outubro de 2023

Os coreanos fizeram a mesma coisa primeiro com o HB20 e o Creta e até o New Tucson…

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Arquimedes Mariano 22 de outubro de 2023

A indústria chinesa é muito diferente da indústria Brasileira, eles tem uma visão mais simplificada das coisas, já o Brasil é cheio de leis trabalhistas, sindicatos e momento de dificuldades. Não duvido nada esses caras abrir uma indústria própria sem parceria com ninguém. A China está dando força a esses caras, que é bem estranho por sinal!

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Victor Hugo 22 de outubro de 2023

E você acha que a China não tem sindicatos e leis trabalhistas?!? A diferença é que lá os sindicatos entram dentro do governo e o governo entra dentro dos sindicatos..

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Leonardo 22 de outubro de 2023

Excelente texto! Concordo plenamente! Em tempo: na minha família temos QQ e Tiggo de primeira geração, além de Jac J3. Todos adquiridos ou 0km ou seminovos com baixíssima km. Tb temos carros da Hyundai e de outras marcas. Não vejo esses chineses que eu citei como tão inferiores assim: pelo preço pago concluo que o custo benefício deles foi excelente! Nível semelhante ao dos “brasileiros” da década de 2000… Mas, obviamente, concordo que a evolução dos ditos chineses foi surreal – os meus são carroças perto desses novos hoje já glamourizados e desejados. Minha próxima aquisição deverá ser um Tiggo 5x 0km!

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Marcelo Malachias 22 de outubro de 2023

Todas as marcas que licenciaram o CAOA (Renault, Hyundai e Chery) o fizeram de caso pensado, premeditadamente, não investindo para se estabelecer no mercado e depois, mesmo tendo que pagar judicialmente pela “sacanagem”, se apoder do que foi feito e realizado. Apenas a Subaru não fez isso, não sei se por decência ou pouco dinheiro pra brigar.

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joao vitor 22 de outubro de 2023

acho que ja ta na hora do grupo caoa melhor trazer a gurgel de volta ativa fazendo veiculos off road que nem a troller que nao é mais brasileira

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Alberto Duarte 22 de outubro de 2023

SUV off road com a marca Gurgel seria triunfal, modelos de 5 e 7 lugares com o grande diferencial de poder acomodar 7 malas também para viagens

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José 22 de outubro de 2023

A história se repete.
Lembrem se do caso Hyundai Caoa ou Caoa Hyundai que também teve muita dor de cabeça. Até hoje não ficou claro como foi resolvido.
Sem dúvida, muitos de nós brasileiros, um dia ainda poderemos ser proprietários de carros de marca chinesa.
O problema é que não há espaço para tantos fabricantes de carros no Brasil e, com isso muitas marcas poderão deixar o país.
.

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Leda marques Ribeiro 22 de outubro de 2023

Comprei um Tiggo há 3 meses e ñ consegui receber o carro. Estou andando a pé. Pode-se confiar numa empresa dessa???

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Fabrício Aguirre 21 de outubro de 2023

Texto foi cirúrgico. Só me parece que são mais do que meia dúzia os plantadores de notícias pró Chery.

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Eber Gomes 21 de outubro de 2023

A CAOA claramente está atrapalhando a Chery na sua expansão nacional, fato que se não fosse o grupo CAOA, a empresa seria mais uma das chinesas que fracassaram aqui, mas outro fato é que o mercado chines melhorou, a ponto de fazerem marcas consideradas premium com vergonha, e com um ritmo totalmente frenetico, temos novidades sendo lançadas no mercado chines a cada 3 ou 4 meses, e mesmo trazendo modelos com algum nivel de defasagem (Linha Tiggo e Arrizo já apresentam mudanças), tornam-se produtos cobiçados no cenário de veículos, por ultimo, essas empresas chinesas vem com uma estrategia bem agressiva, apostando muito no alto volume de venda e produtos com alto nivel de acabamento a um excelente custo beneficio (pratica essa que já vimos por aqui, mas não nesses niveis), e isso vai totalmente contra ao cartel estabelecido no Brasil, se a Chery esperar, ela vai acabar perdendo o mercado que levou 10 anos para construir (com a ajuda, é claro), por conta de um posicionamento retrogrado de um parceiro comercial..

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Marcio rosa 21 de outubro de 2023

Vai confiar em chinês, só poderia dar nisso.

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Marcio Ever 21 de outubro de 2023

Tá na hora da CAOA produzir seus próprios modelos, como era os planos de seu fundador. Competência pra isso ela já tem!

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Eber Gomes 21 de outubro de 2023

Concordo, o que impede a CAOA é o orçamento em pesquisa e desenvolvimento, é muito mais comodo e barato para ela adaptar projetos que ja existem em outros mercados do que criar um próprio..

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vitor 22 de outubro de 2023

ou melhor trazer a gurgel de volta ativa fazendo veiculos off road que nem a troller

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Alessandro Pereira 21 de outubro de 2023

Muito bom mesma a matéria. Agora vira as costas para quem não deixou a peteca cair como várias outras marcas chinesas q hj nem lembradas são pelos brasileiros

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Emygdio Carlos 21 de outubro de 2023

Parabéns pela matéria!

Infelizmente, esse tipo de atitude é muito comum.

É o famoso “usou, joga fora”.

A ganância destrutiva continua a fazer vítimas.

Lamentável!

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Walter H 21 de outubro de 2023

Concordo plenamente com o texto. E mais, ao contrário das empresas realmente nacionais, as empresas chinesas são boa parte geridas e mantidas com dinheiro estatal chinês. As nossas dependem do seu próprio orçamento e ainda tem que “lutar ” contra o lobby das multinacionais tradicionais.

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Eber Gomes 21 de outubro de 2023

Nesse contexto simplesmente não existe industria nacional relevante.. A ultima delas foi a Troller, antes de ser adquirida pela Ford.. Todas empresas relevantes hoje são multinacionais, com lucratividade muito mais alta do que a praticada no mercado internacional, e com um nível de protecionismo absurdo.. A china tem cadeias de suprimentos muito diversificadas, o que permite entregar produtos de ótima qualidade em todas as áreas, se o subsidio fosse mesmo a questão também conseguiríamos entregar mais qualidade com o preço menor.. A movimentação chinesa só beneficia o consumidor, e força as demais multinacionais a sair da zona de conforto, marcas como Chevrolet e Fiat jamais vão abandonar o mercado nacional tendo em vista a baixa relevância nos demais mercados..

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