Por que o carro flex é uma ‘lorota ecológica’?

O motor que pode consumir gasolina e etanol completa 20 anos mas ainda não é solução para reduzir efetivamente as emissões de carbono (CO2) 

bomba etanol posto portal
Etanol: esquecido pelos donos de carro flex (Ilustração: Ernani Abrahão | AutoPapo)
Por Boris Feldman
Publicado em 19/08/2023 às 09h03

O etanol foi para o tanque do automóvel com o plano “Pro-álcool” do governo federal lançado em 1977. Foi um sucesso e as vendas do carro com o combustível derivado da cana de açúcar chegaram a 98% do mercado doméstico. Quem tinha motor a gasolina o convertia para o etanol.

Mas o sonho durou pouco mais de dez anos e virou pesadelo no final da década de 80, quando o combustível verde faltou nos postos e formaram-se extensas filas de motoristas arrependidos. A maioria fez a conversão reversa: do etanol para gasolina. Foi a derrocada do carro a álcool.

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A eletrônica solucionou o problema e tornou possível lançar em 2003 o carro flex, que aceita ambos os combustíveis. Eliminou então o receio do motorista de se tornar novamente refém das inconstâncias de humor dos produtores de etanol.

Mas as estatísticas não deixam margem a dúvidas: é uma falácia afirmar que o flex é solução para a descarbonização, pois, apesar de ele representar 85% da nossa frota, a gasolina ainda representa 70% das vendas nos postos.

Carro “limpo” de fato

Soluções que reduziriam de fato as emissões veiculares a partir do álcool:

  1. Incentivar o motor que só queima etanol. Ele já foi desenvolvido por algumas fábricas e a Stellantis já o tem quase pronto na prateleira. Mas todas aguardam o momento correto para oferecê-lo ao mercado: quando governo e usineiros se entenderem e o mercado perder o receio do álcool.
  2. Aumentar a competitividade do etanol e induzir o motorista a abastecer com ele o carro flex, reduzindo seus impostos e aumentando os da gasolina, para que a diferença dos preços seja realmente interessante. Atualmente, o custo menor do álcool apenas compensa seu maior consumo, pois seu preço na bomba é de cerca de 70% da gasolina, sem vantagem real para o bolso do motorista. Por isso, até que seja atraente de fato e reduza o custo do km rodado, a gasolina ainda tem a preferência do mercado.

A vantagem deste caminho é contemplar todos os carros flex que já circulam. A desvantagem é – por aumentar o imposto da gasolina – pesar  no bolso de quem ainda é obrigado a abastecer com ela os modelos com mais de 20 anos de fabricação, que representam quase 4 milhões de carros. Mas poderia se tornar uma vantagem se o governo arquitetasse um plano para incentivar seu sucateamento.

Vantagens do motor a etanol

lobby etanol

O motor a etanol já está praticamente pronto nas prateleiras de algumas fábricas. Como não exigiria uma calibragem especial para receber também a gasolina, poderia ter maior eficiência e extrair todo o potencial do etanol, aumentando o desempenho e reduzindo consumo.

Etanol é mais limpo

O etanol tem apenas 1/3 do teor de carbono em relação à gasolina e, por isso, mantem os motores mais limpos, livres de carbonização. Diminui também o impacto ambiental até porque a cana de açúcar, ao crescer no campo, ainda elimina parte do CO2 expelido pelo escapamento.

Mais barato

O etanol tem menor custo de produção pois não exige o software nem os sensores necessários para ajustar seu funcionamento ao combustível no tanque.

Descarbonização

O motor a combustão já não está com os dias contados? A solução não será o carro elétrico? Depende.

Em termos de eficiência, o motor convencional já deveria estar há muitos anos no museu, pois é um “perdulário” e só aproveita de 30% a 40% da energia contida em cada litro de combustível no tanque. O resto é jogado no lixo em forma de calor. O elétrico tem eficiência superior a 90%.

Entretanto, em termos de controle ambiental, acredite se quiser, um carro hibrido abastecido com etanol emite menos CO2 (86 g/km) que o elétrico recarregado com energia “suja” (95 g/km). Na Europa, por exemplo, onde ela vem, em geral, de usinas a carvão, diesel ou gás. Ou seja, a poluição é transferida do carro para o campo.

O resumo da ópera é que, carro híbrido com motor flex abastecido com etanol é a melhor solução para a limpeza ambiental, já existe um com esta configuração no Brasil, o Toyota Corolla, e outros estão a caminho.

Por outro lado, carro flex abastecido com gasolina ou elétrico recarregado com energia “suja” não passam de uma solução hipócrita para a descarbonização do mundo.

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26 Comentários
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Ricardo Joao Tesch 16 de abril de 2024

Lendo todos os comentários, o que devo escrever? Tenho um fiesta 2012, carro que gosto muito por causa do motor 1,6 Rocam está com 58 mil kms rodados, e só abasteço com etanol e também GNV! Nunca tive problema algum de mecânica! E não penso em trocar tão cedo por outro veículo!

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jorge luis bogdanov kussarev.'. 28 de agosto de 2023

Carro a álcool…Eu já tive um, gostava demais, eu não tinha receio de andar forte com ele, era muito confortável. Nunca tive problemas pois fazia manutenção preventiva.
Sobre o flex, também tive, era mais conveniente do que o veículo movido a álcool, e com a injeção eletrônica ficou excelente, embora não fosse minimamente econômico, pois era gastão no álcool e lerdo na gasolina.
Uma questão para outra matéria é a farsa do diesel, pois não se fala em acabar com esses monstros poluidores ! Então, que se mexa nisso e que se pare de poluir !

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yuri 25 de agosto de 2023

Etanol só existe porque o Governo defende as Oligarquias. Fim de história.

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Tiburtino Lacerda 24 de agosto de 2023

Temos a condição, quase única no mundo, que nos permitiria possuir uma frota de carros elétricos, movidos a etanol. Sim, o etanol, entrando em um reformador, daria hidrogênio, que entraria em uma célula de combustível, junto com o oxigênio do ar, dando água e eletricidade, que tracionaria o carro, como já acontece no Mirai.J Já possuímos toda a infra estrutura de produção/distribuição do etanol, no país inteiro. Pra funcionar, esse sistema teria que ser desenvolvido exclusivamente para o Brasil, pois poucos países produzem etanol em tão grande escala.

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Marcelo França 24 de agosto de 2023

No meu flex tem usado E85, uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina usando essa mistura o meu flex faz mais do que usando somente gasolina.

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Mister Gasosa 23 de agosto de 2023

Creio que sempre estaremos com uma “faca de dois gumes”… quando tirarem a gasolina do mercado brasileiro o preço do etanol subirá… quando tirarem o etanol, o preço da energia elétrica para carregar o carro elétrico subirá.
Não temos pra onde correr… pra quem não tiver condições de comprar um carro elétrico zero-km e mantê-lo, só vai restar o transporte público, taxi, Uber, 99, etc.
Pois moto e bicicleta na minha opinião o perigo de acidente não compensa. Vejam como é penosa pro ser humano a reabilitação em acidentes de moto…
Tem uma frase que define bem o que é moto:
“Na moto o para-choque é você!”

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EXEQUIEL 22 de agosto de 2023

etanol tem agua. se fosse mais barato e sem agua, eu usaria. pra destilar o alcool sem alcool fica bem mais caro e os usineiros nao querem e o governo permite. carro só a gasolina ficaria bem mais economico, mas teria de tirar o etanol dela, deixar ela pura. diesel também puro sem biodiesel que destroi os motores

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Polvo 23 de agosto de 2023

Eu usava etanol 100% do tempo nos meus carros anteriores, até porque o preço do etanol em SP, geralmente leva uma pequena vantagem em relação a gasolina. Porém o aconteceu em todos os carros é que com o uso prolongado do etanol o carro desgastava as velas, cabos com maior frequência, além de deixar o motor meio “preso” na primeira partida do dia, parecendo um enforcamento de válvulas, sei lá. Não sei se a presença de água causa este tipo de problema, mas enfim, hoje eu utilizo etanol alternando com gasolina e, na maioria das vezes, misturado. Os dois carros que eu tenho funcionam super bem dessa forma.

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Mister Gasosa 23 de agosto de 2023

Pelo que estudei no Google Acadêmico, o etanol anidro, ou seja, sem água, ele não é corrosivo. Já se conter água, permitida por lei, ele fica corrosivo. E se o etanol for batizado por água o estrago será grande no bolso, pois vai corroer tudo que terá contato com o etanol.
Eu mesmo praticamente só uso gasolina aditiva Shell V-Power no meu GM Onix, motor 1.4-L, ano 2019, flex, pois a referida gasolina aditivada limpa todo o sistema de alimentação desde o tanque de combustível até as válvulas de admissão de combustível. E a cada 3.000 km eu uso um aditivo de frasco de gasolina via tanque da STP, Fuel Injector Cleaner – Aditivo Para Gasolina Limpa Bicos Injetores.

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Marcelo Sadalla 22 de agosto de 2023

Meu pai teve 1 Prius
O motor atkinson tinha 13:1 compressão
Usando etanol o carro fazia 20 a 22km/L na cidade e 14 a a 15km/L na estrada
Colocava sempre 3 litros de gasolina no tanque pra lubrificar toda linha
Imagina esse Prius Hatch ou mesmo no Yaris Hatch
Rodava 900 km com o carro sem preocupação
Toyota faz , o resto fica na novela das 8

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Reginaldo Renzon 21 de agosto de 2023

Saudações sr Boris Feldman
É possível criar um veículo elétrico auto-sustentado por um gerador ou outras tecnologias de geração de energia,como a solar,a regenerativa,? Porque não usar apenas um motor a combustão de pequenas dimensões,que apenas recarregue as baterias? As baterias podem ser projetadas e”moldadas” para serem parte da estrutura do veiculo? Qual o impedimento real para combinar soluções já encontradas e aplicá-las todas ao mesmo tempo em um projeto?

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Milton Martins de Oliveira 20 de agosto de 2023

Tem que inventar um motor só a etanol… e que suporta todos os desaforo da água q tem a sua composição no etanol … e que o governo facilita as coisas: em relação a isso… para que serve de incentivo: para os brasileiros…

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Santiago 20 de agosto de 2023

O fato é que a tecnologia Flex foi, essencialmente, uma resposta à instabilidade no fornecimento do etanol (que aliás, persiste até hoje).
Por ser uma adaptação técnica, fazendo que motores originalmente projetados pra gasolina aceitem também o etanol, obviamente o rendimento ficará abaixo do que seria em motores dedicados a um ou a outro combustível. Além de estar mais sujeito a corrosão e maior desgaste interno, se abastecido apenas com etanol.
Logicamente um motor exclusivamente a etanol, desenvolvido com as atuais tecnologias, é altamente promissor e desejável. Porém o seu sucesso dependerá do fornecimento pleno do etanol, o que depende de robustas medidas governamentais que regulem e garantam tal fornecimento.
Enquanto esse dia não chega, os Flex são o melhor que nós temos pra hoje.

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Alessandro 20 de agosto de 2023

Investir hoje em uma tecnologia que ocupa vastas areas cultiváveis para agricultura(que deveria produzir alimento para a população) para geração de energia a qual é abundante em diversas matrizes é no minimo suicídio empresarial. Como o próprio autor cita, a diferença de eficiência energética entre combustão e elétrico já saem com uma vantagem de 70% de eficiência. Estamos vendo o nascimento de uma nova era da mesma forma que ocorreu quando saimos do vapor para a combustão interna. É um caminho sem volta.

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B G L 20 de agosto de 2023

Não entendi o parágrafo onde diz Mais barato.

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Márcio Esteves 19 de agosto de 2023

O carro flex é ilusão por que quem determina o preço do etanol é a gasolina. Não adianta eu ter um carro com duas opções de combustível se o valor deles é tabelado pelos postos se baseando no rendimento por litro de cada combustível. Então é melhor colocar gasolina porque preserva mais o motor do carro por que o etanol é corrosivo e estraga o motor do veículo

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Eduardo 22 de agosto de 2023

Sim, os distribuidores e os postos vão se apropriar de qualquer diferença no preço entre o álcool e gasolina acima do limite de 70%. O álcool era vantajoso na década de 80 porque naquela época o preço era tabelado.

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Geraldo 19 de agosto de 2023

Carro á álcool com motor desencolvido para ele se for econômico é muito bom. Agora Boris chega de insistir em carro elétrico…isto não irá para frente. Tem soluções melhores com o álcool, gasolina sintética, hidrogênio, hibrido usando álcool como vc citou…elétrico é falácia…o tempo dirá.

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Santiago 21 de agosto de 2023

Exatamente!
Assino embaixo.

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Daniel F Oliveira 25 de agosto de 2023

Geraldo onde eu assino?

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Geraldo 25 de agosto de 2023

Pois é…aqui no Rio em Nova guaçu vi um carro elétrico sendo carregado através de gato(furto de energia) na maior cara de pau com carregador e tudo e em local próximo ao centro…imagina isto se popularizando…totalmente insustentável…comi digo é uma falácia.

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Paulo A Franke 19 de agosto de 2023

Uma tonelada de erros e bobagens, mais uma vez. Está começando a cansar…
(1) O na época importantíssimo e estratégico ProÁlcool (hoje teimar com etanol e com a combustão é uma imbecilidade total) não é de 1977. Foi lançado em 14/Novembro/1975
(2) Loucura propor motor 100% a etanol. Como diz o próprio artigo, a gasolina é disparadamente o combustível preferido. Tão difícil assim entender que isso – e mais o receio de ficar de novo na mão do etanol – condena ao fracasso qualquer tentativa de voltar com o carro 100% a etanol? Prestem atenção no que vocês mesmos escrevem
(3) Imagina alguém confiar em acordo do governo com usineiros. Não vamos perder nunca o receio do etanol
(4) Aliás, só ‘confiamos’ no etanol lá nos anos 80 porque era absurdamente mais barato que a gasolina. Isso nunca mais vai acontecer. By the way, obrigado por pararem de encher o saco dos 70% na relação de preços. É 70,0% e não se fala mais nesse assunto. Até mexerem de novo na composição da gasolina E27
(5) Absurdo dizer que o etanol deixa os motores limpos por ter apenas 1/3 de carbono na molécula, em relação à gasolina (esse número provavelmente está errado – muito errado – também, mas deixo para outro leitor refazer as contas). O etanol deixa os motores limpos porque o combustível é ‘monomolecular’. Só tem C2H5OH, e queima praticamente tudo, sem muitos resíduos. A gasolina é uma macabra mistura de hidrocarbonetos, herança da sua origem fóssil. Sempre haverá algumas moléculas que não queimam completamente
(6) Motor a etanol é mais barato porque não exige o ‘software complexo’ do motor flex? Que loucura, software não tem custo recorrente. Desenvolveu, acabou
(7) Motor ciclo Otto de carros normais com 30 a 40% de eficiência térmica? Nem pensar. Conseguem passar de 30% apenas no banco de provas, com borboleta toda aberta (pé no fundo). Na utilização normal do dia a dia, ciclo urbano, a eficiência térmica média do motor Otto não passa de 15%. Em estrada, o Otto melhora um pouco (porque roda com borboleta um pouco mais aberta), mas não passa de 20%
(8) Parem com essa palhaçada de elétrico carregado com uma rede suja polui mais que etanol. Caceta, que coisa mais idiota. É lógico que uma rede com eletricidade gerada por uma termelétrica troglodita, alimentada com carvão mineral, vai poluir mais. Parem com isso, apenas parem
(9) A Toyota promoveu há algum tempo um test drive com dois Corolla, da USP em São Paulo capital, até a UFMG, em Belo Horizonte. Com dois Corolla: um com motor flex normal, acho que era um 1.8, usando etanol. E um híbrido flex, também abastecido com etanol. Qual dos dois modelos consumiu menos no test drive? Parabéns, leitores, todos acertaram. O carro com motor flex normal, sem hibridização, consumiu menos

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Tiburtino Lacerda 24 de agosto de 2023

A única parte de seu comentário, que não está correta, é o número 8. Carro a álcool, produz gases de efeito estufa, que são absorvidos da atmosfera, pelo canavial em crescimento.Assim, ele ecologicamente deve ser zero emissões, ou quase.

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Paulo A Franke 24 de agosto de 2023

Acho que foi mais ou menos isso que tentei dizer. O etanol substitui o CO2 fóssil na proporção de 80%. Ou seja, de cada 100 quilos de CO2 emitidos pelo escapamento de um carro utilizando etanol, 20 quilos de CO2 vieram de energia fóssil utilizada na sua produção. É colossal a quantidade de diesel fóssil utilizada na fase agrícola da produção do etanol. Ainda assim, o etanol ganha – e imagino que ganhe fácil – de uma rede elétrica 100% abastecida com termelétricas a carvão mineral.

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Gilson jose dos santos 19 de agosto de 2023

Gasolina com 30 % de etanol e etanol com muita água igual temos Lorota e lixo de combustível. Brasil não acredito em nada nesse país, já quebrei muita a cara ,o próprio brasileiro e uma Lorota em aceitar ladrões na presidência que esperar mais desse Brasil.

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Pedro setgio 19 de agosto de 2023

Está reportagem, faz propaganda de uma marca de carro.

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