Carros no Brasil: distorções (e deslizes) tupiniquins 

Listei alguns absurdos do mercado de automóveis no Brasil e também a falta de regulamentações ou quando são ignoradas

polo robust de traseira
Polo Robust: VW faz economia de palitos nos retrovisores (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Por Boris Feldman
Publicado em 18/05/2024 às 09h03

Brasil é o país do “salve-se quem puder”, pois tem lei que pega e a que não pega e peculiaridades que só aqui são capazes de prosperar.

Piada

Desde que foram tornadas obrigatórias, as estatísticas comprovam a eficiência das cadeirinhas para proteger as crianças. Mas governo é incompetente e sem coragem de enfrentar o lobby das fábricas para regulamentar sua utilização exatamente onde elas são transportadas diariamente: vans escolares. Piada de mau gosto…

VEJA TAMBÉM:

LatinNCAP

Quem decide se automóvel comercializado no Brasil oferece proteção adequada ao ocupante é uma entidade… uruguaia.

De comprovada baixa credibilidade, distorce resultados, testa modelos vendidos em outros países ou que já não são mais fabricados no Brasil e desrespeita seus próprios prazos ao alterar critérios. Deixa dúvidas quanto aos resultados de testes: há os carros que ela adquire no mercado ou os que realiza – acompanhados de polpudos cheques – a pedido das fábricas.

Inmetro

Um órgão do governo da maior importância para homologar e certificar produtos colocados à venda no mercado. Mas que perde a credibilidade quando homologa pneus remoldados sem exigências básicas de segurança, que derrapa ao permitir pneus recauchutados em motos, ao se restringir a homologar uma meia-duzia de peças de reposição entre as centenas disponíveis no mercado, ao prorrogar “inexplicavelmente” por cinco anos a exigência de bombas nos postos à prova de bandidos.

Porta-malas ou caminhão-pipa?

Uma questão importante para o motorista ao decidir a compra de um carro é a capacidade (volumétrica) para bagagem. Existe um padrão internacional (VDA) com medição a partir de pequenos blocos com volume de um litro. A Stellantis o ignora e mede o volume do porta-malas com água. Que entra em qualquer canto e aumenta artificialmente o volume realmente disponível para bagagem.

Alcance do carro elétrico

byd dolphin carro eletrico recarga 3
Foto: BYD

Quantos quilômetros roda um carro à bateria? Surgiram critérios de medição na Europa, na China, nos EUA. A maioria bastante otimista e que se “esquece” das enormes variações que reduzem significativamente a capacidade da bateria.

O Inmetro estabeleceu o padrão brasileiro (mais pessimista, porém mais próximo da realidade) que pode não ser exato em termos absolutos, mas permite um referencial entre diversos modelos.

Pois não é que a chinesa BYD desrespeita o padrão nacional e anuncia o alcance de seus carros de acordo com o padrão chinês?

Poder invisível

O mundo corre atrás de alternativas energéticas ao combustível fóssil. O Brasil é abençoado com opções extraordinárias, mas amaldiçoado por interesses econômicos inconfessáveis. E tome biodiesel em excesso que entope os motores. E tome etanol em excesso que agride o bolso do motorista ou o carro mais velhinho. Pois a decisão não resulta de análise técnica, nem do Ministério de Minas e Energia, nem da ANP, mas de uma poderosa entidade “invisível”, a bancada ruralista no Congresso.

VW Polo Robust: economia de palito

polo robust de frente

Alguns equipamentos não são obrigatórios por lei, mas deveriam. Desde que surgiu o retrovisor externo controlado eletricamente, não se admite mais o comando manual, por uma alavanquinha. Em ultimo caso, o da esquerda é de fácil regulagem, pois o motorista está em sua posição natural. Mas o da direita é impossível ser ajustado sem ajuda de terceiros ou várias tentativas do motorista.

Apesar disso, a VW cometeu o absurdo de eliminar o comando elétrico nos dois lados ao “depenar” o Polo Robust. Economia (porca) de palito…

Lombadas

São necessárias, como ultimo recurso de governo sem recursos. Mas 97% delas desrespeitam o padrão estabelecido objetivamente pelo código de trânsito. Provocam acidentes, quebram componentes inferiores do carro e derrubam (já mataram) motociclistas. Além de aumentar desnecessariamente o consumo e as emissões.

Pra quê cinto?

Se no banco traseiro do automóvel sua utilização é desprezada, nos ônibus interestaduais não adianta o motorista se postar lá na frente antes da viagem: os passageiros sequer imaginam a possibilidade de um acidente “justo comigo”. E centenas já se feriram ou morreram nestas circunstâncias.

DPVAT

Chama-se agora SPVAT e será cobrado a partir de 2025 (pois o governo “perdeu” o prazo para que voltasse este ano). E continua a ilegalidade de ser recolhido para um banco e não para uma seguradora.

Multa do carro?

Quem comete a infração de trânsito é o automóvel ou o condutor? Se eu compro um carro de alguém que tenha cometido uma infração, porque a notificação pousa na minha mesa e não na dele? 

PT

A rigor, o DETRAN tem a obrigação de informar se um automóvel se envolveu num acidente que tenha provocado danos de grande monta. Mas essa informação é exclusiva (e secreta) da comunidade de seguradoras, que não a divulgam publicamente em nenhuma hipótese.

ITV

São simpáticas, as “BMV (Brasilia Muito Velha)”. Mas todos estes carros caindo aos pedaços que rodam por aí provocam congestionamentos (quando quebram), ameaçam a integridade de terceiros (por falta de freios), bebem e emitem excessivamente.

Tudo porque falta ao governo autoridade e coragem para implantar a Inspeção Tecnica Veicular, que eliminaria estes calhambeques das ruas. Mas, o político que tiver coragem de implantar a ITV vai certamente perder centenas de milhares de votos.

Newsletter
Receba semanalmente notícias, dicas e conteúdos exclusivos que foram destaque no AutoPapo.

👍  Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.

TikTok TikTok YouTube YouTube Facebook Facebook X X Instagram Instagram

Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, procure o AutoPapo nas principais plataformas de podcasts:

Spotify Spotify YouTube PodCasts YouTube PodCasts Deezer Deezer Apple PodCast Apple PodCasts Amazon Music Amazon Music
SOBRE
7 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Comentários com palavrões e ofensas não serão publicados. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Avatar
Ricardo passos maio 23 de maio de 2024

Faltou comentar: a aberração daquele engate de reboque pra ” proteger para-choque”. E qual a medida de um banco traseiro pra ser considerado 3 lugares? Kwid com 3 lugares…

Avatar
HAF 22 de maio de 2024

Fora DPAVT! fora#MULA!

Avatar
Tobias 21 de maio de 2024

Eu prefiro com Inmetro e ncap. Caso contrário as montadoras deitam e rolam. Sobre seguradoras, muito trambique para lucrar.

Avatar
Waslon 19 de maio de 2024

O Inmetro mostra consumo na cidade que ninguém consegue chegar nem perto. Em resumo, não serve para nada!

Avatar
Tobias 19 de maio de 2024

Se não tivesse Inmetro e ncap seria pior ainda, uma vez que montadoras, no geral, não respeitam a vida do cliente. Sobre seguradoras, existe muita sacanagem, com conivência dos governos. Enfim, balbúrdia como sempre foi.

Avatar
Mauro do Carmo 18 de maio de 2024

Boris, bom dia!
Se pelo menos 50% dos jornalistas que cobrem o setor automobilístico tivessem a coragem de publicar o fatos com eles são, de dizer a verdade, como você faz (de mandar a real), muito provavelmente estaríamos em situação muito melhor, com menos distorções e absurdos.
Veja: tenho que chamar de coragem um atributo que é apenas um dever legal, inerente a função … mas raríssimo.
E como você o cumpre (sempre), fica o elogio. Parabéns!
Abração.

Avatar
Santiago 19 de maio de 2024

Concordo!
Porém é importante ressaltar o papel do consumidor nessa história toda. Infelizmente, no mercado de automóveis, o consumidor brasileiro é por demais complascente com situações que em outro lugares não são toleradas: Preços inflados e especulativos; Itens que deveriam ser de série, porém são vendidos como opcionais dentro de “pacotes” a preços absurdos; Modismos forjados pra se vender certos produtos por aquilo que não são, como a atual febre de suvs-fake.
O brasileiro simplesmente aceita e paga o que não deveria aceitar, naturalizando o inaceitável.

Avatar
Deixe um comentário