Quando o desespero prevalece sobre as leis de trânsito

"Mesmo frio e garoando, "seu" Farid abriu a janela do carro e colocou a cabeça para fora. Parecia até um maquinista de trem."

chevrolet monza hatch 6
Por Douglas Mendonça
Publicado em 23/09/2019 às 19h30

Esse “causo” chega a ser dramático, e o desespero do desenrolar dos fatos colocaram em apuros nosso personagem libanês. Ele passou poucas e boas em uma tarde de domingo, em julho em meados dos anos 80. Fazia frio e garoava, em uma típica tarde paulistana de inverno.

Para comemorar o final do curso e a graduação como piloto profissional de aviação do amigo Goar Odyxe Duarte Neto, uma turma se reuniu para um churrasco de confraternização entre os formandos.

Goar foi ao tal churrasco com mais quatro amigos, sendo três formandos como ele e o pai de um deles, o simpático e alegre libanês Farid Fuad. Os cinco foram ao evento comemorativo na cidade vizinha a São Paulo, Mogi das Cruzes, em um Monza Hatch novinho que o libanês havia presenteado ao filho Mansur, um dos recém-formados com Goar.

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A versão hatch de duas portas é uma exclusividade do Brasil

Era um dia de domingo bastante festivo e feliz para todos. Mas, como é comum nessas ocasiões, a alegria dos participantes algumas vezes excede o bom senso.

Depois de comer muita carne engordurada, caprichar na dose de maionese e comer bolo com bastante chantilly, Farid, no final, ainda encheu a cara de chocolate que era servido como sobremesa e, para completar, como saideira, o libanês abusou do chimarrão. Depois de tudo que havia comido, ainda fechou a conta com chocolate em barra e a água quente do chimarrão… O resultado final colocaria o libanês Farid em apuros.

Libanês em silêncio

Na viagem de volta, seu filho Mansur dirigia o Monza, e o seu Farid, feliz naquele final de dia, estava falante e cheio de contar piadas. Nosso relator Goar estranhou quando seu Farid se calou.

Os três caronas no banco traseiro no Monza acharam esquisito o repentino silêncio do libanês e pensaram até que poderiam ter ofendido seu Farid em algum comentário sem perceber. Mas a realidade não era bem essa. Toda aquela comilança do domingo começava a se manifestar.

Mesmo frio e garoando, “seu” Farid abriu a janela do carro e colocou a cabeça para fora. Parecia até um maquinista de trem. Os caronas e o filho Mansur começaram a achar as atitudes do libanês cada vez mais esquisitas. Quando entraram na marginal Tietê, já em São Paulo, seu Farid disse ao filho em arrastado sotaque árabe: “Vai para escritório, Mansur”!

Seu Farid tinha um próspero escritório de contabilidade na avenida Cásper Libero, e a grande maioria de seus clientes eram patrícios libaneses que tinham lojas de comércio de roupas na região do Bom Retiro, não muito distante de seu escritório no centro velho de São Paulo.

O filho estranhou ainda mais o pedido do pai: “Fazer o que no escritório, pai? Hoje é domingo, não tem ninguém lá trabalhando; porque não vamos para casa”?

Seu Farid, em tom alterado e em volume mais alto, bradou: “Vai pra escritório, Mansur, e não discute com seu pai”!

Mansur, obediente aos desejos do pai, não perguntou mais nada e rumou para o escritório, no centro, que era bem mais próximo do que a casa do libanês, que ficava na região de Higienópolis, em São Paulo.

“Passa farol, Mansur”

Vindo pela marginal Tietê, Mansur pegou a avenida Tiradentes, rumando diretamente ao centro, segundo os desejos de seu pai. Logo no início da avenida, um semáforo de pedestre obrigou o Monza a parar. Naquela tarde fria e de garoa, não havia ninguém para atravessar, mas o sinal obrigava a parada obrigatória.

Impaciente, seu Farid falou em tom alto:”Passa farol, Mansur”! No que foi imediatamente rechaçado pelo filho: “Pai, o farol está fechado e assim vou ser multado”!

Seu Farid não teve dúvidas: “Passa farol, Mansur, eu paga multa”! Diante de um pedido tão firme, Mansur passou o farol, fechado e seguiu rumo ao escritório, mas respeitando o limite de velocidade da avenida. Mas o libanês interveio: “Corre, Mansur, eu ‘precisa’ chegar rápido na escritório”!

O filho tentou argumentar: “Vamos ser multados por excesso de velocidade”! E seu Farid, já suando frio na testa, pediu para o filho chegar rápido a porta do prédio onde ficava seu escritório.

A coisa já estava dramática, e seu Farid com a cabeça para fora da janela, mesmo tomando chuva e vento frio, não bastavam para resolver o seu problema de extrema urgência.

Finalmente chegaram à porta do tal prédio. O carro nem havia parado e seu Farid já abria a porta, em claro desespero de causa. Contam os presentes que ele deu apenas o primeiro passo tentando uma corrida a escadaria do prédio, mas já no segundo passo, eles ficaram curtinhos como os de uma japonesa usando um apertado quimono.

Ele subiu a escadaria do prédio com o filho e os caronistas assistindo de dentro do Monza, em passinhos curtos e demorados. A situação já estava fora de controle.

Lavou, tá novo!

Depois de uma demora de cerca de 20 minutos, Farid Fuad voltou ao carro com outro semblante, novamente feliz e sorridente. Tudo aquilo que afligia o seu bem-estar havia sido eliminado. Mas, claro, estamos falando de um árabe que não desperdiça absolutamente nada. Em condições normais, qualquer pessoa exposta a essa situação teria se livrado da cueca, jogando-a fora por tudo que a coitada tinha passado. Mas seu Farid, não!

Ele lavou e salvou a coitada da lata de lixo. Voltou feliz, sorridente e com pequeno saco plástico na mão, que tinha em seu interior a coitadinha lavada, mas ainda molhada, que seria levada para casa para ser seca e voltar a uso. Pelejas da vida que ficam em nossa memória, hoje como histórias engraçadas de boas gargalhadas.

Meu amigo Goar? Trabalhou muitos anos como comandante na Varig, primeiro em voos nacionais e, depois, em voos internacionais. Se você usa muito viagens aéreas, há uma boa chance de ter voado com o comandante Goar, que trabalhou também durante muitos anos na Embraer, fazendo entregas técnicas de novos aparelhos da marca em todos os cantos desse nosso mundão de Deus.

Um cara divertidíssimo que, infelizmente, não encontro há décadas. Coisas da vida!

Foto Chevrolet | Divulgação

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2 Comentários
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Ronaldo 17 de junho de 2020

Ri alto aqui, Douglas! Imagino a cena. Afinal, quem nunca teve dor de barriga dirigindo ou de passageiro, que atire a primeira pedra!

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Goar 26 de setembro de 2019

Pelamordedeus! Douglas, vc e o Junior se lembram muito melhor do que eu mesmo!………rsdsssssssss. Obrigado pela recordação e um forte abraço

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