Vender carro novo é bom, mas consertar carro usado é bem melhor

Com aquisição da DPaschoal, Stellantis passa a concorrer com a GM, dona da ACDelco no mercado de manutenção e peças, mas elas não estão sozinhas

Centro Automotivo ACDelco
Rede ACDelco colocou a GM no mercado de serviços e peças multimarcas (Foto: GM | Divulgação)
Por Marcelo Jabulas
Publicado em 24/04/2024 às 19h03

Fabricar carro está cada vez mais caro. Equipamentos de segurança mais modernos, restrições de emissões e eletrificação impactam no custo de produção e diretamente no preço final.

E com isso, a indústria passou a apostar em modelos mais sofisticados e, consequentemente, cobrar mais por isso. Uma das apostas foi reduzir o volume e oferecer modelos mais caros. Em tese significa aumentar a rentabilidade unitária. Foi o que a Renault fez com o Kardian, assim como Fiat e Chevrolet fizeram com Pulse, Fastback, Montana e Tracker.

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No entanto, vender carros mais caros e com volumes menores definitivamente não é a salvação da lavoura. Duas gigantes da indústria decidiram colocar seus ovos em cestas diversificadas: uma delas é o mercado de autopeças e manutenção.

Em janeiro a Stellantis (grupo que controla no Brasil as marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Abarth e Ram) anunciou a aquisição de 70% da rede DPaschoal, uma das principais franquias de manutenção e autopeças. A manobra segue o mesmo caminho da General Motors, que lançou centros automotivos ACDelco (sua marca centenária de peças e serviços).

Mercado bilionário

Stellantis e GM querem se tornar os principais atores num mercado com mais de 40 milhões de automóveis. E faz todo sentido, o carro novo gera receita apenas na hora da venda. Já o setor de serviços movimenta dinheiro durante toda a vida útil do automóvel.

E o diretor Comercial de Pós-Vendas da General Motors, Luis Felipe Teixeira, é bastante enfático. “A estratégia do centro automotivo ACDelco é oferecer um serviço de qualidade, com uma boa relação de custo-benefício, para clientes que não frequentam mais as concessionárias e que precisam fazer a manutenção de seus veículos”.

Ou seja, ao invés de deixar o cliente buscar serviços em oficinas e lojas de peças espalhadas pelo país afora, a GM quer manter esse público fidelizado em suas unidades ACDelco. E a Stellantis quer o mesmo.

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Gigante entre as empresas de autopeças e serviços, DPaschoal é a aposta da Stellantis para abocanhar mercado de manutenção (Foto: DPaschoal | Divulgação)

Segundo o vice-presidente de Peças e Serviços para a América do Sul da Stellantis, Paulo Solti, a compra da participação majoritária está dentro do plano estratégico do grupo. A Stellantis hoje lidera o mercado brasileiro e latino na venda de carros novos, mas o grupo também quer o protagonismo no setor de serviços.

“Com a aquisição da DPaschoal, a Stellantis amplia sua participação no negócio de pós-vendas e serviços multimarcas no mercado brasileiro, conforme seu objetivo de expansão regional. E, com a aquisição da Norauto, na Argentina, a Stellantis passa a ser o maior distribuidor de autopeças da América do Sul”, afirma Solti.

Com DPaschoal e ACDelco, Stellantis e GM querem ocupar uma lacuna que existe entre a autorizada da concessionária e a oficina de bairro. “A DPaschoal recebe em suas lojas veículos com mais tempo de uso, o que diferencia claramente os escopos de atuação. Já para o atendimento a clientes que possuem veículos mais novos, temos outras opções que irão garantir que suas necessidades de mobilidade sejam atendidas de forma segura, acessível e sustentável. O objetivo de ampliar essas operações é fortalecer a capacidade para responder às demandas mais complexas de todos os perfis de consumidores”, explica o executivo da Stellantis.

Gigante francês

Mas não são apenas as gigantes da indústria que estão de olho nessa lacuna. A Point S, empresa francesa que atua no ramo de serviços automotivos há mais de 50 anos, também acaba de aportar em terras tupiniquins. De acordo com o diretor geral da Point S, Marcos Moretta, há um grande filão a ser explorado no Brasil.

“Hoje há uma grande lacuna entre os serviços oferecidos pelas concessionárias, em geral com altos preços, locais distantes e serviços demorados, e pelas oficinas mecânicas em geral, com baixa expertise técnica, ambiente não agradável, principalmente para as mulheres, e muita desconfiança. Nossa proposta é oferecer um local próximo, com preços justos e competitivos, com um ambiente de respeito e empatia onde o cliente se sinta seguro”, pontua.

O plano da Point S para o Brasil é ambicioso. A empresa irá investir R$ 175 milhões para expandir sua rede, que atualmente conta com quatro unidades, para 250 lojas nos próximos cinco anos.

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Com mais de 6 mil pontos de vendas, Point S é líder global em serviços automotivos (Foto: Point S | Divulgação)

Para cativar a clientela, tanto DPaschoal, como ACDelco e Point S apostam em seus lastros financeiros, capilaridade de suas redes de atendimento e mão de obra qualificada. Para o diretor Comercial de Pós-Vendas da GM, Luis Felipe Teixeira, oferecer aos proprietários de carros usados peças originais e um time treinado é obrigação. Mas é preciso ir além. “Tudo a preço competitivo em relação ao mercado de reparação independente”.

Para Solti, da Stellantis, ampliar o “guarda-chuvas” para além da rede autorizada foi crucial para compra da participação da DPaschoal. “Com a Dpaschoal, vamos aumentar nossa capilaridade na região e nossa participação no negócio de pós-vendas e serviços multimarcas no mercado brasileiro, conforme nosso objetivo de expansão regional”, explica.

E diante dos dois concorrentes, Moretta não se sente intimidado. “Somos a maior rede de Centros Automotivos do mundo com mais de 6,2 mil lojas em 52 países. Por exemplo, no ano passado nossa rede adquiriu mais de 20 milhões de pneus. Com isso, você pode imaginar o nosso poder de negociação com os fabricantes de pneus, lubrificantes e autopeças. Então, se no país há alguém que possa competir com esses grandes players, somos nós”, garante.

Seja como for, Stellantis e General Motors deixam claro que apenas fabricar não é suficiente para nenhum grupo automotivo. A venda de serviços é um fundamental em suas estratégias. E como sugere a Point S, o Brasil é um terreno fertil para venda de serviços e autopeças.

“É notório que produzir veículos não é um negócio lucrativo. As montadoras, portanto, buscam novos modelos de negócios para aumentar seus lucros. Quando comecei a trabalhar no mercado automotivo, há 30 anos, a proporção no Brasil era de 10 habitantes por veículo. Hoje já é de 3 por um, ou seja, nossa frota cresce de forma rápida. Com a pandemia houve um fator adicional que foi a valorização do carro usado. Assim, o mercado de reparação ganha cada vez mais importância e sofisticação. Os carros se modernizam e o ticket médio da reparação também sobe”, analisa Moretta.

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