Se emoções não fossem bom negócio, Roberto Carlos nem cantaria

O saudosismo dos carros mais velhos são alimentados por emoções, que tendem a apagar as limitações técnicas dos veteranos e enaltecer as lembranças

detalhe para choque farol e capo de fusca prata
Quem não se derrete com a carinha simpática de um Fusquinha? (Foto: Shutterstock)
Por Felipe Boutros
Por Marcelo Jabulas
Publicado em 02/10/2022 às 09h03

Aqui no AutoPapo como em qualquer outro portal ou canal de automóveis, invariavelmente lemos comentários que compraram os carros de outrora com os de agora. E na esmagadora maioria dos casos, as máquinas do passado sempre são colocadas como melhores referências em tudo.

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“Bom era o Opala do meu pai! Andava muito”, ou, “Motor bom é AP e não essas porcarias faltando cilindro”, exclamam com veemência. Não há dúvida de que o Opala foi um marco na indústria brasileira, assim como o motor AP é ícone da engenharia.

Eu mesmo sou testemunha ocular disso. Um tio meu levou mais de 20 anos para desmanchar sua Caravan, que ele chamava de “Caravana”. Ele sempre teve ferrugem nos dedos e oxidava qualquer automóvel. Mas com a Caravan foram duas décadas. Acredito que ela mesmo tenha morrido de tétano.

chevrolet caravan vermelha ss 1978 frente
Quem me dera se a “Caravana” do tio fosse nesse estado (Foto: Shutterstock)

Com o AP, sou ainda mais enfático. Tive um Gol G3, que até hoje morro de saudades. Nunca gostei tanto de um carro como ele. E tenho um vizinho que tem um igualzinho com mais de 200 mil km rodados e nunca refugou.

Mas fato é que não se pode negligenciar o avanço da tecnologia. Um carro moderno é mais seguro e eficiente que a Caravan podre do tio, assim como meu velho Golzinho.

Freios ABS, controles de estabilidade e tração, Isofix, airbags frontais e laterais são a diferença entre o susto e a sepultura. Isso sem falar em tecnologias de assistência à condução, o ADAs.

Recentemente fui salvo de uma porrada na Cidade do México, graças à frenagem automática de emergência, numa fração de segundo que me distraí com uma gigantesca bandeira mexicana à frente da autoestrada. Para um acidente acontecer, basta um breve descuido.

São tantas emoções

Mas há uma explicação pela preferência ao antigo. Foram nos carros de ontem que vivemos bons momentos. E com o passar do tempo a gente tende a romantizar e amplificar as lembranças. Aquele passeio com os pais, no chiqueirinho do Fusca. Ou aquele rolê para a praia na Elba do padrinho. São momentos felizes, carregados de emoções, como diria o Rei.

A gente não se lembra do cabo do acelerador que partia, do carburador entupido, e muito menos quando o radiador fervia. Mas só da algazarra a bordo. E é essa seleção de sentimentos que nos leva a sempre dar mais valor aos velhinhos.

Eu mesmo me vi tentado nessa onda. Um amigo comprou um Fusca. Um projeto! Ele queria brincar de Gas Monkey Garage e me levou para ver o carro. O Fufu estava bacaninha, com podres, como é de praxe. Fusca sem podre não é Fusca, vamos combinar.

Na hora me voltou a lembrança de meus dois Fusquinhas: Um 81 e outro 76. Foram neles que iniciei minha vida motorizada. Dava rolê com a namorada, sem me preocupar com em mofar no ponto de ônibus  ou chorar carona.

Era o máximo, com uma fitinha do Jorge Ben de um lado e Tim Maia do outro, a vida estava resolvida. E aí veio o capetinha do ombro: Será? Um Fufu? Um “fitinho”? Parati quadrada, ou Chevette tubarão? Mas foi dar uma volta para me lembrar dos perrengues daqueles Fusquinhas.

Panes elétricas, rotor bichado, fechadura que não trancava, chapéu de napoleão quebrado, porta que abria nas curvas, calor infernal no verão, frio desgraçado no inverno e aquela cena embaçada de “Titanic” quando chovia, mas sem o melhor da festa (se é que você me entende). Sem falar do episódio em que o burrinho de freio estourou e quase parei dentro de um recém lançado Golf “sapão”.

A lembrança é gostosa, e dá aquela vontade de comprar uma lasanha para fazer um “projeto”. Mas ainda bem que vontade é igual coceira e passa logo.

Pois quem vive de emoções, é o Roberto Carlos e o dono de funilaria, que atualmente cobra mais caro que o cachê do rei!

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1 Comentário
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Marcello 2 de outubro de 2022

Pois é, isso depende de cada pessoa. Por exemplo, procure escrever esta coluna em um PC-XT de 1980, com 4,77MHz de velocidade e 512KB de memória, gravando em um disquete de 360KB de capacidade, usando MS-DOS e Wordstar, para reverenciar os bons tempos da informática também…

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