Enduro: mais tempo no joystick do que diante do volante

Na primeira vez que joguei um videogame foi em 1983 e foi com um game de corrida que completa 40 anos em fevereiro

game enduro activision 1983 atari 2600 capa e cartucho
Capa de "Enduro" trazia uma ilustração de um Lancia Stratos (Foto: Internet)
Por Marcelo Jabulas
Publicado em 15/01/2023 às 11h03

Quando a gente envelhece, começa a elencar fatos da memória. E lembro como se fosse ontem a primeira vez que joguei um videogame. Foi em 1983, um Atari 2600. O console era do meu vizinho, o irmão da minha coleguinha Renata, no prédio da rua Pitangui, em Belo Horizonte. E o primeiro jogo foi “Enduro”.

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Certamente, ao longo de meus quatro anos, meu desempenho foi o esperado para um menino… de quatro anos. Mas o Peleco, irmão da Renata, foi muito paciente em me mostrar como jogava naquele joystick de um botão e um canudo no centro. Rolou “Asteroides”, “Pac-Man”, mas eu queria jogar o do carrinho.

Foi paixão à primeira vista. Depois daquele dia, eu fiquei obcecado por aquele Atari e por “Enduro”. Descobri que dois primos também tinham aquele brinquedo de ligar na TV. O Lu e o Marcos. Assim, sempre que era levado à casa deles, esperneava para jogar no Atari.

Meu pai era irredutível, pois acreditava que aquele troço iria danificar nossa “moderna” Philco Ford de 17 polegadas. Mas minhas tias entoaram um coro, engrossado por minha madrinha, minha avó e claro, meus primos que já estavam fulos por eu ficar pedindo para jogar.

Demorou três intermináveis anos para meu pai comprar um Atari 2600, Polyvox. Era o modelo original, licenciado pela gigante norte-americana fundada por Nolan Bushnell (que tive a oportunidade de entrevistar). O console vinha com o cartucho de “Enduro”. Eu fiquei fera naquele jogo, nas partes de dia, noite, neblina, neve, madrugada. Dia 1, dia 2, dia 3, dia 4 e dia 5.

Para virar o dia, é preciso ultrapassar 200 carros (dia 1) e 300 nos seguintes, antes do amanhecer. Realmente é um jogo de resistência como num enduro de verdade. É um game sádico, a cada batida o jogador é ultrapassado por inúmeros carrinhos.

E a cada dia, a velocidade deles aumenta consideravelmente. Nunca cheguei no dia 6. Recentemente tentei quebrar meu recorde num emulador. Fui honesto, não salvei progresso para recarregar caso cometesse um erro. Horas de esforço em vão.

Os piores trechos do jogo são nos momentos de neve e neblina. Com a pista coberta de gelo, o carro escorrega demais e com pouca visibilidade, o jogador só enxerga metade da tela. Nesses momentos, vale a pena ir mais devagar para evitar contato, como na vida real.

Lembro de histórias sobre o “final” de “Enduro”. Todo mundo conhecia um cara que conhecia outro que tinha chegado ao final. Anos depois descobri que o jogo chega ao fim quando o ao score vai ao máximo de 999.999 pontos. O “hodômetro” zera e o jogo é reiniciado. Foi mais uma daquelas verdades inexoráveis que despedaçam nossas convicções, como nossa rara beleza, enxergada apenas por nossas mães.

40 anos de Enduro

“Enduro” chegou ao mercado em 1º de fevereiro de 1983. Naquela época os games eram tocados por times minúsculos, muitas vezes por um único programador. “Enduro” foi desenvolvido pelo designer Larry Miller, que era da equipe da Activision.

O game utiliza um sistema de ilusão ótica em que a pista e demais carros se moviam em direção ao carro do jogador dando a impressão que o bólido corria por uma estrada, da mesma forma que vemos ao olhar para a estrada pelo para-brisas.

game enduro activision 1983 atari 2600
Simples e genial, as depressões nas bordas e os demais carrinhos criavam ilusão de movimento (Foto: Activision | Divulgação)

Os comandos eram mais que simples: esterçar para a esquerda ou para a direita. O botão vermelho funcionava como acelerador. Para frear, bastava aliviar o pé.

Para promover o jogo, a Activision criou uma competição em que jogadores que mandassem fotos de suas pontuações. Os melhores resultados concorriam a carros como os Nissan 280ZX e 200ZX, assim como viagens, carrinhos de controle remoto, cartuchos e posters do esportivo japonês.

Não demorou para “Enduro” se tornar um sucesso e foi considerado o melhor game de 1984. O game passou a integrar o pacote do console em vários mercados, como o Brasil. Até hoje, quando se fala em Atari, muita gente se recorda de “Enduro”, ao lado de “River Raid”, “Pac-Man” e “Pitfall”.

O formato consolidado por “Enduro” foi replicado por anos em diversas gerações de games de corrida. Jogos clássicos como “Out Run”, “Grand Prix”, “Top Gear” e muitos outros utilizaram essa estrutura de a pista e elementos se moverem em direção ao carrinho na base da tela.

Valeu “Enduro” por me tornar um piloto de joystick muitos anos antes de me tornar motorista.

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