Montadoras paradas: e o preço dos carros usados, vai subir?

Especialistas analisaram o como deve ficar o mercado de carros usados no Brasil depois do anuncio de paralisação de algumas fábricas no país

shutterstock patio de carros usados seminovos visto de cima
Mercado de usados pode ser impactado de forma negativa nessa processo (Foto: Shutterstock)
Por Bernardo Castro
Publicado em 31/03/2023 às 15h02
Atualizado em 22/08/2023 às 13h44

Nas últimas semanas, cinco montadoras se viram obrigadas a paralisar a sua produção de veículos no Brasil e dar férias coletivas aos funcionários, alegando falta de componentes eletrônicos para equipar os novos modelos, Mas a verdade é que a demanda pelo carro 0 km diminuiu em 2023.

Na última vez que houve uma pausa na produção, foi durante a pandemia, quando começou a faltar carro novo no mercado, e as pessoas precisaram recorrer a modelos seminovos e usados, que registraram uma alta de 25%. Mas o cenário agora é um pouco diferente.

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Para deixar a situação um pouco mais clara o AutoPapo conversou com Enilson Sales, Presidente da Fenauto, e Glênio Junior, presidente da associação das revendedoras de carro usados de Minas Gerais. E, antes de falar propriamente do impacto no mercado, é preciso entender o contexto que o Brasil está inserido, explicado por Sales:

  • O Brasil tem uma carga tributária altíssima e, para pagar os impostos da maneira correta e mantendo lucro considerável no seu negócio, as montadoras precisaram recorrer a carros mais sofisticados e caros, que deixam uma rentabilidade maior.
  • A população de classe baixa tem um poder de compra cada vez menor, e não tem condições de comprar esses veículos sofisticados. Uma saída seria os modelos de entrada, mas eles estão cada vez menos em oferta. 
  • Com isso, a demanda diminui, as concessionárias não têm linha de crédito para colocar o carro no salão de vendas, e a indústria brasileira trava.
  • Essa culpa pode ser atribuída ao governo, que cobra juros altos, os bancos que não liberam o crédito por causa da inadimplência e incerteza econômica, e às montadoras, que só oferecem carros de alto padrão para aumentar a margem de lucro.

Como a paralisação das montadoras afeta o mercado de carros usados

De acordo com Glenio, nos dois primeiros meses de 2023 o mercado de usados teve um crescimento de 21% em Minas Gerais, e 30% em BH, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Os números do primeiro trimestre – que ainda não foi divulgado – não deve variar muito, considerando que as paralisações começaram em março.

Além disso, Junior aponta que a mudança não deve ser muito significativa, pois as montadoras deram uma pausa de aproximadamente 30 dias, enquanto o estoque no pátio tem ‘suprimento’ para 42 dias.

Essas férias coletivas não devem atrapalhar, já que o estoque médio dessas montadoras no pátio é um período de 42 dias, então não vai falta carro [novo] no mercado.

Sendo objetivo ela não afeta diretamente a venda de usados e seminovos, em um primeiro momento. A tendência também é que o preço do seminovo continue baixando, mas de forma quase inexpressiva. Para 2023 a probabilidade de crescimento do segmento é de em torno de 5% em relação ao ano passado.

Mas Enilson Sales aponta que em um período de 2 a 3 anos essa situação pode ser tornar um problema. Com o mercado continuando a oferecer apenas modelos mais caros, o consumidor comum vai seguir optando pela escolha de um seminovo, até o momento que não vai mais existir oferta de modelos usados.

A curto prazo é bom para o segmento de seminovos, no longo prazo não. Por enquanto, vemos montadoras entregando modelos que o consumidor pede, e, quando a procura não é atendida, o comprador recorre a um carro de 2019 a 2021. Isso faz a cadeia de usados rodar mais rápido, como vemos hoje, e eles vendem num ritmo razoável.

Esse mercado ainda não tem perspectiva de baixa de preço, porque continua pressionado pela falta do 0 km. Para quem comercializa esse tipo de veículo é ótimo, mas uma hora a conta vai chegar, porque não existe fábrica de carro usado.

Em 2024/2025, quem procurar um modelo 2020 ou 2021 vai ter dificuldade de encontrar, porque foi quando começou a paralisação na produção por causa da pandemia, e agora enfrentamos essa nova baixa na produção. Com isso, fica uma buraco de 4 anos de veículos seminovos que vai impactar negativamente no mercado no futuro.

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8 Comentários
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Walter Cynbaluk 26 de junho de 2023

Uma superpopulação de carros e de motos só vem a dificultar a vida nos grandes centros. O ideal seria que os governos se preocupassem mais em investir em transporte público de qualidade.

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Adalberto Nogueira Barbosa 7 de abril de 2023

Com as localizas da vida vendendo seminovos diariamente, o que não vai faltar é seminovo no mercado.

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Vando 4 de abril de 2023

O meu voto é que os pátios das montadoras fiquem lotados, porque pensam que o povo é trouxa de pagar quase 100 mil em um carro popular

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Santiago 1 de abril de 2023

Não. Porquê já subiram bastante, no mesmo embalo da alta especulativa puxada pelos zero Kms. Se subir ainda mais, não vende.

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Jo 1 de abril de 2023

Não há espaço pra subir mais, já estão absurdamente caros. Eu tenho dois usados em bom estado de conservação e com manutenção em dia. Porém não tenho interesse em vender, independente do preço. Acho que nunca mais vou comprar ZERO km, não vale a pena e isso não me trará mais felicidade

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Polvo 31 de março de 2023

Carro para as massas novamente. Porém para isso acontecer, teria que ter incentivo do governo, com alíquota de impostos reduzida para modelos compactos e pelados, assim como eram os populares da década de 90. Seriam carroças? Sim, porém ajudaria aquecer o setor e tornaria o acesso ao carro 0Km mais democrático, principalmente em tempos de recessão, inflação e salários baixos.

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Waslon 2 de abril de 2023

A Agenda 2030 não quer o povo andando de carro próprio. Querem vê-lo igual a sardinha enlatada.

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Polvo 3 de abril de 2023

Sim, por isso que aqui na Grande SP a maioria estão comprando motos, para fugir da superlotação no transporte público. Como pouca gente consegue comprar um carro, a moto virou uma opção acessível, porém insegura.

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