Motorista em picape sem ESC morre ao desviar de cachorro

Brasileiro despreza controle de estabilidade “pois não ando como louco na estrada”. Mas pode capotar a menos de 70 km/h

acidente quesia
Fiat Strada de Quésia Berger Amaral: perdeu o controle ao desviar de um cachorro (Foto: Reprpdução)
Por Boris Feldman
Publicado em 27/02/2021 às 08h03

O título da notícia veiculada semana passada não tinha o “sem ESC”. Eu o acrescentei para enfatizar que centenas de acidentes de trânsito no Brasil poderiam ter sido evitados pelos equipamentos de segurança.

ESC são as iniciais (em inglês) de Sistema Eletrônico de Estabilidade. Dizem os especialistas ser o segundo mais importante dispositivo de segurança veicular depois do cinto.

Brasileiro não se preocupa com estes equipamentos pois “acidente só acontece com os outros”. Uma vez, quando explicava o ESC para um motorista, ouvi: “Para mim é jogar dinheiro no lixo, pois só precisam dele os que saem acelerando como loucos no asfalto”.

Manobra brusca

A notícia: “Uma mulher de 25 anos morreu depois de perder o controle da picape que dirigia e capotar na rodovia MT-170 a cerca de 900 km de Cuiabá”. Era Quésia Berger Amaral, morava em Rondônia, tinha duas filhas e dirigia um Fiat Strada. No asfalto, um cachorro morto indicava que ela tentou se desviar dele ainda vivo ou já estirado na pista.

Existe um teste que simula exatamente essa situação, o “Teste do Alce”. Assim chamado depois que reprovou, em 1997, o Mercedes Classe A testado por uma revista na Suécia, onde é comum alces atravessando a rodovia.

VEJA TAMBÉM:

Cones na pista obrigam o motorista a se desviar para a faixa da esquerda e voltar rapidamente para a direita a uma velocidade de 68 km/h. A Mercedes, depois do teste, fez um recall do Classe A (o mesmo também fabricado em Juiz de Fora) para equipá-lo com o ESC.

O “Teste do Alce” prova que o equipamento não é necessário apenas em curvas mas também em linha reta e em velocidade moderada. Se surge um animal, buraco ou outro automóvel, o motorista é obrigado a virar bruscamente o volante em sequencia para os dois lados. Sem o ESC, a probabilidade de um acidente é elevada.

Segurança, só no imaginário

Infelizmente, todas as evidências indicam que segurança veicular só existe no imaginário do brasileiro. Prova disso é que a Bosch, fabricante de equipamentos eletrônicos de segurança em todo o mundo, fez uma pesquisa no Brasil entre proprietários de veículos. A maioria disse se preocupar com eles ao adquirir um carro.

Mas, segundo a Bosch, a preocupação não vai além do momento da pesquisa, pois fez uma outra em concessionárias. Para ouvir dos vendedores e gerentes ser fato raro alguém se preocupar com equipamentos de segurança ao adquirir um novo ou usado.

A obrigatoriedade do ESC no Brasil seria em 2022, mas foi adiada para 2024 pois os fabricantes alegaram atrasos – pela pandemia – no desenvolvimento dos projetos.

Ele já é obrigatório há tempos em outros países. Aqui, existe na maioria dos modelos maiores e mais sofisticados e em alguns compactos. Mas nem todos os SUVs o oferecem como equipamento padrão, apesar de serem, por seu peso e altura, os mais sujeitos a escorregar ou capotar numa manobra brusca.

Como funciona o controle de estabilidade?

O controle de estabilidade percebe, através de sensores, a tendência do carro a escorregar a traseira ou capotar em duas situações:

  1. Nas curvas mais fechadas da estrada, em velocidades elevadas;
  2.  Nas manobras bruscas do motorista para se safar de um obstáculo na pista, mesmo em velocidades moderadas.

O sistema eletrônico evita então o acidente, aplicando estrategicamente o freio em determinadas rodas.

Não se pode afirmar que o ESC seja um “santo remédio” pois é impossível ignorar as leis da física. Se o motorista for irresponsável e exceder exageradamente a velocidade adequada para a curva ou na manobra brusca, equipamento algum será capaz de evitar o acidente.

Aliás, o perigo é que alguns pensam que estes dispositivos são milagrosos e que tornam o carro à prova de qualquer estupidez ao volante. Ledo engano….

É possível afirmar que a Quésia não teria deixado duas filhas órfãs se sua picape estivesse equipada com o ESC?

Claro que não, mas as chances seriam enormes, a julgar pelas pesquisas e estatísticas dos principais institutos de segurança do mundo. Todas sinalizam que a grande maioria de acidentes fatais como este teriam sido evitados com a interferência dos sistemas eletrônicos.

Mas não são necessários no Brasil, onde “acidente só acontece com os outros”.

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26 Comentários
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PEdro 7 de junho de 2021

Nunca havia escutado falar desse equipamento, na verdade nem sabia que existia. Conhecia apenas o ABS.

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Pedro 7 de junho de 2021

Pesquisando, vi que custaria em torno de 200,00 a mais para a montadora

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nei ribeiro 29 de maio de 2021

Tem uns idiotas nas estradas,mesmo vc estando a 110,,,o mané quer te ultrapassar e ainda acelera com vontade fazendo barulho,,,,, pra depois la na frente ficar atraz de uma carreta a 50km…Imagina se precisar fazer uma manobra dessas direpente!Tá morto.!

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Roberto 4 de março de 2021

Boa tarde excelente comentário, infelizmente aqui em Minas não é como São Paulo, as rodovias sempre uma via para ir e outra para voltar, os mineiros estão sempre acima do limite , não adianta você ter este opcional se o condutor não fizer a parte dele ., não é a toa que Minas é o campeão em acidentes, uma Boa tarde

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bruno alves vasconcelos 2 de março de 2021

EXCELENTE! Sem falar da CHUVA que tira muito da aderencia e estabilidade do carro… o ESC É ESSENCIAL e devia ser obrigatorio assim como os 6 airbags e luzes de ponto cego nos retrovisores que alertam sobre motociclistas ao lado e atras… triste miseria do Brasil e um governo que não é Especialista em NADA só roubar!

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Sir.Alves 2 de março de 2021

Provavelmente estava sem cinto de seguranca… Nao adianta controle de estabilidade, air-bags e etc desse jeito… Precisam implementar o sensor de afivelamento correto do cinto… Ou seja, so dah partida no motor se o cinto afivelado e afivelado no corpo e nao no banco. Cantor sertanejo ja morreu em land rover de trocentos airbags e controles… Mas estavam sem cinto…

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Alves 28 de fevereiro de 2021

… Outra tecnologia importante eh o aviso de nao afivelamento do cinto de seguranca ou afivelamento errado so no banco e o carro na dah partida enquanto o correto nao for feito… Incrivel, mas ainda isso, gente que nao usa o cinto. O povo prefere central multimedia e farol led… Controle de estabilidade eh surpefuo…

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Rinaldo 28 de fevereiro de 2021

Andar nas rodovias está assustador. Os motoristas que vão na frente, vão pela pista esquerda devagar. Se você está na esquerda, quem vem atrás fica te empurrando, e se te passar pela direita, ainda dá uma fechada. Não tem paciência de aguardar você concluir as ultrapassagens. Verdadeiros criminosos. Vai morrer muita gente nesse país de ignorantes.

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Antonio Bonilha Neto 28 de fevereiro de 2021

Concordo plenamente

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arai 4 de março de 2021

Fora aqueles que aumentam velocidade quando vê que está sendo ultrapassado (mesmo tendo andado tempo devagar o tempo todo).

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Leitor 27 de fevereiro de 2021

O Brasil é uma piada ñ é de hoje…
Carros com poucos itens de segurança a preços superfaturados com impostos e lucros abusivos e extorsivos

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Lucas 27 de fevereiro de 2021

Tem gente que com a graça de Deus nunca passou por uma situação de imprevisto na estrada, acaba escrevendo idiotices para se engrandecer.

Certa vez em uma estrada no meio da chuva, uma carreta derrubou uma carga de cimento, à noite, logo após o fim da subida… Uma combinação perigosa e escorregadia!
Eu estava a 80 Km/h quando deixei de sentir o chão, como se não bastasse, a carreta estava parada, no meio da BR, com luzes desligadas e sem sinalização. O que qualquer motorista faz? Pisa no freio, mas a pista está escorregadia pelo cimento: resultado é uma perda de direção.

Naquele momento, o carro escorregou para a pista contrária e ia de encontro com uma carreta, mas na segunda tentativa de pisar no freio o ESP e o detector de mudança de faixa foram ativados e os freios trabalharam de forma a devolver o carro para a pista de rolamento, houve colisão: a carreta estourou meu pneu dianteiro esquerdo, e destruiu o paralamas e a porta do motorista, meu carro arrancou uma das rodas da carreta antes de parar do lado de fora da pista.

Nenhum dos ocupantes teve ferimentos, o motorista não guiava feito um louco e sabe muito bem que em uma situação como essa, não há correção no volante, direção defensiva, conselhos paternos que resolvam.

A tecnologia atua para salvar vidas e as vidas minhas e da minha família continuam existindo graças à opção que fiz por gastar muito mais, mas ter um carro com tecnologia a serviço da vida.

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Assis 27 de fevereiro de 2021

Pela foto da cabine da Strada não houve danos estruturais que pudessem provocar a morte. Ela provavelmente estava sem o cinto de segurança e foi lançada contra a estrutura do habitáculo, ou mesmo para fora do veículo, causando traumatismo craniano e servical fatais, algo muito comum em capotamentos sem o uso do cinto. Infelizmente esse é outro péssimo hábito do brasileiro, não utilizar o cinto, ou usá-lo da forma errada, especialmente em crianças e no banco de trás, as maiores vítimas fatais da negligência do motorista. O ESC/ESP deveria ser obrigatório pelo menos desde 2013, junto com o ABS e o Airbag, mas as montadoras fazem lobby contrário para não reduzirem suas margens de lucro e o consumidor aceita passivamente.

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Valter 27 de fevereiro de 2021

Observando a estrutura da cabine, que parece não ter sofrido grandes danos, dá para acreditar que o problema não foi a falta do controle de estabilidade. Ela devia estar dirigindo sem o cinto de segurança. O carro sofreu poucos danos.

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Lucas 27 de fevereiro de 2021

E isso justifica exatamente o artigo do Fieldman: Se o carro tivesse ESP, provavelmente sequer teria se acidentado

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Sir.alves 28 de fevereiro de 2021

Outra tecnologia importante eh o aviso de nao afivelamento do cinto de seguranca ou afivelamento errado so no banco e o carro na dah partida enquanto o correto nao for feito… Incrivel, mas ainda isso, gente que nao usa o cinto.

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Fernando Miranda 27 de fevereiro de 2021

O brasileiro devia ser estudado. O que acontece hoje neste país só comprova isso. Somos de quinta categoria.

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Jorge Nicolau 27 de fevereiro de 2021

Também tem a questão de ter e não funcionar, como ocorreu com a Toyota hilux, foi diagnosticado que não era eficiente e realizaram um recall no qual só esqueceram que vendiam hilux na América Latina. Um absurdo, uma negligência com o consumidor da marca e o apelido de tombilux capotalux é até um elogio à camionete.

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Rodolfo 27 de fevereiro de 2021

* Em 2019 comprei um Onix 1.4-L ano 2019, porém parei de abusar da velocidade e das curvas fazem alguns anos, pois criei juízo.

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Rodolfo 27 de fevereiro de 2021

Apreendi a dirigir em 1994 em uma Caravan ano 1981 – motor 2.5-L – 4 cilindros – tração traseira, e apreendi com dicas com meu pai a como aprumar numa curva quando se perde a traseira um carro de tração traseira:
1. Nunca pise no freio;
2. Vire o volante para o lado oposto da curva.
Então quando aconteceu comigo isso deu certo a técnica.
O próximo carro que dirigi em 1997 foi um Gol 1.8AP ano 1990 e já esse era muito fácil aprumar quando perdia o controle nas curvas, pois é dotado de tração dianteira e o projeto dele a estabilidade é muito boa em relação a Caravan 1981.
Em 2019 comprei um Onix 1.4-L ano 2019, porém parem de abusar da velocidade e das curvas. Creio que se tivesse esse controle de estabilidade ajudaria, porém de nada adianta essa assistência se a pessoa não aplica a direção defensiva ensinada na Auto escola pelo DETRAN.
Algumas pessoas acham que se o carro é o top de segurança e até autônomo estará imune a acidentes fatais, porém isso não garante ser intocável.
A maior segurança é a gente que faz com a aplicação da direção defensiva e a assistência de segurança veicular vem a somar mais ainda a nossa segurança, assim nos somos os protagonistas da segurança veicular e a assistência de segurança (controle eletrônico de estabilidade, ABS e direção autônoma) são coadjuvantes.

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Rodolfo 27 de fevereiro de 2021

* porém parei de abusar da velocidade e das curvas fazem alguns anos, pois criei juízo.

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elioricardo 4 de março de 2021

Concordo as pessoas pensam estar em veículos seguros e podem exagerar na velocidade o motorista de bom censo vai tirar o pé em curvas não se pode confiar em carro algum prudência acima de tudo

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Fernando Krüger 27 de fevereiro de 2021

Parabéns pela matéria. Infelizmente os motoristas em geral nem sabem pra que serve esse acessório. Na hora da compra damos mais valor para os itens de estética e/ou conforto do que para os de segurança. Esse tipo de matéria ajuda muito na escolha.

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Sgt PM Josias ambrozione 27 de fevereiro de 2021

PARABENS para quem falou na DIRECAO DEFENSIVA. Não adianta
Ter todos os tipos de segurança,inclusive o “sistema eletrônico de estabilidade”,e não praticar a direção defensiva.
Minha CNH É de 1965 categoria D aprendi a dirigir num Chevrolet
Brasil de 6t.E mais
Tarde fiz a “direção
Defensiva” na POLICIA MILITAR. Onde dirigi todos tipos de VIATURA.
NAQUELA ÉPOCA, A SEGU -RANCA ESTAVA NA PERÍCIA DO MOTORISTA QUE CON –
DUZIA A VIATURA.
HOJE APOSENTADO DIRIJO
UM FIAT IDEA 1.4 2013

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Rodolfo 27 de fevereiro de 2021

Sargento JOSIAS AMBROZIONE,

Muito obrigado!

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oliveira 27 de fevereiro de 2021

Na realidade o que causa mais acidentes com vitimas são excesso de velocidade, hoje até dentro das cidades acontecem acidente com mortes, enquanto os imbecis dos motoristas não se conscientizarem de que velocidade em excesso é o maior problema não ira terminar com essas mortes. Podem fazer o que quiser, mas a culpa dos acidente em 99% é dos idiotas que estão atrás dos volantes

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