Eu e minha trajetória com a Volkswagen

De jornalista cobrindo greves e reuniões de sindicalistas a 'concorrente' na assessoria de imprensa, a relação com montadora alemã sempre foi amistosa

fabrica vw anchieta
Vista aérea da fábrica da VW em São Bernardo do Campo (Fotos: Volkwsagen | Divulgação)
Por Chico Lelis
Publicado em 14/01/2024 às 17h11

Minha primeira visita à Volkswagen ocorreu enquanto eu estava na Sucursal de O Globo, localizada no conjunto Zarvos, na esquina da Consolação com a São Luis. O edifício abrigava, no térreo, a Agrodora, uma precursora das atuais pets, especializada na venda de produtos para animais. Diariamente, dois enormes patos passeavam pela calçada em frente à loja.

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Na época, faltavam 40 anos para a fábrica completar 70 anos no Brasil, um marco que se concretizou em 2023. Foi nesse período que tive minha primeira experiência na fábrica da Volkswagen. Mauro Forjaz liderava o setor de Imprensa, que contava com figuras marcantes como Lionel Dias e Zenon Garrote Sierra, sob a direção de Walter Nori. A equipe incluía também a gentil secretária Felícia e a competente tradutora Ingrid, cujos sobrenomes não são lembrados por ninguém.

Mauro, um jornalista veterano com passagens por grandes jornais brasileiros, como o Jornal do Brasil (JB), liderava a equipe, sendo Zenon seu braço direito, sempre com os cabelos caindo sobre os olhos. Lionel, por sua vez, era o príncipe do departamento de Imprensa, tratando o setor de uma maneira única e inesquecível. Saudades!

wolfgang sauer, ex-presidente da VW, ao lado de um Santana
Wolfgang Sauer, ex-presidente da VW, ao lado de um Santana

Acima de todos, estava Wolfgang Sauer, o presidente que se destacava não apenas por sua liderança, mas também por sua simpatia. Sauer tinha um gosto por charutos cubanos e sempre relembrava suas “brigas” com Joseph Sanchez, o presidente da GM na época, que anualmente anunciava a intenção de ultrapassar a VW, mesmo sabendo que, naquela época, isso era impossível devido à limitação de produção da marca de São Caetano do Sul.

Sauer tinha o hábito de dormir durante suas viagens de carro entre São Bernardo do Campo e São Paulo, ou até mesmo dentro da vasta área da fábrica. Ele chegou a fazer um curso para conseguir dormir mesmo em “viagens” curtas, abaixo de 20 minutos.

Segurança linha-dura

Contudo, nem tudo eram sorrisos na VW. Havia uma espécie de “sargento da gestapo” que não entendia o que era humor. Vestida com uniforme, ela praticamente “rosnava” para as pessoas, exigindo que todos fossem fotografados antes de entrar na fábrica. Era uma engenhoca que produzia fotos a serem reveladas posteriormente para os arquivos. Qualquer brincadeira na hora da foto, como as que eu e meu amigo Josias Silveira cometemos uma ou duas vezes, resultava em ameaças de proibição de entrada na VW, uma vez que ela detinha poder, conforme afirmava Mauro Forjaz.

Entretanto, ela não conseguiu impedir que jornalistas, incluindo eu e outros representantes de veículos como Folha, Estadão, Gazeta Mercantil e Diário Popular, assim como profissionais de rádio, participassem de uma assembleia no pátio da fábrica nos anos 80. Nessa época, o movimento sindical estava em alta no ABC, e Lula iniciava sua carreira como sindicalista e político. Vestidos com macacões emprestados pelos trabalhadores e caminhando abaixados para não chamar atenção devido à minha altura (1,88m), assistimos à assembleia.

Falar mal do ‘inimigo’

Ao longo dos anos, retornei muitas vezes à Volkswagen, que, assim como eu, envelhecia, passando por mudanças em sua área de Comunicação. Mais tarde, quando fui para a GM, solicitei ao diretor da área, o jornalista Miguel Jorge, ex-Estadão, que me emprestasse um Santana, o modelo de luxo da VW. Gentilmente, ele cedeu o carro. Ao chegar na fábrica em São Caetano, André Beer, meu querido e ex-presidente da GM, ao ver o carro “inimigo” na vaga, quis saber quem estava com ele. Sabendo que era eu, me chamou à sua sala, perguntando indignado o que eu estava fazendo com “aquilo”.

– André – respondi – se eu não andar, como vou poder falar mal do “inimigo”?

Posteriormente, quando trabalhava no Diário do Comércio, o jornal da Associação Comercial de São Paulo, visitei várias vezes a VW em São Bernardo, sempre sendo recebido com cortesia pela equipe da época do setor de Imprensa. Nessa ocasião, a “sargento da Gestapo” não fazia mais parte do pessoal da portaria, e o tratamento tornou-se mais amigável.

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