Carro elétrico começa a ficar viável no Brasil

Especialistas apontam que o número de carros elétricos e híbridos deve aumentar no Brasil, mas ainda há desafios

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Por Bárbara Angelo
Publicado em 09/09/2018 às 13h00

Especialistas indicam que o carro elétrico, apesar de alguns desafios, está mais perto da realidade do que poderia-se pensar. Até o ano que vem, deveremos receber modelos com preços mais acessíveis que os luxuosos que já são oferecidos. Ao mesmo tempo, estes modelos continuam tendo um preço elevado se comparado aos carros com motores a combustão. Mudanças do Rota 2030, entretanto, poderão fomentar a produção nacional e diminuir os custos.

O carro elétrico pode ser considerado como o ápice da tecnologia quando o assunto é transporte. Junto com as tendências dos autônomos, da conectividade e do compartilhamento, com ele ocorrerão as maiores mudanças no setor automotivo mundial, aponta Bernardo Ferreira, sócio da empresa de consultoria McKinsey.

O BMW i3 é um dos poucos carros elétricos vendidos no Brasil. Na foto, ele é carregado em um dos eletropostos na Dutra. (BMW | Divulgação)
(BMW | Divulgação)

Apesar de o primeiro carro elétrico ter sido inventado ainda no século XIX, atualmente, ele tem uma estrutura completamente diferente da de um carro com motor a combustão. Isso pode incluir um conjunto de quatro motores, um para cada roda, e um enorme pacote de baterias debaixo do assoalho.

“A forma como ele gera tração e freia, muitas vezes, é muito diferente dos veículos que já conhecemos. Por causa disso, pode-se considerar que a tecnologia está em uma fase inicial em todo o mundo”, comenta Ferreira. Quase anualmente, vê-se o desenvolvimento de novas tecnologias de recarregamento, por exemplo. Enquanto isso, as baterias utilizadas nestes veículos têm um custo cada vez mais acessível.

Esse cenário pode parecer algo que está distante da realidade brasileira, mas, segundo Friedel Nimax, gerente do Veículo Elétrico Latino Americano, está mais perto do que aparenta. Uma das razões que o especialista aponta é a definição, feita pelo governo, das novas políticas para o setor automotivo.

Rota 2030 abre caminho para o carro elétrico

O Rota 2030 determinou, entre outras coisas, que carros híbridos e elétricos receberão incentivos fiscais. Assim, as montadoras receberam um estímulo para trazerem esses modelos para cá. Como exemplo do que o futuro reserva para o país, Nimax cita o Nissan Leaf e Chevrolet Bolt.

Ambos são modelos 100% elétricos e, no caso do Leaf, oferecido em outros países há anos com preços acessíveis oferecidos há anos. Entretanto, eles nunca vieram para o Brasil. Agora, o especialista afirma que até o ano que vem eles serão introduzidos no mercado brasileiro, ampliando a limitada gama de modelos de carro elétrico e híbrido no país.

Outra possibilidade que se abre com o Rota 2030 é que as fabricantes também poderão passar a fabricar estes carros aqui, aponta Nimax. “Com os aportes que as montadoras receberão do governo, elas terão como compromisso desenvolver novas tecnologias e alternativas para o desenvolvimento de todo o setor, sendo assim, também dos elétricos”, comenta o gerente da Veículo Elétrico Latino Americano. O evento promove discussões e investe em informação sobre os carros elétricos na região, e ocorrerá em São Paulo, entre os dias 17 e 19 de setembro.

O BMW i3 é um dos poucos carros elétricos vendidos no Brasil. Na foto, ele é carregado em um dos eletropostos na Dutra. (BMW | Divulgação)
O BMW i3 é um dos poucos carros elétricos vendidos no Brasil. Na foto, ele é carregado em um dos eletropostos na Dutra. (BMW | Divulgação)

Além disso, Nimax cita a aprovação da resolução normativa 819/2018 da ANEEL, que passa a administração de redes de carregamento para a iniciativa privada. Isso a diferencia da rede elétrica de distribuição, e pode baratear seu custo por possibilitar o livre mercado e a concorrência. Outro indicador de que o carro elétrico está avançando no Brasil é a instalação de redes com pontos de recarga em rodovias do país.

Em julho, a BR-116 (rodovia Presidente Dutra), que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, recebeu seis pontos de carregamento, com 122 quilômetros de distância máxima entre eles. A estrutura foi implementada por iniciativa privada e, por enquanto, está recarregando carros gratuitamente. Por trás do investimento está um grupo de empresas que inclui a BMW, alemã que vende o elétrico i3.

Outro trecho que também contará com pontos de recarga será a rodovia que liga Foz do Iguaçu a Paranaguá, onde a Itaipu está instalando 10 eletropostos, comenta Nimax. Essas instalações ajudam na construção de uma infraestrutura para receber o carro elétrico no Brasil e, apesar de o trabalho já estar iniciado, ainda significa um desafio em nível global.

Ainda há obstáculos a serem vencidos

Embora tenhamos sinais positivos de que o carro elétrico está crescendo no Brasil, Bernardo Ferreira, da McKinsey, ressalta os desafios que a tecnologia ainda tem que vencer para se tornar popular por aqui. Os carros híbridos e elétricos ainda estão em um estágio inicial de desenvolvimento a nível global, aponta Ferreira. Entre outras dificuldades que isso gera, está o custo elevado da tecnologia, por ela ainda não ser produzido em larga escala.

O componente mais caro de um carro elétrico, explica ele, é a bateria. Isso encarece o veículo em qualquer país do mundo, como apontou uma pesquisa feita recentemente pela Auto Trader na Europa. Em segundo lugar, a infraestrutura para o carregamento deve ser mais robusta para suportar o abastecimento quando houverem muitos carros conectados a ela.

Além disso, também será preciso pensar em como gerar a energia para alimentar todos estes veículos, quando eles forem a maioria nas ruas. Outro fator que Ferreira cita é que o Brasil é um país que carece de investimento em áreas de maior prioridade do que o carro elétrico.

Na imagem, a estrutura de um Jaguar I-Pace, mostrando os pacotes de bateria instalados abaixo do assoalho e os motores conectados às rodas. Modelo é o único carro elétrico da marca de luxo inglesa (Jaguar | Divulgação)
Na imagem, a estrutura de um Jaguar I-Pace, mostrando os pacotes de bateria instalados abaixo do assoalho e os motores conectados às rodas. Modelo é o único elétrico da marca de luxo inglesa (Jaguar | Divulgação)

Pensando nisso, a McKinsey fez um estudo sobre as perspectivas dos carros híbridos e elétricos por aqui. Segundo Ferreira, em 2030, de 10% a 30% dos veículos brasileiros serão elétricos. E entre eles, a maioria será de híbridos. Atualmente, a parcela corresponde a apenas 0,2% dos veículos nas ruas brasileiras.

Ou seja, mesmo considerando todos os obstáculos, o analista vê caminhos para que o carro elétrico cresça no Brasil. “Acredito que o que vai ocorrer primeiro aqui são pequenas iniciativas privadas, como uma empresa que instala um carregador no estacionamento”, exemplifica Ferreira.

O analista especializado no setor automotivo enxerga, para o futuro próximo, o uso do carro elétrico no trajeto de casa para o trabalho. Outra grande tendência para o mercado brasileiro, aponta ele, são os híbridos, que devem se propagar mais rápido que os elétricos por aqui.

Ao contrário dos carros totalmente elétricos, os carros híbridos podem dispensar a necessidade de recarga, ou depender menos dela. Conheça a diferente entre os dois e quais são os três tipos de veículos híbridos para saber o que esperar para o Brasil.

Ele também acredita que os serviços de compartilhamento de veículos, que se encontram muito desenvolvidos no Brasil, vão ajudar a tendência dos elétricos a avançar. “O compartilhamento torna o carro elétrico mais interessante, e quando tivermos os autônomos, também vai ser mais interessante para o elétrico. Uma tendência ajuda a outra”, considera Ferreira.

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13 Comentários
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Luciano 5 de dezembro de 2020

Carros elétricos sem dúvida são o futuro, gostaria muito que as baterias de grafeno já estivessem sendo pensadas para os automóveis e sendo padronizadas para um único modelo no mundo todo igual as pilhas e baterias e parando em um posto para reabastecer você teria a opção de trocar as baterias vazias por baterias carregadas para não perder muito tempo para a carga completa.

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Rogério 5 de junho de 2019

Veículos com motores a combustão interna geram uma poluição com partículas, principalmente os de motores a diesel, e são extremamente nocivos aos seres humanos e animais, como também ao meio ambiente. Eu trabalhava num galpão onde o tráfego de caminhões era intenso, e no fim do dia, ao tomar banho, descia um caldo preto, devido à fuligem acumulada em mim durante o dia, causada pela queima incompleta do diesel. Nós não vemos essa fuligem no dia a dia, mas com certeza ela está impregnada em nossos pulmões.

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DORIVAL MAZORCA 23 de janeiro de 2019

LUCAS, SAIBA QUE O FUTURO NÃO PODERÁ SER BARRADO, NEM EM UM PAIS COM INTERESSES ESCUSOS COMO O BRASIL. QUANDO OS CARROS COREANOS E CHINESES POPULARES INVADIREM NOSSO MERCADO
ELES CUSTARÃO O MESMO QUE UM POPULAR POLUIDOR. QUANTO AOS MOVIDOS A DIESEL, SERÃO PROIBIDOS
NA EUROPA JÁ JÁ.

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Semião 18 de novembro de 2018

Olá , interessante este BLOG….Estou pesquisando sobre veículos elétricos no Brasil….O benefício é ótimo , mas o custo do veículo elétrico ainda está muito alto, acredito que a falta de incentivo por parte dos governos , provoca a falta de demanda …Mas é observado que muitas empresas estão investindo , e isto é ótimo….E com certeza meu próximo Veículo será um ELÉTRICO!!!

OBS: SE EU NÃO CONSEGUIR COMPRAR UM VEÍCULO ELÉTRICO, NÃO ANDO MAIS DE CARRO E NEM PENSO EM COMPRAR UM VEÍCULO A COMBUSTÃO, SEJA A GASOLINA, ÁLCOOL OU DIESEL…

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sergio ricardo de brito 29 de outubro de 2018

bom dia e o futuro , temos que peocupar com nosso planeta e o próximo.tem coisas que não adianta ir contra

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Anderson Santos 22 de outubro de 2018

O que chama atenção na reportagem é o fato de o governo ter que dar algum benefício para que as montadoras desengavetem seus projetos. Penso que o ideal é que os modelos elétricos e híbridos sejam equiparados com os modelos com motor à combustão e, após isso, deixar que o mercado se autoregule. Se houver oferta adequada de veículos elétricos e híbridos, em preço que as pessoas possam pagar, com certeza, todos vão querer utilizá-los. Agora, esperar que o governo faça aquilo que é responsabilidade industrial ou do consumidor é o fim da picada.
Muda Brasil!

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Jonas 10 de fevereiro de 2019

Concordo. Esse povo é a favor do livre mercado, mas só faz se der incentivo. Fala sério!!!!

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Rafael Andrette 15 de abril de 2019

Me aponte um país no mundo onde novas tecnologias ganham espaço sem apoio de subsídios ou pesquisas endossadas pelo Governo? A china hoje tem metade dos carros elétricos do mundo, subsidiados pelo Governo Chinês. A Califórnia oferece vários subsídios para os Carros elétricos.

Isso de deixar que o Mercado se auto regule depende de um desenvolvimento bem estabelecido e amadurecido da tecnologia, que ela tenha um custo beneficio competitivo, algo que não acontece com novas tecnologias. É necessários investimento ou o mercado fica estagnado e dominado pelas mesmas empresas, que não dão chances de crescimento para as novas tecnologias atrasando a inovação.

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Lucas Pohl 25 de setembro de 2018

Existem dados técnicos que demonstram que os carros elétricos além de serem muito limitados, se comparados aos convencionais, resultariam numa aplicação inviável nos países de clima tropical como o Brasil, pois as baterias acusam um rendimento muito pobre e uma vida útil igualmente reduzida. Os componentes elétricos internos também sofrem uma degradação muito mais acentuada com o carro num clima quente e úmido. Existe ainda o problema da autonomia, pois sob condições reais de trânsito pelas ruas e estradas brasileiras fica muito distante dos valores obtidos em condições de laboratório, exagerados propositalmente pelas famigeradas montadoras… Sinto muito moçada, eu me considero um indivíduo informado, e vou continuar andando de boa com a minha velha Hilux guerreira ano ’98 fazendo acima de 1200 km com um tanque de óleo diesel.

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Waldemar Mezzogiorno 9 de outubro de 2018

Caro Lucas, eu ando com carro elétrico há 12 anos e não volto para os “fumacentos” nunca mais. As baterias mais baratas (chumbo ácido) trabalham bem em temperaturas de 20 a 70 graus Celsius. Onde eu moro faz temperaturas de até -5 graus Celcius, então uso baterias de Lítio e nunca me incomodei. Rodo em torno de 30mil km por ano e a primeira manutenção do sistema de propulsão foi a troca das baterias duraram 210mil km. Quantas vezes você trocaria o óleo do motor, filtros, correias, válvula termostática, etc para esta mesma quilometragem na sua Hilux. A grande diferença é o espírito de coletividade e a visão de futuro. Moro em Schorndorf (Alemanha) há 16 anos e aprendi a respeitar meus semelhantes evitando poluição e degradação do planeta. A propósito, você tem noção de quanta poluição seu veículo a diesel tem produzido para seus vizinhos, filhos e netos?

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Giovani Albineli 22 de outubro de 2018

Concordo, Waldemar. O futuro já começou. Carro para transporte de pessoas, será elétrico. O resto será passado. Sou usuário de Pajero Full a diesel e muito me incomoda o barulho, a poluição, a sujeira ambiental que estes causam. Qual o elétrico que você utiliza na Alemanha ?

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Telma Guadagnini 9 de dezembro de 2018

Parabéns Waldemar pela resposta, tirou as palavras da minha boca!!

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Milton Portella 13 de setembro de 2018

O mercado brasileiro irá responder, sobre os futuros lançamentos (elétricos/híbridos), de acordo com as reduções de impostos estabelecidas no programa Rota 2030. Eu vejo hoje, o mercado brasileiro do carro híbrido, mais atraente que o carro elétrico. A Toyota desenvolve o Prius com motor flex, e poderia ainda lançar novos modelos/versões com a mesma tecnologia, já que na Europa, por exemplo, circulam CH-R; Yaris: Auris; RAV 4, alêm do Prius com a versão “Hybrid” .

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