Oportunidades perdidas: 5 carros promissores cancelados pela Volkswagen

A filial brasileira da montadora alemã tentou por diversas vezes lançar carros que o público queria, mas acabou deixando de lado na última hora

volkswagen taigun concept azul frente parado
Taigun, o famoso SUV do Up, foi apenas um dos carros cancelados da VW (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Por Eduardo Rodrigues
Publicado em 18/02/2024 às 09h02

O Brasil é um mercado grande o suficiente para que algumas matrizes de montadoras darem autonomia a suas filiais. Um excesso de controle por parte da sede, que não conhece a fundo as nossas particularidades, pode fazer que carros promissores sejam cancelados — e a Volkswagen ficou mestre nisso.

A Fiat e a General Motors do Brasil, por exemplo, trabalham quase que de forma independente do resto do mundo. Criaram carrocerias diferentes, adaptaram designs, aprimoraram motores antigos e até mesmo criaram modelos novos com 100% de foco na América Latina.

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A Volkswagen operou dessa forma até meados dos anos 90, usando sua liberdade para manter a velha Kombi em linha, criando o Gol com plataforma própria e se unindo com a Ford para fazer a AutoLatina. Quando a matriz resolveu acompanhar de perto, muitos projetos locais começaram a sair de cena e modelos globais entraram com pouco sucesso.

Uma prova disso foi com o Polo nacional, que era mais refinado que a média dos compactos nacionais e não conseguiu vender bem por ser caro. O Up! foi um caso similar, um subcompacto refinado pode dar certo na Europa, mas o brasileiro quer um compacto que leve a família e mais um pouco.

Outro sintoma foi a demora ao fazer um SUV, enquanto a Ford vendia o EcoSport aos montes. A seguir listamos alguns carros cancelados pela Volkswagen no Brasil.

1. VW Voyage ‘bolinha’ é um dos carros cancelados

A família Gol era uma das mais bem sucedidas de nosso mercado quando a primeira geração chegou ao fim. Era de se esperar que na segunda geração, apelidada de “Bolinha”, isso continuasse.

Não foi bem assim. Gol, Saveiro e Parati ganharam nova geração, mas o sedã Voyage ficou de lado. Por anos, foi um mistério saber o que aconteceu para que o modelo não tivesse continuidade em um segmento tão forte.

O motivo foi revelado em 2022 pelo designer Luiz Alberto Veiga, que mostrou também como eram os mock-ups do Voyage bolinha. Um executivo estrangeiro exigiu que o Polo Classic fosse o representante da marca nesse segmento.

Largar um nome com 14 anos de mercado e uma plataforma testada e aprovada por um modelo desconhecido foi um tiro no pé. O Polo Classic foi um fracasso e a Volkswagen ficou sem ter um sedã compacto de boas vendas até o nome Voyage voltar em 2009. Baita oportunidade perdida…

2. Lançar o Polo como Gol

Polo Highline 200 TSI
A ideia inicial era que esse carro fosse batizado como Gol (Foto: Volkswagen | Divulgação)

Era muito especulado que o Gol ganharia uma nova geração em 2018, com a moderna plataforma MQB e porte maior. Quando a sexta geração do Polo começou a ser flagrada por aqui, os indícios eram de que ele ganharia o nome veterano, já que não fez sucesso com a identidade usada lá fora.

A matriz não ter permitido versões mais simples nem mudar o nome do Polo para Gol matou essa ideia. Na época, os compactos nacionais estavam se modernizando, após o sucesso do Hyundai HB20, do Fiat Argo e do Chevrolet Onix, um carro atual da VW com nome consagrado poderia ajudá-la a emplacar a novidade.

Mas, ao estrear como Polo, o hatch compacto teve que recriar sua imagem no Brasil para depois suceder o Gol. Ele só assumiu mesmo o posto do veterano como o carro de entrada da VW em 2023, quando a versão Track entrou no mercado .

A Volkswagen perdeu a oportunidade de ter conseguido fazer isso com cinco anos de antecedência. E já pensou na animação dos fãs ao verem um novo Gol GTS?

3. Tarok

A Renault inaugurou o segmento de picapes intermediárias com a Duster Oroch no fina de 2015. Seis meses depois a Fiat lançou a Toro, com porte maior, identidade própria e um cobiçado motor diesel. O sucesso é o que vemos hoje nas ruas.

A Volkswagen estava com uma competidora pronta para ser lançada em 2019, tendo sido mostrada como conceito no Salão do Automóvel de 2018. Mas ela acabou cancelando o projeto.

A Tarok foi uma grande oportunidade perdida da Volkswagen, pois acertaria nos pontos fracos da Toro da época: o porte era similar, porém a plataforma moderna permitia peso menor, o que resulta em desempenho e economia superiores.

Os motores poderiam ser o 1.4 TSI ou o 2.0 turbodiesel. Na época a Toro trazia o inadequado 1.8 flex, de desempenho limitado. A versão diesel teria tração integral e capacidade para 1 tonelada.

Por fim, a Tarok teria uma divisória rebatível entre a caçamba e a cabine, para poder levar objetos longos. Esse conjunto poderia dar muito trabalho a Fiat toro.

Hoje a VW já cancelou esse carro e está trabalhando em uma picape nova e menor. A ideia é ter algo no porte da Chevrolet Montana, sem tração integral ou motor diesel. A vantagem será o conjunto híbrido.

4. Projeto BY

Na lista de planos cancelados da Volkswagen, está um carro menor que o Gol e que bateria de frente com o Fiat Uno nos anos 80. O nome do projeto era BY e tratava-se de um Gol encurtado — receita similar a do Fiat Mobi, lançado 20 anos depois.

Uma unidade do protótipo sobreviveu e está hoje no acervo da Garagem VW. As proporções são estranhas, já que o motor longitudinal do Gol exige um cofre maior.

O carro cancelado ainda trazia algumas soluções interessantes, como o banco traseiro que corre por um trilho, para poder aumentar o porta-malas, o para-brisa era colado à carroceria, não haviam as calhas no teto e a suspensão traseira tinha um desenho mais compacto.

O projeto BY poderia ter sido o antecessor espiritual do Up TSI, pois sob o capô estava o AP 1.6. A força desse motor em uma carroceria mais leve daria trabalho para os carros maiores. Sem contar que daria para colocar até um AP 2.0 ali.

5. Os SUVs cancelados da Volkswagen

Em 2003 o Ford EcoSport chegou ao mercado, pegando a concorrência desprevinida e conquistando o consumidor. As montadoras se movimentaram para combater o modelo com peruas e minivans aventureiras, um SUV similar só chegou ao mercado quando a Renault lançou o Duster.

Os projetistas da Volkswagen já queriam ter lançado um SUV bem antes do T-Cross, que só veio em 2019. Segundo Luiz Alberto Veiga, ele já havia trabalhado em um utilitário enquanto cuidava da reestilização do Logus, no final dos anos 90.

O assunto de ter um SUV na marca alemã apareceu novamente nos anos 2000, como um derivado do Fox. Os protótipos apontam um desenho mais quadrado, que lembra o Kia Soul e o Škoda Yeti.

Mais uma vez, a criatividade dos brasileiros foi podada pela matriz e o carro foi cancelado. Seu desenho foi levado por Peter Schreyer para a Kia, o Soul possui algumas similaridades com esse SUV derivado do Fox.

Por fim, teve o o Taigun, um SUV compacto derivado do Up. Por muito tempo, ele foi cotado para ser feito em Taubaté (SP). O carro foi cancelado pela Volkswagen em 2015, deixando de criar um segmento de utilitários compactos que ainda não existia no Brasil.

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