10 carros projetados no Brasil que foram um fracasso

Engenharia brasileira já emplacou grandes sucessos, mas também amarga algumas derrapagens como estes modelos que selecionamos

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Chevrolet Agile: fruto na época das vacas magras da GM (Foto: Chevrolet | Divulgação)
Por Fernando Miragaya
Especial para o AutoPapo
Publicado em 24/07/2023 às 10h03

A indústria automotiva brasileira já comprovou sua excelência ao longo de sua existência. O que não faltam são carros projetados no Brasil que não só se tornaram sucessos domésticos, como ganharam mercados da Europa e Estados Unidos. Mas como toda história, existem também as derrapadas, com carros projetados no Brasil que se tornaram um fracasso.

Veja agora os 10 destes carros projetados no Brasil que não emplacaram e se tornaram um “retumbante fracasso”.

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1. Volkswagen Apollo/Ford Verona

A era dos clones da Autolatina resultou em alguns fracassos memoráveis de carros projetados no Brasil. No início da holding formada por Ford e Volkswagen nasceu, em 1990, o Apollo, que nada mais era do que a versão da marca alemã para o Verona, modelo da marca da oval azul lançado um ano antes.

A plataforma era a da quinta geração global do Escort. Enquanto o Verona usava motores 1.6 CHT e 1.8 AP, o Apollo só era equipado com o conjunto da montadora alemã. Com fama de acabamento ruim e problemas na parte elétrica, os dois sedãs naufragaram nas vendas e saíram de linha 1992.

O Apollo foi substituído pelo Logus, outro carro projetado no Brasil que foi um fracasso. Já o Verona ainda voltou em 1993, em configuração 4 portas e com motores AP 1.8 e 2.0. Também patinou nas vendas e morreu em 1996 juntamente com a Autolatina.

2. Chevrolet Agile

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O início do milênio foi complicado para a General Motors no Brasil. Com a matriz em crise e pouca grana para bancar os projetos, a filial buscou alternativas “criativas” para renovar sua linha. Em 2009, então, teve início o Projeto Viva, que previa uma nova família de compactos para o Mercosul.

O plano era fazer um hatch, um sedã, uma minivan e uma picape em cima da plataforma do primeiro Corsa, de 1994. Essa arquitetura perdurava no Celta e nos sedãs Prisma e Classic de então, enquanto a segunda geração do Corsa convivia com essa turma toda.

Em 2009, nasceu, então, o Agile. De cara, o hatch desagradou pelo estilo controverso, bem diferente do carro-conceito GPix, mostrado no Salão de São Paulo de 2006, sobre o qual foi baseado. O acabamento e o comportamento dinâmico também eram falhos, o que rendeu ao modelo o apelido de Fragile.

O motor 1.4 Família I pouco aliviava a má-fama do Agile. Com outros modelos pequenos da GM com custo/benefício melhor e a chegada de uma nova safra de compactos baseada em projetos sul-coreanos, o Agile deixou de ser produzido em 2014.

Do Projeto Viva, apenas uma outra cria foi adiante. A ainda mais controversa segunda geração da Chevrolet Montana. A picape, contudo, durou bem mais. Foi produzida entre 2010 e 2021.

3. JPX Montez

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Com a abertura das importações em 1990, o empresário Eike Batista viu uma oportunidade de criar sua marca de veículos fora-de-estrada. Baseado no jipe francês Auverland A3, o JPX Montez foi lançado em 1993 tanto para ser usado nas mineradoras do Grupo EBX, como para concorrer com Toyota Bandeirante nas vendas para frotas governamentais.

O utilitário era uma prévia de globalização. Montado em Pouso Alegre (MG), tinha chassi e suspensão produzidos localmente. Já a caixa de transferência foi fornecida pela própria Auverland. Os eixos, da italiana Carraro, enquanto a carroceria de aço era daqui, da Brasinca.

O conjunto mecânico principal também era francês. O motor XUD9, de origem Peugeot, gerava 71 cv de potência. E trabalhava com o câmbio manual de cinco marchas da PSA, holding que unia a marca do leão e a Citroën, e que hoje faz parte da Stellantis.

As vendas começaram ruins e bem abaixo das expectativas de 400 unidades por mês. Para piorar, o Montez tinha problemas de superaquecimento e baixo torque para o seu peso (e as suas pretensões fora de estrada). Logo foi apelidado de JPXoxo.

O jipe teve variante picape e chegou até o Exército brasileiro. Também ganhou um turbo japonês IHI, mas de pouco adiantou. Ao mesmo tempo, a rede de concessionárias capenga e a péssima fama do pós-venda atrapalharam ainda mais a vida do Montez.

Em 2000, o motor foi dimensionado para, um ano depois, o carro sair de linha com 2.800 unidades produzidas em oito anos.

4. Renault Oroch

Em setembro de 2015 a Renault teve a sacada de fazer uma picape intermediária entre as compactas e as médias. Mas, em vez de caprichar, a marca francesa optou por fazer quase um Duster com caçamba. Até teria dado mais certo, não fosse o fato de a Fiat, meses depois, lançar a Toro.

A rival não só é bem melhor resolvida no design, como tem carga útil maior que a da Oroch. Isso sem falar que nasceu com motores mais interessantes e até com opção turbodiesel. Resultado: a Oroch tornou-se rapidamente um dos carros projetados no Brasil que “despontaram para o fracasso”.

A Oroch ainda está aí, mas sempre vendeu bem menos que a adversária, apesar da mudança de posicionamento de picape mais para o trabalho e a imagem de robustez que passa. A Renault até tentou dar uma animada com um recente face-lift, motor turbo e câmbio automático.

Só que a chegada da nova Montana só fez piorar as coisas para as vendas da Oroch. Para se ter ideia, no primeiro semestre de 2023, a picape da Renault vendeu apenas 730 unidades, quatro vezes menos que a concorrente da Chevrolet e sete vezes menos que a Toro.

5. Volkswagen Logus

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VW Logus

O sucessor do Apollo – já citado aqui – foi outro carro projetado pela Volks no Brasil, e que seguiu o fracasso do antecessor. Apesar de ter identidade própria e desenho feito pelo Estúdio Ghia, o Logus padecia dos mesmos problemas.

A arquitetura Ford e o motor 1.6 CHT não conferiam a robustez a qual o dono de Volkswagen estava acostumado. Assim como o Verona, saiu de linha em 1996 após o fim da Autolatina e com poucas vendas para contar.

6. Peugeot Hoggar

Peugeot Hoggar
Em 2010, a Peugeot apostou na picape Hoggar (Fotos: Peugeot | Divulgação)

Em 2007, a PSA Peugeot Citroën do Brasil convenceu a matriz a injetar uma grana na produção de uma inédita picape feita sobre a base do 207 produzido em Porto Real (RJ). O nome veio de um buggy conceitual da marca francesa e, no desenho, usava elementos como molduras e para-choques diferentes para se distinguir do hatch.

O modelo dividiu opiniões quanto ao design. Já a mecânica era a mesma do 207, com opção de motores 1.4 8V e 1.6 16V, além de uma variante aventureira Escapade. Dentro deste pacote, a meta da Peugeot era de vender 1.200 unidades por mês da Hoggar no Brasil.

Mas trata-se de um segmento bem complicado para novos players. Tinha como rivais modelos com tradição neste mercado e ampla rede de concessionárias, como Fiat Strada, VW Saveiro e Chevrolet Montana. Ao mesmo tempo, a Peugeot já amargava fama de pós-venda complicado, o que afugenta ainda mais quem precisa de picape para o trabalho.

Para completar, o 207 que servia de base à Hoggar era a solução caseira da Peugeot para não gastar muito no Brasil. Usava a plataforma do 206 com casca do hatch sucessor, para ser o “206,5”. A picape deixou de ser fabricada em 2014 com um total de apenas 11 mil unidades emplacadas.

7. Fiat Oggi

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Fiat Oggi

O sedã foi uma tentativa da marca italiana passar uma imagem de mais sofisticação para sua linha no Brasil. A filial brasileira da Fiat pegou a frente do 147 Spazio (o hatch recebeu o sobrenome após a reestilização, em 1982) e a base da station-wagon Panorama para fazer o Oggi.

Lançado em 1983, figura facilmente entre os 10 carros projetados no Brasil que foram um fracasso. Isso apesar de algumas bossas e virtudes. O porta-malas tinha ótima capacidade de 440 litros, enquanto o conjunto mecânico liderado pelo motor 1.3 se valia de carburador que deixava de injetar combustível quando o motorista tirava o pé do acelerador.

Mas isso não bastava. O Oggi tinha problemas estruturais, como casos de chassis trincados. A cabine era uma chiadeira só e ainda tinha defeitos crônicos na bomba de combustível. Até admira que tenha vendido quase 20 mil unidades até 1985, quando foi substituído pelo Prêmio.

8. TAC Stark

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Sigla para Tecnologia Automotiva Catarinense, a TAC lançou, em 2009, um jipe off-road para disputar mercado com o Troller T4. Era o Stark. Com motor 2.3 da Fiat, o modelo iniciou não só uma trajetória de fracasso no setor automotivo, como de confusões fiscais e na justiça.

Acontece que a TAC se estabeleceu em Santa Catarina e recebeu benefícios fiscais do estado sulista. A empresa não vendeu quase nada e começou a entrar em dificuldades. Em vez de tentar arrumar a casa, se mudou para o Ceará em busca de mais benesses fiscais.

Só que as projeções de 3 mil unidades vendidas por ano não passaram nem perto. Fechou as portas em 2015 e a chinesa Zotye até fez menção de assumir a bagunça. Recentemente, especulou-se que o jipe voltaria a ser feito no Distrito Federal por um grupo de investidores.

O certo é que só 250 Stark foram feitos em seis anos, para ser mais um dos carros projetados no Brasil que foram um fracasso. Além disso, a empresa ainda deve algumas dezenas de milhões de reais aos estados do Ceará e de Santa Catarina…

9. Troller Pantanal

troller pantanal
Picape Pantanal tinha falha estrutural e foi fiasco para a Troller

Aqui, o projeto de uma picape brasileira que fracassou já no… projeto. Em janeiro de 2006, a Troller lançou a Pantanal, a picape derivada do jipe T4 e feita também em Novorizonte (CE). A expectativa da marca brasileira era comercializar 1.000 unidades em um ano.

A Pantanal, contudo, só teve 77 unidades vendidas. Diante do desempenho comercial ridículo, a Troller encerrou a linha de montagem do modelo antes mesmo de a Ford comprar a marca cearense. Mas o fracasso maior ainda estava por vir para a picape.

A Ford detectou “problemas irreversíveis” no projeto da Pantanal. Questões na estrutura da picape que afetavam a sua dirigibilidade e comprometiam a segurança veicular. Diante do problema, a fabricante norte-americana ordenou a recompra das 77 unidades que haviam sido vendidas e mandou destruí-las.

10. VW SP/1

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VW SP/1

Um dos carros mais bonitos do Brasil, infelizmente, foi um fracasso retumbante de vendas. O Volkswagen SP/1 é um carro projetado no Brasil por Márcio Piancastelli. O plano da Volkswagen brasileira era usa o chassi da Variant para fazer um esportivo.

O problema foi o motor escolhido: o mesmo 1.600 refrigerado a ar que era usado na Variant, rendendo 54 cv, o que rendeu o jocoso apelido de “Sem Potência”. Essa versão durou pouco e saiu de linha em 1974, com menos de 3 anos de mercado e apenas 100 unidades vendidas, o que hoje o qualifica como uma raridade.

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6 Comentários
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Pedro Carlos de Faria Pinto 19 de agosto de 2023

Fernando, quanto à Troller Pantanal, pode ser que o veículo tivesse algum problema. Mas a Ford deixou um rastro dando a entender que encerrou a produção para evitar concorrência.

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Eduardo Hunter 30 de julho de 2023

AUTOPAPO não tem rabo preso. E isto lhe dá plena liberdade e ENORME CREDIBILIDADE.
Em um mundo o de a mídia quase toda É VENDIDA ou comprada, sei lá, independência é o diferencial.

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Luis Larentis 28 de julho de 2023

Acho apenas que faltou o VW Pointer!!!

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jorge luis bogdanov kussarev .'. 28 de julho de 2023

Apesar de tudo, era uma época em que havia alguma possibilidade de criação de veículos no país… Hoje, é só a montagem aqui, de veículos totalmente desenvolvidos no exterior, exemplo prático é a nova versão do Onix, carro chinês por excelência, seja no design, seja no custo de produção. Claro que posso estar errado, mas, logo mais, não haverá mais esses departamentos de desenvolvimento de protótipos nas montadoras estabelecidas aqui. Bastará importar tudo e montar, vendendo como ‘indústria brasileira’ SQN…

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ANDRE GUTTLER 24 de julho de 2023

Sugiro que o autor da matéria leia os números da Fenabrave antes de afirmar que a Oroch vendeu apenas 730 unidades no primeiro semestre de 2023

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Waslon 27 de julho de 2023

De janeiro a junho foram 5.665 unidades, sendo que 730 foram só no mês de junho.

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