Conheça a associação que luta pelo seu direito de dirigir

Diante dos avanços dos carros autônomos, a preocupação com o direito das pessoas de dirigir atraiu um entusiasta

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A associação luta para que carros autônomos se tornem opção e não regra (Foto: Shutterstock)
Por Eduardo Rodrigues
Publicado em 26/06/2021 às 13h03

Nos últimos anos se fala muito sobre veículos autônomos e sistemas de segurança ativa que são chamados de “direção semiautônoma”. Mas, no meio de toda essa batalha entre fabricantes e startups para ver quem faz o primeiro carro “que anda sozinho”, existem pessoas que lutam para que ainda exista a opção de humanos dirigirem seus carros. O líder desse movimento é Alex Roy, um entusiasta que hoje trabalha para a startup de carros autônomos Argo.ai – que possui parceria com a Ford.

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Para quem não conhece, Alex Roy ficou famoso por quebrar o recorde do Cannonball (uma corrida ilegal de Nova Iorque a Los Angeles) em 2006 e também por ter o recorde de volta mais rápida pelo perímetro de Manhattan.

Em 2015, Roy bateu um novo recorde do Cannonball, dessa vez com um veículo elétrico. Em sua carreira também consta o trabalho de editor no site The Drive, ser apresentador no canal Fast Lane Daily e produtor do podcast Autonocast antes de começar a trabalhar na Argo.ai.

Em 2018 Roy, criou o Manifesto da Direção Humana e a Associação da Direção Humana (Human Driving Association, ou HDA). Esse movimento vai além de manter o direito de dirigir para aqueles que gostam, mas também tornar mais claro o que são os carros autônomos, discutir melhorias nas legislações de trânsito e melhorar o treinamento para a habilitação de motoristas.

Os ideais da associação

O foco principal da associação é a liberdade e o poder de escolha. Se hoje temos a capacidade de optar se vamos a um lugar a pé, de bicicleta, de táxi ou de transporte coletivo, no futuro não pode ser diferente.

Alex Roy não deseja que as pessoas percam o direito de dirigir mesmo que a tecnologia autônoma já esteja sendo usada na prática. Ele até tem interesse em carros autônomos para tarefas mundanas que não trazem entusiasmo como voltar cansado do trabalho ou de alguma festa.

Ao contrário do que pode parecer, a Associação da Direção Humana não luta contra o avanço das tecnologias autônomas e sim a favor de soluções conjuntas.

O principal argumento usado para o investimento em direção autônoma é a segurança, a retirada do fator humano no trânsito é considerada como a solução para acidentes. Porém o caminho para a segurança no trânsito não é tão simples e já existem outras formas de buscar diminuir as mortes.

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(Foto: Human Driving Association)

A Associação defende a busca pela segurança no trânsito de outras formas: defende o avanço das tecnologias de segurança ativa que já auxilia os motoristas hoje, como os sistemas de frenagem autônoma de emergência e assistente para manter na faixa de rolagem.

Mas um ponto importante na luta deles é tornar os processos de habilitação mais rigorosos, para que os motoristas estejam mais preparados para dirigir, sejam mais atentos e saibam se comportar melhor em situações de emergência.

Tecnologia para a seguraça

Para Alex Roy, a tecnologia só é tão boa quanto o nosso entendimento dela e não pode ser usada como um fim, ela deve ser um meio para chegar na segurança.

Importante nesse ponto é a transparência dos órgãos regulatórios do que é considerado seguro e a criação de uma padronização desses sistemas. Se um fabricante coloca nas ruas um carro com condução autônoma ou semiautônoma, ele precisa fornecer publicamente os dados que comprovam a segurança desse sistema. A intenção de tudo isso é garantir a segurança e a liberdade dos motoristas.

A luta também é pela inclusão, a obrigatoriedade de carros autônomos afeta pessoas com menor poder aquisitivo que não podem trocar seu carro mais antigo por um novo e tecnológico. Ou até mesmo ciclistas e motociclistas, que não poderão trafegar junto aos veículos autônomos caso se tornem mandatórios.

Afinal, onde estamos nessa história de carro autônomo?

Atualmente a Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE) definiu cinco níveis de automação para carros:

  • O nível 1 são os chamados cruise control adaptativos, que mantem a distância automaticamente para o veículo que vai a frente, assistentes para manter na faixa de rolagem e frenagem autônoma de emergência.
  • O nível 2 é uma versão mais avançada desses sistemas que permite que o motorista tire as mãos do volante. Mas o motorista precisa estar atento ao trânsito para tomar o controle quando necessário pois o sistema é limitado.
  • O nível 3 é uma versão ainda mais avançada desse sistema que permite que o motorista não precise manter atenção na via, mas tem que estar de prontidão para assumir o carro caso o sistema ache necessário.
  • O nível 4 não exige que o motorista esteja em condições para agir podendo até estar dormindo, mas o carro só pode rodar em áreas pré-determinadas.
  • O nível 5 é completamente autônomo, podendo até dispensar o volante do veículo.

Hoje o nível mais avançado que está disponível a venda para consumidores no mundo todo é o segundo, com exceção do recém-lançado sistema de nível 3 Sensing Elite da Honda, disponível apenas no Japão para o sedã Legend.

Os sistemas de nível 2 vem trazendo grande confusão em mercados onde são mais acessíveis pois muitos motoristas entendem que o carro está dirigindo sozinho e por isso não precisa prestar atenção, causando vários acidentes. Alguns fabricantes, como a General Motors, incluem uma câmera que monitora se o motorista está prestando atenção no trânsito e desativa o sistema caso ele esteja distraído.

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O sistema de condução semi-autônoma da General Motors é um dos mais avançados atualmente, mas exige atenção do motorista. Foto: (Cadillac | Divulgação)

Tesla Autopilot

O fabricante que mais traz confusão nesse assunto é a Tesla, que usa um sistema de nível 2 e vende como Autopilot. Entusiastas de aviação conhecem esse termo como um sistema que mantém o curso da aeronave, mas exige que o piloto fique atento.

Para leigos esse nome pode criar confusões e o fabricante ainda complica ao dizer que no futuro os carros equipados com o Autopilot serão capazes de dirigir sozinhos sem intervenções.

O que coloca em cheque essa afirmação é a própria natureza do funcionamento do Autopilot, ele utiliza câmeras e radares simples para “enxergar” o caminho. O recomendado para a direção autônoma hoje são os radares de laser (Lidar) por gerarem uma imagem virtual dom ambiente com noção de profundidade.

Câmeras podem ser enganadas e são limitadas nessa percepção de profundidade, podendo ser confundidas por superfícies em cor parecida com a do céu e por luzes.

Como seria a convivência entre motoristas e robôs?

Uma opção muito estudada pelas empresas de automação é criar áreas exclusivas para os veículos autônomos, como partes de centros urbanos ou faixas exclusivas em rodovias.

Com esse isolamento dos carros autônomos, eles podem rodar dentro de parâmetros controlados e não lidam com fatores imprevisíveis como pessoas, animais e motoristas imprudentes. Um dos tópicos do manifesto é que os carros com condução autônoma ainda possuam um volante.

Alex Roy pede que os planejadores urbanos pensem nos espaços para manter a convivência e mobilidade de todos. Ele sugere que os processos de habilitação e renovação de carteira sejam mais rigorosos para que os motoristas dirijam com mais segurança.

E também sugere que pessoas do mundo todo faça o mesmo com seus representantes. No Brasil ainda não existem discussões de automação, mas tópicos do manifesto como treinamento mais rigoroso dos motoristas são interessantes para combater os acidentes.

Boris Feldman anda em um carro autônomo:

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2 Comentários
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JOABE BERNARDES VIEIRA 30 de junho de 2021

A implantação desta tecnologia depende de quantas vidas estamos dispostos a perder, uma vez que neste momento, não há condições mínimas de infraestrutura e tecnologia para carros autônomos… daqui a 100 anos quem sabe…

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Mister Gasosa 28 de junho de 2021

Acho que no Brasil primeiro as estradas e ruas devem ser isentas de buracos, para depois usar o modo autônomo. Em ibiúna/SP na rodovia próximo a rodoviária tenho que desviar de vários buracos, se cair dentro capaz de perder o pneu e entortar a roda, quebrar amortecedor. O carro autônomo consegue desviar de buraco?

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