Cursos práticos reposicionam motociclistas experientes e em formação

Crescer na pilotagem de motocicletas demanda conhecimentos de física, prática de manobras e, claro, muito suor

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Treinamento e conhecimento adquiridos nos cursos fazem toda a diferença na hora de pilotar (Caio Mattos | Divulgação)
Por Juliana Dapieve
Publicado em 06/07/2021 às 08h40

Proficiência. Palavra que dificilmente te passará à cabeça se você entrar quadrado numa curva com a moto. Também não adianta apelar para o anjo da guarda: em vias urbanas, expressas ou rodovias, a diferença entre o domínio da máquina e um corpo no chão está na compreensão individual, no desenvolvimento de habilidades técnicas e na prática de manobras.

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E por se tratar de um esporte mecânico, muito depende também das características da própria motocicleta. Andar bem é uma combinação dessas qualidades com uma mentalidade de gerenciamento de risco – logo, algo que pode ser treinado e adquirido. As moto-escolas não ensinam o básico além da 1ª marcha, e a verdade é que ter entre as pernas uma moto acima de 250 cilindradas causa arrepio na espinha.

Como agravantes da falta de habilidade, somam-se ainda a negligência do piloto e a falta de respeito pela moto, que levam a acidentes e fatalidades. Crescer na pilotagem custa, demora e esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. Os adversários somos nós mesmos.

A boa notícia é que o mercado nas grandes capitais oferece opções personalizadas de cursos de pilotagem e/ou moto habilidade para homens e mulheres quem se interessam pela condução sobre duas rodas, seja para uso urbano ou para competições. Em pauta, além de aceleradas em pista, entram conceitos de inércia, forças centrífuga e centrípeta. Parece difícil? Não mais que pilotar sem pelo menos conhecê-los.

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Suzane Carvalho em ação durante o curso: controle da motocicleta revela novos prazeres em pilotar (foto: Caio Mattos | Divulgação)

“Controlar sua moto com confiança te faz experimentar os níveis mais elevados de satisfação e prazer em pilotar”, diz Suzane Carvalho, campeã de diversas categorias do automobilismo e motociclismo e fundadora, desde 2003, de um centro de treinamento homônimo para pilotos amadores e profissionais, em São Paulo, onde ela multiplica o conhecimento adquirido nas pistas.

Suzane conta que os cursos são divididos em módulos que envolvem da moto-ergonomia individual para otimizar o desempenho, à prevenção de colisão em alta velocidade, passando por uma revisão do comportamento do tráfego como espaçamentos, bloqueios, etc, além do controle em baixa e alta velocidades. “Confiança é a chave de estar no controle de sua moto em todas as condições, seja para andar em cascalho, na chuva, em curvas fechadas e rápidas ou numa pista de corrida”.

Deus ex-machina

Catapultada de uma Honda XRE 300 Adventure para uma Harley Davidson Fat Bob de 1.745 cc e 306 kg, a administradora e estudante de engenharia Pamela Ferreira, 29, sentiu o peso da responsabilidade na primeira curva: “Eu tinha uma experiência diferente de pilotagem até então. A partir da primeira volta na Harley eu já me apaixonei, mas sabia que só ia adquirir segurança fazendo cursos e treinando”, diz.

Na via da especialização, ela passou pelas academias de pilotos Road Training e a da BH Harley Davidson, pela Discover Ride Skill e pela Masterize, todas em Belo Horizonte (MG). “Esses cursos me ajudaram a melhorar a pilotagem, maneabilidade, confiança e segurança, tanto na cidade quanto na estrada”, diz.

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Pamela Ferreira e sua Fat Bob: domínio das técnicas deu a ela uma pilotagem mais assertiva e divertida em qualquer motocicleta (foto: Juliana Dapieve | Especial para o AutoPapo)

“Um dos módulos mais interessantes que fiz foi o de frenagem de emergência com e sem o uso da embreagem. Costumamos frear nas vias públicas, mas é raro termos que frear de uma vez entre 120 km/h e 140 km/h. Já precisei fazer uma frenagem nesse estilo e foi a habilidade adquirida que me salvou”, lembra.

Frear motos exige muita experiência porque varia conforme a situação, tipo de moto e piso. Por isso os sistemas são independentes, enquanto no carro os freios são comandados por um pedal só.

Superando limites

Hoje, Pamela continua a prática da moto habilidade com a equipe Cones & Chão, também na capital mineira. “Treinamos além do nosso limite, além até do limite da moto, e sempre corremos o risco de tombar, daí vem o nome do grupo. Mas é assim que consigo chegar na excelência da moto habilidade, utilizando o máximo a capacidade angular da Fat Bob”, conta ela.

Exatamente devido ao conhecimento técnico, Pamela é responsável pelo planejamento e segurança de rides no coletivo de motociclistas The Litas Belo Horizonte, além de desempenhar papeis de destaque nos comboios do HOG e Ladies of the Road, grupos ligados à concessionária Harley Davidson na capital mineira.

Impossível não perceber sua facilidade de contra esterçar e pendular em uma moto tão baixa e pesada. “A Fat Bob é uma das melhores Harleys para fazer curvas”, diz Pamela. De fato, desde 2018 o modelo ganhou um novo quadro e rodas de alumínio.

Cerca de 17 kg mais leve em relação ao modelo anterior, a nova Fat permite ângulos mais fechados nas curvas, aumentando a maneabilidade. Com garfo invertido, a suspensão dianteira conta com tecnologia SDBV, Showa Dual Bending Valve, já testadas na família Touring e “transplantadas” para a família Softail. A suspensão traseira é do tipo mono e foi montada em nova posição para garantir maior tração e estabilidade.

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Alunas da Masterize após curso de pilotagem: prática para driblar o peso das motos de alta cilindrada (Foto: Thiago Portela | Masterize | Divulgação)

“Mas a facilidade que eu enxergo em pilotar essa moto é uma soma de fatores. O primeiro é que meus pais sempre me ensinaram que nada é impossível, e que pode ser feito se encontrarmos o jeito certo. O segundo fator é que meu amor pelas motos me faz querer pilotar qualquer modelo que exista. E por último, é que a prática adquirida em cursos elevou não só meu conhecimento, mas também minha confiança”.

O que esperar dos cursos?

Em Belo Horizonte, os cursos de pilotagem são, em sua maioria, divididos em dois dias de aulas teóricas e práticas, com carga que varia entre 16 e 20 horas/aula. São voltados para motociclistas experientes ou em formação e um dado comum é a crescente procura de mulheres por especialização.

“Diversas mulheres procuram nosso curso, independentemente da experiência como motociclistas, para aperfeiçoar o domínio de motos de alta cilindrada em baixa velocidade e para melhor gerenciamento dos riscos”, diz Anderson Damasceno, 44, co-fundador da Academia de Pilotos Road Training. “A maior demanda delas é pelo controle da motocicleta em retornos, em vias estreitas e inclinadas, e manobras em locais apertados”.

Segundo ele, o primeiro ensinamento do curso é baseado no autoconhecimento. Afobação, euforia, medo, baixa autoestima e tantos outros sentimentos são fatores impeditivos para o desenvolvimento da aprendizagem.

“A partir desta compreensão das dificuldades dos alunos partimos para o treinamento propriamente dito, onde é perceptível que grande parte dos motociclistas, mesmos os mais experientes, ainda não dominam corretamente a tríade embreagem, acelerador e freios. E muitos têm grande dificuldade com a visada – a moto vai para onde olhamos”, completa.

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Controle da aceleração, freio e embreagem são requisitos em para manobras em baixa velocidade (Foto: Instagram | Reprodução)

Instrutor de cursos regulares na Milwaukee, Clóvis Cendon concorda: “Tudo começa com a sensibilidade correta no freio traseiro, embreagem semi apertada e aceleração contínua. Isso fará o piloto encontrar o ponto de equilíbrio da motocicleta. Logo após, iniciamos as manobras pelas pistas de cones”.

Cendon reforça pontos importantes: “Os equipamentos de segurança do piloto são um capítulo à parte, assim como as regras de trânsito voltadas para os motociclistas. Todo o conteúdo programático, com pilotagem defensiva, frenagem em piso seco e molhado, tangência, tomada e saída de curvas, etc, é passado de forma teórica e prática”.

Técnica substitui a força

“Praticamente anulamos o peso da moto quando aprendemos a dominar as técnicas de pilotagem”, diz Thiago Portela, 36, da Masterize. “O piloto passa a controlar a moto e conseguimos mostrar, na prática, que como é fácil contornar seu o peso”, diz. “Já no módulo de curvas, ensinamos conceitos de segurança tanto em baixa quanto em alta velocidade, que é o recomendável nas estradas”.

Aline D’Angelo, fundadora da grife Legend Ladies e aluna da Masterize, lembra como foi o exercício de levantar sua Harley Deluxe de mais de 300 kg, tombada no chão, pela primeira vez: “Tem a ver com o posicionamento correto do corpo. É o ângulo da perna que determina o movimento. Não é necessário força e, sim, jeito”.

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Aline D’Angelo e sua Deluxe Nany: se precisar, ela levanta sozinha a moto de 300 kg do chão (foto: Legend Ladies | Reprodução)

Segundo ela, a visada também é uma lição importante: “A moto vai para onde você estiver olhando. Aprendi que o olhar e o posicionamento da cabeça são fundamentais para uma boa pilotagem”.

Glaycon Ferreira, 40, que desenvolveu três módulos com diferentes objetivos no curso Discover, finaliza com uma dica prática que faz toda a diferença no dia a dia. “Pilotos de motos muito pesadas como as big trails, custons e tourings devem sempre manter os ombros paralelos ao asfalto”.

Segundo ele, a dica é não inclinar o ombro e o corpo junto com a moto na curva. O piloto deve posicionar o corpo um pouco à frente e manter os ombros retos, com o olhar sempre para o final da trajetória. “Ao experimentar essa técnica, é possível fazer uma curva muito mais suave”.

Serviço

  • Academia de Pilotos Road Training
  • Cinco módulos de treinamento
  • Dois dias – 20 horas de curso
  • Investimento: a partir de R$ 650
  • Informações: (31) 99191-9266
  • Discovery
  • Três cursos com objetivos diferentes (Discover I, II e III)
  • Duração: variável conforme o plano escolhido
  • Investimento: a partir de R$ 550
  • Informações: (27) 99229-9254
  • Masterize
  • Dois módulos de treinamento
  • Dois dias – 16 horas de curso
  • Investimento: a partir de R$ 450
  • Informações: (31) 98751-3406
  • Ride Safety – Milwaukee
  • Dois módulos de treinamento
  • Três dias – 18 horas de curso
  • Investimento: a partir de R$ 750
  • Informações: www.milwaukeebh.com.br
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11 Comentários
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Rodrigo Carisio @carisiorodrigo 24 de novembro de 2021

Matéria sensacional e surpreendente. A grandeza de detalhes e informações me colocou um sorriso logo no inicio “Fazer uma curva quadrada” quem nunca?
Levar ao motociclista informações e conscientizar de que a motocicleta e o piloto precisão estar em sintonia é muito importante.
Parabéns não só por essa matéria, mas pela profissional que você é enriquecendo em detalhes e informações a nossa leitura.

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Daniela 9 de julho de 2021

???

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Luiza Santana 9 de julho de 2021

Matéria importante e necessária, principalmente para motociclistas iniciantes que adquirem motos de alta cilindrada. Valeu, Ju!

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Jordana 9 de julho de 2021

Era tudo o que eu precisava ler nesse momento. Obrigada pela matéria esclarecedora, leve e tão necessária.

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Flávia Pavan 9 de julho de 2021

Matéria informativa, relevante. Muito agradável a leitura. Ju arrasa.

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Caroline Duarte 9 de julho de 2021

Gostei demais da reportagem, conteúdo super relevante e rico de informações orientativas!

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Priscila 9 de julho de 2021

Excelente reportagem, destacou bastante a importância dos cursos. Pretendo fazer um assim que possível.

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Nat 9 de julho de 2021

Ju sempre sensacional!!!!

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Pamela 9 de julho de 2021

Amei!!!

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Bruna 9 de julho de 2021

Excelente matéria e muito pertinente! Parabéns, Juliana Dapieve, pela qualidade da matéria, além de enaltecer a pilotagem feminina!

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Lucas 7 de julho de 2021

Bem legal

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