Fiat 147: a história do italiano que desbravou as terras brasileiras

Conheça a trajetória do hatch, que chegou ao mercado em 1976, passou por diversas evoluções e deu origem a uma grande família de produtos

fiat 147
Compacto e original, 147 foi o primeiro carro nacional da marca italiana (Foto: Fiat | Divulgação)
Por Douglas Mendonça
Publicado em 23/02/2022 às 08h36
Atualizado em 18/07/2022 às 21h42

O anúncio de que a Fiat passaria a produzir carros em terras brasileiras aconteceu oficialmente em março de 1973. Naquela época, já se sabia até mesmo qual seria o desbravador de nossas ruas e estradas: O exclusivo Fiat 147, que derivava diretamente do sucesso europeu batizado de 127, lançado em 1971.

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O novo carro, segundo os italianos, cairia como uma luva para as necessidades que os brasileiros tinham para se locomover em um país de dimensões continentais: o pequeno 147 era robusto, de mecânica fácil e simples e, ao mesmo tempo, proporcionava um baixo custo de manutenção. Além do mais, apresentava sensível economia de combustível quando comparado com os outros carros nacionais daqueles tempos.

fiat 127 bege de frente modelo que deu origem ao 147 brasileiro
Modelo 127 europeu deu origem ao 147 nacional

Projeto moderno

O fato da mecânica ser simples e robusta não significava que ela tinha baixa tecnologia construtiva, como os carros brasileiros da época: ela trazia soluções que nem mesmo os carros de luxo contemporâneos sonhavam, como a disposição transversal do conjunto motor e câmbio, algo inédito no Brasil, assim como a correia dentada que acionava o eixo comando de válvulas do motor, presente apenas no Volkswagen Passat e Chevrolet Chevette.

As suspensões eram independentes nas quatro rodas, com um robusto feixe de molas disposto transversalmente na traseira, dando ao novo Fiat um bom grau de estabilidade em curvas e, claro, alta durabilidade do sistema. A direção já contava com pinhão e cremalheira, também assim como o Passat e Chevette.

Só para que se tenha uma ideia, na inauguração da ponte Rio-Niterói (RJ), que tem cerca de 14 km, a Fiat botou à prova o baixo consumo de combustível do 147, fazendo com que o novo modelo percorresse a extensão da estrutura com apenas 1 litro de gasolina e quatro passageiros no seu interior.

E o 147 conseguiu cumprir o tal teste, que virou até propaganda na televisão, onde a quantidade de combustível era visível perante as câmeras. Isso provou um dos argumentos de vendas do novo carro.

Pioneiro da fábrica de Betim (MG)

Dentro da esperança dos italianos de terem um carro perfeito para os brasileiros e para o mercado nacional, em 1976, a fábrica, localizada em Betim (MG), começou a produzir o 147. Em relação ao 127 italiano, o carro brasileiro possuía uma carroceria mais robusta, com mais pontos de solda, e suspensão traseira inédita.

Talvez por suas dimensões externas bem compactas com relação àquilo que se conhecia, o inédito carrinho da Fiat deixou os brasileiros com certa insegurança, pois, quando se observava o mercado nacional, ele era realmente compacto. Espaço interno agradável e bom porta-malas eram pontos positivos no pequeno 147, mas, mesmo assim, ele causava estranheza ao grande público.

Uma curiosidade é relativa ao seu motor 1.050, único que equipava o modelo. A dúvida é: “por que 1.050 cm³? Por que não 1.000 cm³ ou 1.100 cm³?” O fato é que tudo se apoiava na legislação brasileira. Por incrível que possa parecer, quando o carro foi lançado, em 1976, a lei tributária nacional afirmava que carros com motores de até 1 litro (1.000 cm³) pagavam mais IPI e ICMS do que aqueles com motores de até 1.600 cm³ (1.6).

Diante desse dilema, a marca italiana decidiu se basear no propulsor 0.9 (903 cm³) do 127 italiano, aumentando sua capacidade cúbica para 1.050 cm³, fazendo com que o 147 caísse nas mesmas regras tributárias dos carros acima de 1.000 cm³.

A correção dessa distorção da lei só ocorreu no início dos anos 90, quando o presidente Collor fez o congresso rever as legislações de tributação e, assim, fazer com que motores menores (abaixo de 1.000 cm³) pagassem menos impostos que os maiores, o que, cá entre nós, era mais justo.

Fiat 147 L

Ainda no mesmo ano, já para a linha de 1977, o novo Fiat 147 L (Luxo, única versão disponível na época), já estava sendo oferecido na novidade das concessionárias Fiat.

Com essa configuração 1050, inicialmente exclusiva para o mercado brasileiro e posteriormente exportada para a Europa, o 147 L entregava 56 cv de potência bruta, aquela que não desconta os componentes periféricos (alternador, por exemplo), nem a perda durante a distribuição da força para as rodas dianteiras.

A transmissão manual era de quatro velocidades, que pecava pela enorme imprecisão no engate das marchas e pelo incômodo movimento da alavanca de mudanças na medida que o carro acelerava ou desacelerava. Além disso, havia reclamações quanto à durabilidade do sincronizador das marchas, que com pouco tempo de uso já estava arranhando ou raspando no momento das trocas.

Curiosamente, as primeiras unidades fabricadas do pequeno Fiat, em especial os carros de engenharia e imprensa, tinham um cano de escapamento surpreendentemente pequeno, com pouco mais de 1 dedo de diâmetro, como uma saída de escape de uma moto de pequena cilindrada.

Era do tamanho apenas necessário para a expulsão dos gases do pequeno motor 1.050, mas visualmente não agradava, afinal passava-se a impressão de um conjunto mecânico fraco. O resultado é que, prontamente, a Fiat preparou uma tubulação de escape maior para os carros que seriam distribuídos para as concessionárias.

Fiat 147 Pickup e Furgoneta

Vendas cresciam e o sucesso vinha aos poucos. Mesmo demorando alguns anos para embalar no ranking de vendas, o Fiat 147 começou a conquistar o consumidor brasileiro de verdade no final da década de 70. Também nessa época, mais especificamente em 1978, chegava a inédita carroceria furgão, chamado de Fiat Furgoneta, que nada mais era do que um 147 sem os bancos e vidros traseiros.

A gama de versões também crescia com as novidades das configurações básica (sem nome) e, no topo de linha, a GL (Gran Luxo). No final do mesmo ano, já como linha 1979, estreava uma pioneira: 147 Pick-up, uma pequena e útil caminhonete de dois lugares inteiramente baseada no 147 comum, que logo virou a queridinha dos pequenos comércios e de quem precisava carregar pequenas cargas.

Não era para menos: Ela foi a primeira picape compacta derivada de um carro de passeio na América Latina, moda que logo se espalhou para outras marcas (Volkswagen Saveiro, Ford Pampa, Chevrolet Chevy 500 e por aí vai).

Motor 1300 no Fiat 147 Rallye

Com novo virabrequim de curso longo, pistões de maior diâmetro, carburador de corpo duplo e novo sistema de escapamento, o tradicional motor 1.050 ganhou uma nova cilindrada na linha 1979, tornando-se o 1.300. O novo propulsor ganhou mais potência e torque para mover com agilidade o pequeno 147, que não era referência em desempenho quando equipado com o pequeno motor de lançamento.

fiat 147 rallye com motor 1300 versao esportiva de frente
Versão Rallye do 147 foi a primeira com proposta esportiva entre os produtos nacionais da Fiat

E não havia uma melhor maneira de estrear o motor 1.300 se não fosse em uma versão esportiva: chegava assim a inédita Rallye 1300, com visual exclusivo e repleto de adereços (faróis de longo alcance, rodas diferentes, adesivos e por aí vai).

Com motor maior, o Fiat 147 1300 desenvolvia 72 cv e cerca de 11 mkgf de torque em números brutos, melhorando significativamente seu desempenho quando comparado ao pacato 1.050. Era praticamente uma versão envenenada pela fábrica.

Na próxima parte da rica história do Fiat 147, vamos falar da sua pioneira versão movida a álcool (hoje etanol), além da conhecida “frente Europa”, suas novas versões, chegada do sucessor Uno em 1984 e mais. Não perca!

Boris Feldman já dirigiu um 147 que integra o acervo histórico da Fiat: assista ao vídeo!

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5 Comentários
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Márcio 30 de setembro de 2022

Show de bola esse carro foi o meu primeiro em 1980 em 1994 comprei um agora no início do Ano 1980 só para Hobby, abraços. para todos.

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Cléber S. da Cruz 23 de maio de 2022

Um dos carros que mais vi na minha infância do fim dos anos 70 até final dos anos 80. Aqui no RS, quatro tios meus tiveram Fiat 147, dois deles tiveram mais de um 147. Esse carro pequeno por fora, espaçoso por dentro, seguro nas curvas, excelente de freio, ágil e econômico, tinha bem mais qualidades que defeitos, e assim só podia fazer sucesso na sua época.

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Santiago 25 de fevereiro de 2022

A FIAT construiu uma histórica façanha, ao conseguir adentrar num mercado de automoveis então monopolizado pela poderosa triade VW-GM-Ford. Dai ela precisar ter se estabelecido longe do ABC paulista (a então “Detroit brasileira”), e ter asumido o desafio de criar toda uma cadeia logistica e de fornecedores em Minas Gerais – o que por sua vez significou um grande salto tecnológico e industrial para o estado mineiro.
E para garantir o resultado, a FIAT lançou nos anos 70 um projeto dos anos 70. O que lhe propiciou uma óbvia vantagem num mercado até então dominado por projetos dos anos 50, 40, e até 30!
Cabendo destacar que o valente 147 era até mais estiloso do que o “pai”127.
Parabéns FIAT!!!

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Polvo 25 de fevereiro de 2022

Como sempre, história muito bem contada. Meu tio teve um 147 GL 1979, que depois meu pai comprou dele. Eu lembro do acabamento interno, era bem honesto. A mecânica realmente era simples, só a correia dentada que tinha fama de não durar muito.

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Jose luiz fernandes jr 23 de fevereiro de 2022

Quando eu tirei a CNH em 1980 ,eu ganhei uma brasilia do meu pai que logo foi substituida por um Fiat 147 que era muito mais moderno e econômico que a brasilia .logo chegou o UNO que causou um frisom no meio por ser moderno de mais para a época . A fiat sempre foi mais ousada que as outras montadoras .

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