A nova Ford: sem sedãs, mas com SUVs e elétricos

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Por Roberto Nasser
Publicado em 27/04/2018 às 17h12

Na grande briga por sobrevivência, matriz Ford cortou custos, operações, aumentou lucros em 7% no primeiro trimestre, e reduziu substancialmente sua dívida antes do prazo previsto. Chama a ação de Programa Fitness. Jim Hackett, presidente, sem experiência no ramo, aclamado pelos bancos e acionistas, e mostrou os planos para o futuro, habilitando-se a aplicá-los.

Os pontos

Focar em produtos e segmentos vencedores, significando dizer, no mercado dos EUA, cortar carros baratos e seus lucros curtos. Daí ,90% dos produtos serão bem rentáveis: o líder picape F-150, utilitários e veículos comerciais, sem investir no mercado de sedãs, de demanda declinante. Nos anos seguintes, o portfólio de automóveis focará apenas no Mustang e num chegante Focus Active, crossover a ser lançado próximo ano.

Na prática significa acabar com os produtos à venda no país de base – Fiesta, Fusion, C-Max e Taurus. Terá compromisso com novos caminhos de propulsão e mobilidade, agregando tecnologia híbrida em produtos de altos lucros, como a F-150, Mustang, Explorer, Escape e o esperado próximo lançamento de nicho, o Bronco. Em 2022, terá 16 veículos exclusivamente elétricos. Articular plataformas de mobilidade, e do negócio de carros autônomos.

No Brasil

No caso sul americano – entenda-se Argentina, Brasil e a Venezuela -, os resultados mundiais da atuação da companhia no primeiro trimestre exibem redução no prejuízo relativamente ao exercício passado: US$ 149 milhões – uns R$ 5 milhões/dia – dos quais o Brasil, operação maior, tem buraco proporcional. A operação sul-americana, antiga, 103 anos na Argentina e 102 no Brasil, dá, na prática, os sinais acadêmicos do basta: há cinco anos tem prejuízo.

Os sinais e a decisão da matriz em cortar o problema foram expostos pela Coluna (leia aqui) e, aparentemente, se adensaram com a recente assinatura, entre a fabricante e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de pacto de garantia de empregos na grande e pioneira fábrica em São Bernardo do Campo, SP. O prazo sinaliza o não-investimento em novos produtos e o possível fechamento da unidade, resumindo a operação de fazer automóveis apenas em Camaçari, BA. Aí teria apenas um modelo, o Focus Active – seu motor tricilíndrico, 1,5 litro, aspirado, iniciou ser produzido em Taubaté, SP, para abastecer mercado interno e externo.

Investimento exibe planejamento para construir motores e transmissões mecânicas no Brasil, para uso doméstico e exportações. Consequências industriais do não-investimento será a falta de novos produtos; o fim da produção de caminhões; redução no rol dos produtos importados, sem renovação para o Focus na Argentina e o fim do Fusion, no México.

Consultada, a Ford Brasil resume informações gabaritando-as apenas para o mercado norte-americano – EUA, Canadá, México. Mas o discurso de Jim Hackett foi mundialmente claro: sanar dificuldades, observar os lucros. Caso contrário, adeus.

Em resumo, ao comemorar 117 anos a empresa quer fugir do risco de naufrágio e renascer.

Muda

A pregação de Hackett embute promessas amplas, muito amplas, até as operações deficitárias na América Latina. Avisa tomar ações apropriadas para conduzir crescimento lucrativo e maximizar o retorno dos investimentos em longo prazo, para melhorar os pontos onde os negócios tem baixa performance. E comunica, se o retorno não surgir no horizonte, empresa mudará a mercados lucrativos.

Ford: indefinições sobre o futuro da fabricante
Focus Active: possível substituto de Ka, Fiesta e o próprio Focus (Foto Ford | Divulgação)

Em junho, o Toyota Yaris

Começo de junho, apresentação e início das vendas do Yaris, novo produto Toyota, posicionado em tamanho e preço entre o Etios e o Corolla. Na prática é concorrente com o também nipônico Honda Fit e seu sedã City – e disputará mercado com Fiat Argo/Cronos, VW Polo/Virtus, além dos Chevrolet Onix e Hyundai HB20, líderes mirados, porém precocemente envelhecidos. O foco e a expansão neste segmento expõem a verdade: nosso mercado é formado por compradores de baixa renda automobilística.

A Toyota Brasil colocou fotos de partes na internet – coisa sutil, veja aqui –, mas o conjunto forma o Yaris feito na Tailândia, recém-reformulado. Não haverá mudanças caracterizando o produto nacional.

Mecânica prevista é de motor fabricado na nova fábrica em Porto Feliz, SP, onde produz versões 1,3 e 1,5 litro aplicados ao Etios, porém assinalando evolução: cilindrada expandida a 1,6 litro, potência projetada em 128 cv.

Relativamente ao conjunto motopropulsor do Etios, mudança nas transmissões: mecânica com seis velocidades, e automática evoluída: sai a de restritas quatro velocidade e, em seu lugar, nova caixa CVT – de polias variáveis, nova queridinha da indústria.

Tese da separação de carrocerias para lançamento foi rejeitada: apresentação será de hatch e sedã. Preço? Médios R$ 75 mil – na prática, versões de entrada, com motor menor e transmissão mecânica a R$ 65 mil e versão de topo arranhando R$ 85 mil.

Yaris: entre Etios e Corolla (Foto Toyota | Divulgação)

Roda-a-Roda

Cheguei – Para marcar mudança de motores – sai o Ford 2.0 Ecoboost e entra o Ingenium, projeto próprio, também 2 litros e iniciais 300 cv – Jaguar fez duas edições especiais do sedã XE, sua entrada na morfologia.

Jaguar – São o 300 Sport e seu desenvolvimento Landmark Edition. Pontos comuns, tela de 25 cm, 0 a 100km/h em 5,7 s. Versão Landmark para choques diferente, amortecedores com maior pressão e rodas em liga leve, 18”.

Depois – Não se sabe quantas unidades serão importadas ou a duração das séries, tipo First Edition. Mas, acabando, o XE continuará com o novo motor Ingenium.

Característica – Mercados diferem entre si pela adequabilidade dos produtos e características dos clientes. Na China, maior do mundo, a exigência é espaço interno. Praticamente, desde o tempo de produzir o nosso Santana esticado 12 cm de distância entre-eixos, para atender compradores, há que esticar veículos.

Caminho – Audi mostra isto no Salão de Pequim, ora em realização. Fez o primeiro SUV Limo, esticando a plataforma de um utilitário esportivo Q5.

JAC T80 – Redesignado como T80 o SAV grande S7, importador JAC no Brasil tra-lo-á ao país. Sérgio Habib, titular do negócio, quer formar a maior linha de utilitários esportivos no país e dobrar vendas a 8.000 unidades.

Como é – Sete lugares em 4,8 m de comprimento, maior no segmento; câmbio automático com dupla embreagem, motor pequeno: 4 cilindros, 2 litros, turbo alimentado, circa 200 cv e mais de 30 kgfm de torque.

Trava – GM Argentina suspendeu produzir Cruze hatch e sedã, tipo freada para arrumação. Voltará operar em 7 de maio. Trava para vender estoque. No outro lado do mundo, na Coréia, empresa atravessa problemas e prejuízos.

Método – No tocar a produção, apesar de o produto ter origem coreana, prevalecem os métodos de administração norte-americana.  Japoneses nunca teriam tal problema, pois não formam estoques, nem fazem liquidação ou grandes descontos desvalorizando o produto. Sua fabricação atende aos quantitativos de pré-venda e encomenda dos revendedores.

Dúvida – GM fez grande promoção de vendas para limpar os pátios, mas ainda assim restou estoque grande, exigindo fechar a boca do forno, pois os balcões estão atulhados.

Mercado – Seat, a marca espanhola da Volkswagen, interessada em ampliar negócios – e se justificar ante maus resultados -, declarou ano passado interesse em retornar à América do Sul.

Volta – Esteve no Brasil ao início das importações, e depois foi-se, idem na Argentina, com montagem parcial. No entusiasmo, considerou produzir no Mercosul, nas instalações industriais da associada Volkswagen – com motores brasileiros, por exemplo.

Método – Para abordar o Mercosul, iniciou pelo pequeno mercado uruguaio, mas por abordagem ofensiva: mandou veículos de estoque, fora de produção, no caso os Ibiza geração 4, acompanhados de Toledo – lançado em 2012 -, e León, atualizado em 2016. O abaixo do Equador continua colônia.

“Sul-americanismo” – No Uruguai, a obrigatoriedade de veículos conter ancoragem ISO para cadeiras de crianças, vigindo a partir deste mês, foi adiada para 2019. Medida havia sido acordada dentro das regras do Mercosul, mas questões paralelas e não-técnicas decidiram pela postergação.

Porque? – Mercado limitado, conta com unidades de estoque remanescente, querendo aproveitar a não-obrigatoriedade até o último momento. Daí, por pressão dos importadores e distribuidores, o governo uruguaio postergou a vigência – protegeu comerciantes, desprotegeu os pequenos passageiros.

Leque – Iniciando retomada de negócios, preparando-se para novos concorrentes em sua faixa de atuação – Nissan, Renault e Mercedes -, Mitsubishi atualizou seu picape, criou novas versões, particularizou com equipamentos e acessórios.

O que – Empresa padronizou o produto, com exclusivo motor de quatro cilindros em alumínio, diesel, 2,4 litros, 190 cv e 43,9 kgfm de torque, tração nas quatro rodas. Opção, transmissão automática ou manual. A todas chama Sport, e tipos são GL, GLX, GLS, HPE, HPE-S. Preços vão de R$ 121 mil a R$ 175 mil.

Mitsubishi L200 Triton: trato externo, padronização mecânica (Foto Mitsubishi | Divulgação)

Tendência – Marron e bronze, cores terrosas, serão de aparente demanda no mercado. Ford aposta nisto, aplicando um certo Marron Trancoso Metálico à versão Storm do EcoSport e a protótipo do Ka FreeStyle, dito CUV (crossover utility vehicle) da marca.

Olhar – Adília Afonso, olhar supervisor de design da empresa na América do Sul, ex-especialista em interiores, justifica mescla de associações dos tons à natureza, seriedade, maturidade, segurança e prosperidade material. E mandou o fornecedor aplicar punhado extra de partículas de pérolas para iluminar.

Eco. À plebe, marron metálico. A especialistas, mescla com pérolas.
Eco: À plebe, marron metálico. A especialistas, mescla com pérolas (Foto Ford | Divulgação)

Expansão – Jaguar Land Rover transformou filial brasileira em matriz para ações na América Latina. A partir de São Paulo, coordena mercados do México e toda a América do Sul. À frente, Frédéric Droin, presidente da operação Brasil.

Festa – Ford comemorou 50 anos da produção do primeiro motor na fábrica de Quiririm, Taubaté, SP, inaugurando fabricação do novo 1,5 Ti-VCT, tricilíndrico, 130/137 cv, gasálcool/álcool, e nova transmissão manual.

Passado – Tal fábrica foi aquisição da Willys-Overland no caminho de tornar-se a maior à implantação da indústria automobilística no Brasil. Deu-lhe meios de produzir o primeiro motor a gasolina. Ford deveria preservar o pioneirismo, abandonado ao lado das construções hoje operacionais.

Pelo Ar – Renault e a gigante tecnológica SAP fizeram acordo: analisar característica dos compradores e a eles oferecer carros da marca e formas comerciais. É o K Commerce. A informática e a internet mudaram a vida – e mudarão as relações com os revendedores.

Relevo – Mercedes inaugurará, nos próximos dias, pista de testes para caminhões. Fica em parte da fazenda adquirida para implantar a fábrica de automóveis em Iracemápolis, SP. Anda na contra-mão. Ford e GM, pioneiras com este importante equipamento e seus laboratórios, muito reduziram seu uso.

Cuidado – Luciano – “Xirú Doido” – Braga, atingiu 1,5 milhão de quilômetros rodados em seu caminhão VW 24.250 com motor Cummins diesel. Segredo, cuidado de dono para o uso; trabalhar na faixa de rotações definida pelo fabricante; manutenção em oficina autorizada; troca de óleo na quilometragem correta. E sorte. Crê, atingirá 2 milhões de quilômetros. Merece ganhar motor novo.

Luciano e o Amarelão

Gente – Claudio Demaria, engenheiro, espécie de bruxo-mór na Fiat, transferência. OOOO Itália, para formular nova geração de produtos para Europa, Oriente Médio e África. OOOO Dentre outras façanhas, acertou usada plataforma para ser base para sucesso e lucro de Jeeps Renegade e Compass, Fiats Toro e 500C. Merece uma estátua. OOOO Márcio Henrique Tonani, também engenheiro, assume o posto. Desafio. OOOO Antoine Gaston-Breton, francês, aumento de responsabilidades. OOOO Antes geria marketing da Peugeot, incorporou DS e CitroënOOOO Nesta, substitui o português Nuno Coutinho, de volta à Europa. OOOO Wilson Bricio, presidente do Grupo ZF para América do Sul e CEO da ZF do Brasil. Acumulação. OOOO Gabriel El-Bredy, ex-jornalista, carreira. OOOO Deixou relacionamento com a imprensa na Jaguar Land Rover, tornado interface com importadores e distribuidores da marca na América Latina. OOOO Alberto César Otazú, jovem kartista, recorde. OOOO 60ª vitória em dois anos e dois meses de carreira, 10 neste ano. OOOO

Cronos, a Fiat no bom caminho

Para aproveitar a expansão do segmento de sedãs compactos, Fiat concentrou no Cronos as maiores demandas dos clientes: aparência, funcionalidade, conforto a passageiros, porta malas grande, conectividade, mimos tecnológicos, opções em versões, preço.

Bem formulado esteticamente, com a maestria de Peter Fassbender, seu designer-chefe, 28 anos de Fiat e 16 de Fiat Brasil, o Cronos inaugura um caminho de estilo, envelhecendo os concorrentes e bem sucedendo os carros da marca. Mais que novo sedã, espelha e traduz a revolução tecnológica e de qualidade imposta à Fiat por sua gestão anterior. Hoje os métodos de construção, montagem, finalização estão mais próximos da Alemanha que da Itália, e isto é perceptível desde o som da batida do fechamento das portas. Cronos e seu parceiro Argos demonstram o grande ganho de qualidade.

Design sugerindo esportividade, harmônico entre frente, laterais e traseira, detalhes como o medidor de pressão de pneus em todas as versões, opções de motores 1,3 e 1,8 litros, câmbio manual, automatizado ou automático permitem amplo leque de configurações e preços. O Fiat Cronos sedimenta o caminho iniciado de ganho de qualidade e individualidade aberto pelo Argos.

Fiat Cronos: compacto bem-formulado (Foto Fiat | Divulgação)
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