Metanol: risco de morte nos postos brasileiros

Motoristas nem imaginam que um álcool extremante tóxico, perigoso e proibido é vendido ilegalmente nas bombas de combustível

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Combustível importado está sendo usado em adulterações (Ilustração: Ernani Abrahão | AutoPapo)
Por Boris Feldman
Publicado em 25/10/2023 às 19h04

Motores flex foram projetados para queimar gasolina ou etanol em qualquer proporção. Mas, infelizmente, queimam também um outro álcool, o metanol. Um verdadeiro perigo pois, apesar de proibido por ser altamente tóxico, é utilizado irresponsavelmente em postos de todo o país.

O metanol pode provocar cegueira, câncer, vômito e náusea. E se inflama de forma transparente, o que complica o combate ao fogo pois sua chama é invisível.

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Ele vem para o Brasil por importadoras autorizadas que o distribuem para diversas empresas que o utilizam como solvente industrial na indústria química, farmacológica, na produção de plásticos, no processo de transesterificação do biodiesel e outras.

Importado dos EUA

O metanol não é produzido aqui, mas principalmente nos EUA a partir da madeira. Ou, mais modernamente, numa reação química do hidrogênio (H2) com monóxido de carbono (CO). Ele chega no Brasil pelo porto de Paranaguá, no Paraná, mas segue direto para o Espirito Santo, de onde é distribuído. Entretanto, milhões de litros do metanol são desviados da indústria para o setor de combustíveis.

Ele pode ser adicionado ao etanol hidratado (vendido na bomba) ou ao anidro (adicionado à gasolina). Os percentuais são variáveis mas a fiscalização já o identificou até substituindo o etanol nos 27% da gasolina. Devido à sua toxicidade, a ANP permite que ele esteja presente num máximo de 0,5% na gasolina (ou no etanol hidratado).

Metade do preço

fracos de metanol e etanol
Metanol, normalmente, custa metado do preço do etanol (Foto: Shutterstock)

Mas, por quê esta perigosa presença do metanol no nosso combustível? Porque – mesmo importado – chega custando a metade do etanol, o que estimula distribuidoras, formuladoras e outras empresas inidôneas a utilizá-lo para reduzir o custo final do combustível. Se o litro do etanol custa hoje cerca de R$ 2,50, o do metanol é de cerca de R$ 1,20 a R$1,50.

Esta foi uma das “saídas” imaginadas por empresas que sonegavam os impostos dos combustíveis, impossibilitadas hoje desta prática com a decisão do governo de tributá-lo na fonte, ou seja, o imposto recolhido antes mesmo de chegar ao posto. Antes burlavam o governo. Agora, ameaçam a saúde do cidadão.

O metanol é tão tóxico que já se comprovou a morte de 14 pessoas no Brasil, alcóolatras que bebiam o etanol e que, sem se dar conta, o ingeriam misturado com metanol. Seu manuseio é perigoso e pode até provocar cegueira nos frentistas de postos que o respiram diariamente. Além disso, em percentuais mais elevados, ele danifica irremediavelmente os componentes não metálicos do sistema de combustível do automóvel.

Ação fiscalizadora da ANP está detectando a presença do metanol em várias regiões do país. Recentemente, quatro postos no Sergipe foram multados e lacrados pela fraude do metanol misturado ao etanol.

Instituto Combustível Legal

Quem vem agindo objetivamente contra as fraudes operacionais e tributárias no sistema de distribuição de combustível é o Instituto do Combustível Legal, comandado por dois engenheiros: Emerson Kapaz (ex-deputado federal e Secretario de Ciência e Tecnologia de SP) é seu presidente e Carlo Faccio, com larga experiencia no setor de petróleo e energia, é o diretor executivo. Ambos alertam os motoristas para desconfiar do posto que oferece combustível muito barato e sempre exigir a nota fiscal da operação. Qualquer dúvida (ou desconfiança), entrar no site do ICL, que vem destinando recursos para a realização de testes laboratoriais que possam comprovar a presença do metanol.

A ANP está fiscalizando as importações do metanol e os possíveis desvios de sua utilização por produtores de biodiesel que o utilizam – oficialmente –  na esterificação do óleo. O Brasil é um dos maiores mercados de combustíveis do mundo com mais de 40 mil postos, distribuidoras nacionais e regionais e uma enorme complexidade logística.

Além disso, dimensões continentais e verdadeiras quadrilhas organizadas na fraude operacional e tributária tornam extremamente difícil uma fiscalização adequada do setor.

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