Mulheres ainda são ignoradas em testes de segurança

Primeira dummy feminina foi criada - mais de 50 anos depois do modelo masculino padronizado, mas fabricantes ainda não são obrigadas a usá-la em crash tests

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Mulheres têm 73% mais probabilidade de se machucar em um acidente de carro e são particularmente suscetíveis a lesões no pescoço e nas costas (Foto: Cecilia Ohlén | SR)
Por Laurie Andrade
Publicado em 23/03/2024 às 11h02

O dummy – manequim com dimensões humanas utilizado em testes de segurança de automóveis – foi criado em 1949, pela Ford. Desde 1971, o “boneco” foi padronizado com medidas masculinas. Em 2022, a primeira dummy feminina foi apresentada em um evento internacional. Quase dois anos após sua estreia, a segurança de mulheres ainda é ignorada pelas autoridades e fabricantes de automóveis.

Foi a professora Astrid Linder, pesquisadora líder mundial em segurança no trânsito, quem passou 20 anos desenvolvendo a manequim. Seu objetivo é que as mulheres tenham a mesma proteção que os homens em caso de colisão.

Vale lembrar que o Centro de Biomecânica Aplicada da Universidade da Virgínia publicou que, em um acidente frontal em mesma velocidade e gravidade, as mulheres têm 73% mais chances de se machucar que os homens.

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Apesar das mulheres serem mais propensas a sofrer lesões – especialmente no pescoço e nas costas, todos os dummies de testes de colisão foram modelados com base na anatomia masculina.

O novo boneco feminino de crash test é mais curto e leve, tem busto, quadris mais largos e ombros mais estreitos. A rigidez do pescoço também é diferente, pois, em geral, os homens possuem músculos maiores e mais fortes.

O dummy feminino foi especialmente projetado para testar o movimento da coluna, pescoço e ombros com força realista. A demonstração no Instituto Nacional Sueco de Investigação Rodoviária e de Transportes (VTI), em Linköping, incluiu dois experimentos de impacto que simularam uma colisão traseira a 16 km/h.

Apesar da baixa velocidade, os testes mostram claramente a elevada força exercida na parte superior do corpo e o risco de lesões cervicais no pescoço.

Nosso modelo de boneco de teste de colisão feminino pode ser usado, juntamente com seu equivalente masculino, para avaliar a proteção oferecida pelos assentos de carro e atuar na prevenção de lesões no pescoço” afirma Astrid Linder, professora da VTI e da Chalmers University of Technology.

Astrid Linder teve a ideia da dummy feminina quando fez doutorado na Chalmers e descobriu que as mulheres tinham significativamente menos proteção contra lesões cervicais. Um passo natural, ela concluiu, seria desenvolver um boneco de teste de colisão modelado no físico feminino.

O manequim evoluiu posteriormente em etapas desde o início dos anos 2000, tornando-se o SET50F que existe hoje.

Mulheres serão padrão em testes de segurança?

Todos os dados do desenvolvimento do manequim estão disponíveis gratuitamente. No entanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) deve tomar uma decisão sobre a concepção do quadro regulamentar, a fim de garantir que sejam definidos os requisitos para a utilização efetiva da dummy feminina em testes de colisão.

A Agência Sueca de Transportes foi incumbida de tratar da questão, mas o trabalho apenas começou.

Astrid Linder disse, em entrevista, que “estamos num ponto da história em que isso deveria ser possível”.

Parece óbvio dizer, apesar de não ser, que a obrigação de desenvolver experimentos com as dummies femininas deve incluir testes em todas as posições – motorista e passageiro.

Dimensões dos dummies

Até então, os bonecos usados para representar mulheres nos testes realizados pelo EuroNCAP, na Europa, e NHTSA, nos Estados Unidos, são versões reduzidas do dummy masculino padrão.

O manequim masculino simula um homem adulto que representa 50% da população. Ele pesa cerca de 75 kg e tem 1,75 m de altura.

Já o dummy que retrata a mulher atualmente foi feito para ser pequeno: tem 1,55 m de altura e pesa cerca de 55 kg – representando apenas 5% das americanas.

A manequim de Astrid Linder tem 1,62 m de altura e pesa 62 quilos, representando uma quantidade maior de mulheres e reproduzindo melhor um corpo feminino.

Confira, em vídeo, alguns testes com a primeira dummy feminina com dimensões reais:

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