Não adianta…

Acidentes de trânsito têm em comum o completo descaso pela segurança veicular, não somente das autoridades, mas também dos motoristas

acidente
Por Boris Feldman
Publicado em 21/01/2018 às 11h17
Atualizado em 23/10/2018 às 10h51

O que tem em comum um acidente de trânsito na rodovia dos Imigrantes (SP), no qual um Mercedes que disputava um “racha” com um Camaro bateu num EcoSport, e outro na praia de Copacabana (RJ), no qual um i30 avançou no calçadão, ambos matando e ferindo crianças e adultos?

Além das trágicas consequências, os três motoristas envolvidos já estavam com suas carteiras de habilitação cassadas: desde 2016 os do Mercedes e EcoSport, e o do i30 desde 2014.

No EcoSport, estavam dois casais e quatro crianças. As duas mães faleceram no acidente, os outros seis se feriram gravemente. Motorista e dois passageiros do Mercedes destruído que, segundo testemunhas, estava a cerca de 200 km/h, escaparam ilesos. O i30 matou um bebê de oito meses e feriu 16 pessoas.

O acidente na estrada paulista levanta várias questões. A começar pelo Ecosport com oito pessoas, apesar de sua capacidade para apenas cinco. Além disso, as crianças deveriam estar em cadeirinhas, mas estavam no colo das mães. Que, pelas evidências, não tinham os cintos afivelados.

acidente

O motorista do EcoSport pode não ter provocado o acidente, mas cometeu várias infrações: dirigia sem habilitação, levava mais passageiros que o permitido, não acomodou as crianças em cadeirinhas e nem exigiu que os ocupantes do banco traseiro afivelassem os cintos.

Outra observação: apesar da força do impacto que destruiu os dois carros, dá para perceber a diferença estrutural e de proteção aos ocupantes entre eles, pois motorista e passageiros do Mercedes saíram ilesos. Não há dúvidas de que automóveis mais caros e sofisticados oferecem um nível maior de proteção, mas já existem diversos compactos nacionais com boa resposta quando submetidos aos testes de impacto.

Apesar de todas essas evidências, o brasileiro continua a não dar a menor pelota para os quesitos de segurança dos automóveis. Dentro do “raciocínio” de que “acidente só acontece com os outros”, parece ser irrelevante para quem compra um carro como o modelo se comportou durante os crash-tests (danos aos ocupantes em simulação de acidentes).

Ao contrário, dois compactos que tomaram bomba nas simulações de impactos laterais (Chevrolet Onix e Ford Ka) tiveram suas vendas aumentadas nas semanas seguintes à divulgação dos resultados. Dá para acreditar?

Passageiros de ônibus também não se preocupam em afivelar os cintos e centenas de mortes desnecessárias já se registraram em virtude desse desleixo com a própria vida. Num desses acidentes, há pouco mais de um ano, na estrada Mogi-Bertioga, um ônibus saiu do asfalto e capotou, provocando a morte de 18 universitários.

Um dos sobreviventes da tragédia contou que só afivelou o cinto ao perceber que o motorista estava com dificuldade de controlar o veículo em curvas antes do local da tragédia. Aliás, nos ônibus, mesmo quem se lembra do cinto, costuma ter dificuldade em se proteger pois, quando existe, costuma estar emperrado ou imundo.

Quem conhece cidades nordestinas distantes das capitais já se deparou com um típico serviço de transporte urbano da região: picapes com bancos de madeira mal e toscamente adaptados na caçamba para transportar passageiros. Apesar de rigorosamente ilegais, aprovadas pelas prefeituras!

O que tem em comum a maioria dos acidentes de trânsito no Brasil?

O completo descaso não é somente das autoridades, mas também dos motoristas pela segurança veicular. Não adianta cassar a habilitação, nem exigir cintos e outros equipamentos de segurança, se a polícia não estiver nas ruas e estradas para fiscalizar os veículos. Não adianta o rigor da lei, se o motorista não recebe, desde criança, educação mínima para que se comporte com um mínimo de civilidade. Não adianta estabelecer regras e padrões de segurança enquanto se eleger políticos que conquistam votos às custas de pares de sapatos ou pratos de comida.

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12 Comentários
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Marco 24 de janeiro de 2018

Os fatores mais comuns são, em ordem aleatória: imperícia (falta de habilidade para conduzir uma máquina), incapacidade (falta de equilíbrio emocional para operar uma máquina que pode ser letal), imprudência (acreditar que pode ser mais atrevido que deveria), ignorância das leis e regras e, por fim, total desrespeito pelo próximo (cidadania? o que é isso mesmo?).

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Celio 22 de janeiro de 2018

Eu só não entendo porque ainda cassam habilitações, se os motoristas continuam a dirigir seus carros como se nada tivesse acontecido.
Só radares para multar incautos não vale!

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GILSON SILVA 22 de janeiro de 2018

Faço a minha parte. Cumpro e incentivo amigo e familiares a seguir as Leis. Faça também a sua parte. Fale menos e faça mais. Assim nosso pais será outro.

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Antonio cesar 22 de janeiro de 2018

Independente dos carrios a ou b a falta de punição faz tudo isso acontecer.????

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Mário 21 de janeiro de 2018

Muitos brasileiros são especiais, cada um acha que a lei é para os outros, para eles não, não tem respeito e educação.

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Luiz Antonio Azevedo da Silva 21 de janeiro de 2018

Uma ressalva, não foi um HB20, foi um i30 modelo 2013, os modelos novos. Corrijam a reportagem por favor, não passem informações erradas!!?

AutoPapo
Felipe Boutros 21 de janeiro de 2018

Obrigado, Luiz, pela correção.

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Grt 22 de janeiro de 2018

Correção… Puxei as placas pelo Sinesp e o carro é 2015/2016, ou seja, semi novo

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Antonio 22 de janeiro de 2018

Já corrigiram; pois não vi HB20 em lugar nenhum.

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Fernando 21 de janeiro de 2018

Se fosse do ecosport que matasse o da mercedes ele estaria preso. O da merdes vai curtir a praia logo logo. Lei é só pra pobre neste país

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alexandro 21 de janeiro de 2018

verdade!
playboys neste país nunca se dão mal!

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Guilherme Sguizzatto 21 de janeiro de 2018

O Brasil não precisa de leis. Somente o cumprimento rigoroso delas.

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