Gasolina brasileira: mudanças feitas pela ANP valeram a pena?

Especificações para a gasolina brasileira entraram em vigor há dois anos e muita coisa mudou no combustível; Mas será que valeu a pena?

nova gasolina brasileira
Norma para a nova gasolina brasileira está em vigor desde agosto de 2020 (Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil)
Por AutoPapo
Com Agência Brasil
Publicado em 28/07/2022 às 16h33

A nova gasolina brasileira começou a ser disponibilizada nos postos de combustíveis em agosto de 2020, devido à resolução da ANP que trazia novas exigências para que o combustível se tornasse ainda melhor. Ao todo, foram três itens que a agência que regula o combustível no Brasil resolveu estabelecer novos parâmetros: densidade, octanagem e ponto de vaporização.

Entre os pedidos da ANP, o mais importante foi a que  estabelece densidade mínima de 715 kg/m³. Em outras palavras, é quanto deve pesar um litro da gasolina brasileira: 715 gramas.

“Mas qual é a importância da desidade mínima?” Você deve estar se perguntando…

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Densidade mínima: para quê serve?

Ainda não havia um padrão estabelecido para a densidade, ou massa específica (ME), fundamental para o bom funcionamento do motor. Pois, quanto menor a densidade, maior o consumo.

O problema é que a maioria dos solventes utilizados para se adulterar a gasolina tem peso (densidade) inferior. Então, a exigência de densidade mínima vai complicar a vida de quem “batiza” a gasolina com solventes,  garantindo portanto um padrão de qualidade também no posto.

Mais eficiente, mas também mais cara

Quanto mais densidade, mais eficiência, menos consumo. A gasolina mais densa tem mais energia disponível para ser convertida no momento da combustão, e isso fará com que os veículos sejam capazes de circular mais com menos combustível.

Agora, a gasolina brasileira demanda um custo maior de produção e tem maior valor no mercado internacional então ficará mais cara. Por outro lado, a expectativa é que o consumo dos carros seja de 4% a 6% menor.

Isso a coloca como uma das mais caras do mundo?

Nada disso. Quando a alteração foi feita o litro da gasolina brasileira custava, em média, US$ 0,75 dólar. Hoje, de acordo com os dados do Global Petrol Prices, dois anos depois que o novo combustível começou a valer, a média é de é de US$ 1,10.

Existem mais baratas, sem dúvida. Mas várias outras muito mais caras no México, Cuba, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Mônaco, Islândia. O líder nesse ranking é Hong Kong, com US$ 2,98 o litro. A mais barata pertence à Venezuela: US$0,02 por litro.

Os números no Brasil poderiam ser bem menores, não fossem os impostos.

Os carros vão ficar mais potentes com a nova gasolina?

A octanagem da gasolina no brasileira foi outro ponto de mudança. Octanagem é a capacidade que o combustível tem de resistir a compressão dentro do motor. Depois que a gasolina entra vaporizada, o pistão comprime e aí vem a faísca na vela e explode; isso é que faz o carro andar.

Antes, a octanagem era de IAD 87: esse IAD 87 era um valor médio entre dois sistemas de medição; MON e RON. O IAD era usado em alguns países, EUA e Brasil entre eles. Na Europa, a octanagem é definida pelo RON. Se ela é 80 MON e 90 RON, então é IAD 85, por exemplo.

A diferença entre as duas medições é que a octanagem MON mede a resistência à detonação em uma rotação mais alta, e a octanagem RON mede o mesmo parâmetro em rotações mais baixas.

A octanagem da gasolina brasileira comum/aditivada era IAD 87. Da gasolina premium (BR Podium, por exemplo), IAD 95. Com a mudança feita em 2020, a octanagem não muda na nova gasolina no Brasil, mas terá a classificação RON 92 (=IAD 87) e a premium será RON 97.

Além disso, a ANP estabeleceu, para valer a partir de janeiro de deste ano, octanagem um pouco maior, RON 93, para a comum/aditivada.

Muita gente achou que IAD 87 para 92 RON é uma grande conquista, mas não é. É praticamente a mesma coisa. Os carros mais novos e com taxa de compressão elevada poderão se beneficiar com um combustível com maior octanagem. Por outro lado, uma octanagem baixa pode provocar a “batida de pino” em qualquer motor.

Ponto de vaporização: o que é e para quê serve?

Outra novidade nas especificações da nova gasolina brasileira foi o estabelecimento de uma faixa com limite máximo e mínimo de temperatura para uma evaporação de 50% da gasolina, parâmetro que é chamado de destilação e mede a volatilidade do combustível.

Antes, a ANP regulava apenas o limite máximo. A doutora em química e especialista em regulação da ANP Ednéia Caliman explica que um perfil adequado de destilação gera melhora na qualidade da combustão em ponto morto, na dirigibilidade, no tempo de resposta na partida a frio e no aquecimento adequado.

Além disso, a volatilidade da gasolina pode até resultar em bloqueio nos dutos de combustível, provocado pela formação de bolhas (vapor lock).

Mudanças colocaram a gasolina brasileira entre as melhores do mundo?

Antes mesmo das novas regras estabelecidas pela ANP, o país já tinha uma gasolina de excelente qualidade. Mas ficava devendo a densidade mínima, que passou 715 g/litro obrigatoriamente.

A octanagem está entre as melhores do mundo (RON 103 na Podium da BR e Octapro da Ipiranga, RON 93 na comum). E seu teor de enxofre foi reduzido (2014) de 200 para 50 ppm.

Sua desvantagem em relação às do países desenvolvidos é conter 27% de etanol (25% nas do tipo Premium), que faz cair seu valor energético. Porém, o maior problema ainda é a ineficiência de fiscalização: sai das refinarias com padrão internacional mas a adulteração faz baixar sua qualidade na bomba.

Problemas com adulteração

O combustível no Brasil sofre com a desonestidade praticada em larga escala quase impunemente e até com tecnologia sofisticada. A gasolina é adulterada, ou com solventes, ou com etanol além do estipulado. Além disso, tem posto que também burla o volume entregue.

O álcool também é vítima, batizado com água em percentual acima dos 8% estabelecidos. Parte da culpa dos próprios motoristas que não exigem, como deveriam, os testes presenciais no posto, que determinam qualidade (e quantidade) do combustível.

Adição de etanol é prejudicial?

Há quem alegue que é impossível comparar nossa gasolina com a de outros países: recebem gato por lebre (“alcolina”) na bomba, pois lá fora ela não contem etanol. Mas eles não estão completamente certos.

Primeiro porque a mistura não é exclusiva do Brasil, já que também está presente em outros países. Como nos EUA, onde o gasohol contem 10% de álcool. Mas estão certos quando se trata de percentual: 27% é um exagero, de fato.

Mas o etanol traz vantagens:  se, por um lado, reduz o valor energético, por outro aumenta a octanagem, e também a eficiência dos motores.

Quem determina o percentual de etanol?

A ANP é acusada de determinar os elevados percentuais de etanol na gasolina. Não é decisão dela, mas do governo. Muito mais política que técnica: a mistura subiu para 27% durante o primeiro mandato de Dilma Roussef, que cedeu à pressão dos usineiros.

Como fiscalizar a venda da nova gasolina brasileira?

Para conferir se a nova exigência está sendo cumprida, basta mergulhar a gasolina em um densímetro calibrado entre 700 e 750 gramas por litro: se indicar valor abaixo de 715, é prova de combustível adulterado.

Todos os postos deverão disponibilizar o medidor para testar a densidade da gasolina a pedido do consumidor.

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