O paradoxo do carro elétrico no Brasil

O país é dos raros que fornecem energia 'limpa', mas são muitos os obstáculos para se abandonar o motor térmico

carros elétricos autonomia Brasil
Brasil reúne todas as condições ideais para o carro elétrico, mas existem barreiras que impedem a sua massificação (Foto: Ernani Abrahão | AutoPapo)
Por Boris Feldman
Publicado em 10/06/2023 às 09h05

A eletrificação é o inexorável futuro do automóvel. São muitos argumentos apontando para o motor elétrico como sucessor do térmico: sua eficiência é insuperável quando comparada com qualquer motor a combustão, seja à gasolina, álcool, gás ou diesel. Seu “combustível” (eletricidade) pode vir de fonte renovável. Além disso, não exige manutenção alguma, ao contrário das enormes complicações (e despesas) geradas pelo motor a combustão.

O Brasil é ideal para o carro elétrico, pois a recarga de sua bateria na tomada vem de uma eletricidade “limpa”: usinas hidrelétricas, fotovoltaicas ou eólicas. Ao contrário da Europa, por exemplo, que tem  energia elétrica gerada principalmente a partir de usinas de carvão ou diesel. Ou seja, o carro não polui por onde passa, mas onde se produz a energia para movimentá-lo.

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Entretanto, tão cedo o carro elétrico não emplaca para valer no nosso mercado, por várias razões:

  1. Ainda é inacessível por seu custo (R$ 150 mil o mais barato);
  2. impossível ser o único carro da casa pela limitada autonomia;
  3.  dificuldade de se implementar uma infraestrutura de recarga pela grande extensão territorial e também pela baixa adesão ao elétrico;
  4. incerteza de seu futuro no mercado de usados.

Quais as soluções?

  • O carro híbrido pode ser uma alternativa, por não ter custo tão elevado. Seu alcance como elétrico é suficiente para o dia-a-dia de quase todos os motoristas. E de consumo reduzido.
  • Flex? Está comemorando 20 anos desde seu lançamento em 2003, mas ajudou pouco na redução das emissões de CO2 que aceleram o efeito estufa. Pois já rodam quase 85% de automóveis no Brasil com esta tecnologia, mas a gasolina ainda representa 70% do consumo nacional, apenas 30% de etanol.

Que pensam as fábricas?

Algumas, como Stellantis, Volkswagen, Honda e Toyota decidiram investir no híbrido, uma solução interessante para o país. Chinesas e coreanas investem no híbrido e no elétrico. A GM Brasil está numa sinuca de bico: a matriz decidiu não passar pelo híbrido e pular direto da combustão para o elétrico. A filial aqui não tem como escapar deste caminho e a única marca que tenta contestar o incontestável, para defender a política estabelecida em Detroit. A Ford não produz mais no país e importa híbridos e elétricos.

As contas feitas pelos especialistas indicam que o carro movido a etanol tem emissões (do poço à roda) idênticas ou inferiores às do elétrico. Então, a maioria de nossos engenheiros e executivos do setor estão convictos de que o carro a álcool – por enquanto – é solução mais adequada, seja no carro a combustão, seja no híbrido. Ou no elétrico alimentado por fuel-cell com hidrogênio extraído do álcool.

Medo do etanol

eletrico x etanol bombas portal
Elétrico X etanol: Brasil pode combinar ambos (Fotomontagem: Ernani Abrahão | AutoPapo)

Entretanto, existe uma barreira para que o etanol se torne “o” combustível do nosso automóvel: o motorista desconfia dos produtores de álcool depois de inúmeras demonstrações (desde o fim da década de 80) de instabilidade nos preços e volumes do derivado da cana.

O flex surgiu exatamente pelo medo do brasileiro em ter na garagem um carro que só pode ser abastecido com etanol. Motores assim projetados seriam mais eficientes por não terem de funcionar com os dois combustíveis. E nossa frota iria realmente contribuir para a descarbonização, pois o etanol não só emite menos carbono no escapamento como a cana de açúcar ainda o absorve no campo.

Fosse o governo realmente preocupado com a limpeza ambiental, acionaria mecanismos regulatórios para estabilizar volumes e preços do etanol durante o ano, devolvendo ao brasileiro a confiança perdida neste combustível.

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20 Comentários
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Pedro Carlos de Faria Pinto 16 de junho de 2023

Olá, Boris! Carro elétrico já existe desde o século 19. Era pra ter sido assim. Mas os cowboys fizeram diferente. Tenho lido que o primeiro carro à álcool teria sido o Fiat 147. Não é verdade. Foi o Dodginho 1800. Aquele instituto de S J dos Campos foi quem fez. O 147 foi o primeiro de produção em série. Mas, Boris, não concordo que eletricidade seja energia limpa. Barrar um rio não é ecologicamente correto. Ao contrário, causa impactos ambientais ambientais irreversíveis. Ainda mais numa região como a Amazônia onde estão as maiores do Brasil. Um abraço e obrigado pelo debate.

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Nelson Carrico Filho 16 de junho de 2023

Enquanto existirem combustíveis fósseis, canalhas que enchem os bolsos com a venda dos mesmos e governos incompetentes, não haverá nenhum tipo de substituto para os tais fósseis. Li certa vez numa revista automotiva que no início do século 20 já existiam modelos de carros elétricos circulando pelas ruas norte americanas, mas havia o problema da baixa autonomia e falta de pontos de recarga das baterias. Além disso as montadoras usaram de uma estratégia canalha para estimular o uso da gasolina: espalharam que HOMEM GOSTA DE FUMAÇA E BARULHO. QUEM GOSTA DE MOTOR SILENCIOSO E LIMPO SÃO AS MULHERES. E começaram a produzir veículos cada vez mais potentes, beberrrões e poluidores. Enquanto a maldita máfia do petróleo continuar existindo e na ativa, fontes de energia limpas e alternativas nunca chegarão ao topo do mercado energético. No caso dos elétricos já pode ser esperada uma alta absurda nas tarifas de energia elétrica, encarecendo o custo de vida dos menos endinheirados, como acoonteceu na época dos primeiros carros movidos à álcool, em que a diferença de preços entre etanol e gasolina era paga por donos de carros a gasolina. Mais uma vez os pobres vão pagar mais caro pros ricos terem carros mais modernos.

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Santiago 16 de junho de 2023

A eletricidade limpa (hidroelétrica, eólica e solar) já está perto do seu limite, e não teria capacidade extra para abastecer milhões de automóveis a bateria. Isso aqui no Brasil, de longe o maior produtor de eletricidade limpa do mundo.
Já naqueles países que tentam nos forçar a moda dos elétricos a bateria, a maior parte da eletricidade vem das poluidoras usinas termoelétricas e das radioativas usinas nucleares. Sem contar o processo altamente contaminante de produção (e posterior descarte) das baterias de litio. Ou seja, batem o bumbo enquanto só trocam seis por meia dúzia.
Nesse contexto, um híbrido abastecido com gasolina já emite bem menos carbono do que um elétrico a bateria. E se abastecido com etanol a emissão é menor ainda.

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Raphael 16 de junho de 2023

Perfeitamente! Enquadrou bem a situação. O híbrido com opção de flex seria o ideal. Interessante seria bom manter pelo menos o tanque de 50 litros para aumentar a vantagem no quesito autonomia sem ter de usar a parte elétrica do carro posto que nas estradas o consumo é maior no combustível líquido e pouco uso da parte elétrica. O elétrico plug-in no BR é sonho tendo em vista nossa malha de produção elétrica. E ademais porque depende da natureza fazer chover para gerar energia nas hidroelétricas.

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Gustavo 15 de junho de 2023

Carro elétrico 100% é furada, aqui e no resto do mundo, Europa não tem energia nem para eles, Brasil tem tecnologia flex e podemos produzir álcool não somente da cana, é apenas o governo dar incentivo que pode-se produzir alcool de outros diversos produtos. O elétrico já nasceu morto, temos que desenvolver e aperfeiçoar a tecnologia híbrida onde usa-se o elétrico mas também o de combustão que quando em funcionamento gera energia para rodar no elétrico. A poluição não é devido os carros a combustão, estes representam pouco % de responsabilidade, a China que é maior poluidora do mundo deveria cuidar de melhorar sua indústria altamente poluidora e se preocupar menos em querer eletrificar os carros, pura enganação para o mundo.

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LUIZ GUILHERME BARROS SANTOS 15 de junho de 2023

Muito correta sua análise : Para mim também está claro que o carro híbrido, sem plug-in, é a solução mais indicada para o Brasil, um país com grande extensão territorial e extensa rede de rodovias. Esses modelos podem e devem ser equipados com motores elétricos para propulsão, complementados por motores a combustão operando com ciclo Atkinson destinados exclusivamente a recarregar as baterias do circuito elétrico ( dispensando turbos e sistemas de variação de abertura das válvulas ) ; O resultado desta solução é uma maior autonomia, baixo custo operacional e total independência de pontos de recarga elétrica ! Bem, ainda resta a opção dos sistemas FUEL CELL, que promovem eletricidade imediata a partir do hidrogênio obtido no processo. Mas isso é conversa para outro dia, OK?

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Georges 15 de junho de 2023

Estamos nesse exato momento com uma política meia boca para baratear o custo dos carros de entrada. Então discutir eletrificação parece meio fora do esquadro.Todo equipamento tem e terá manutenção e uma hora o elétrico também pedirá uma. Só de cara a troca de uma bateria já paga umas 10 ou mais manutenções dos outros, é uma “economia” que será paga à vista naquele momento.Creio que nesse momento eletrificação de frota deve começar com motocicletas, scooters e, quem sabe, veículos de entrega. Quando a produção lá fora evouir para baterias com maior autonomia e fabricadas a um custo bem melhor aí então poderemos pensar em trazê-la para cá. Por enquanto é popular e suv modinha. Mataram o Cruze HB que éra um baita carro e um monte comprando Honda HB que nem chega aos pés dele, 40 mil a diferença? Sem falar que a Tracker é mais cara e com menos a oferecer de acabamento….suv né?

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Gilberto Correia de Oliveira 15 de junho de 2023

Teoricamente, o Brasil nem deveria se preocupar com carro elétrico, que ficaria restrita apenas à classe alta, devido aos preços inviáveis. São carros para dois ou três anos, pois nesse tempo, a ciclagem das baterias já esgotaram, e a troca por conjunto novo custaria o preço do veículo usado. O etanol, que seria o grande trunfo, fica condicionado à inúmeros fatores: preço do açúcar no mercado internacional( que dá mais lucro), a eterna malandragem de usineiros, que buscam polpudos valores de financiamento e não pagam a dívida( bopa parte), e o despreparo de governantes que estão preocupados apenas em arrecadar, sem contrapartidas. Enfim, nunca tivemos uma política séria nesse país, e isso torna impossível qualquer previsão. Flex, sabidamente não é solução, pois consome mais gasolina que um motor exclusivo para gasolina e o mesmo ocorre no álcool. Um motor bem desenvolvido à alcool poderá ter o consumo igual ao movido a gasolina. Aí o preço cobrado seria vantajoso para todos, usineiros, montadoras e consumidores, e sem poluição.

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amarildo rossi papa 15 de junho de 2023

Em alguns lugares na Europa já estão pedindo para não carregar os elétricos pois não tem eletricidade sobrando. O carro elétrico já nasceu morto… O caminho é o híbrido sem plugin.

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Erwin Franieck 14 de junho de 2023

Caro Boris, o Etanol já fez muito pela descarbonização com a solução FLEX, primeiro criando uma frota de 40 milhões de veículos que estão preparados para abandonar os combustíveis fósseis . Dos 70% abastecidos com gasolina já temos 27% de etanol , ou seja já temos 50% do volume de combustível fóssil já substituído . Ninguém no mundo chegou nem perto . A eletrificação é bem vinda e o Brasil tem como quebrar muitos paradigmas e se transformar em um país exportador de soluções com grande valor agregado de metais nobres já processados para baterias , umas de terras raras, níquel metálico, ligas metálicas refinadas , etc, e quando chegar o elétrico teremos a indústria
Nacional puxando a transformação desta ampliação da frota eletrificada .

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Eduardo 14 de junho de 2023

Boa noite, realmente o assunto é bem interessante e nos leva a refletir que já tivemos veículos só a etanol no passado que eram eficientes e não gastava tanto e desapareceram(porque?), ai vem a pergunta o que fazer com a Petrobrás/Governo e todos que estão pendurados na Petrobrás.

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Paulo C S Monteiro 14 de junho de 2023

Toda vez que vejo qualquer iniciativa de tal envergadura eu me pergunto a quem essa bandeira vai trazer benefícios e lucros? Sei que num mundo capitalista como o nosso até os supostos socialistas destacados, gostam de whisky 18 anos , caviar russo e champanhe francesa…imagine se o governo emplaca essa bandeira quanto o Agro negócio não vai lucrar???Além do que já lucra!

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Paulo C S Monteiro 14 de junho de 2023

Toda vez que vejo qualquer iniciativa de tal envergadura eu me pergunto a quem essa bandeira vai trazer benefícios e lucros? Sei que num mundo capitalista como o nosso até os supostos socialistas destacados, gostam de whisky 18 anos , caviar russo e champanhe francesa…imagine se o governo emplaca essa bandeira quanto o Agro negócio não vai lucrar???Além do que já lucra!

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Paulo Augusto Franke 14 de junho de 2023

Quando o Brasil vai se libertar dessa praga macabra que é o etanol? Quando vamos nos libertar dessa eterna solução de ‘curto prazo’, sem noção, sem sentido e sem lógica? Ou o etanol é melhor que a eletricidade, ou o etanol é pior. Não existe a opção de esperar o ‘curto prazo’ passar, se o etanol for pior que a eletricidade. E é espetacularmente óbvio que o etanol é uma opção medieval para a mobilidade moderna. Coisa de gloriosos débeis mentais.

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José Francisco de souza 14 de junho de 2023

O carro a hidrogênio é a melhor opção para o Brasil, inclusive a Toyota está em estudos e desenvolvimento para esse motor para os carros Brasileiros.

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Polvo 12 de junho de 2023

Tem uma questão em relação as baterias, que ainda não está bem claro, que é o impacto no meio ambiente para a extração dos componentes para produzi-las, bem como o descarte das baterias velhas. Qual o impacto disso na natureza e na saúde humana, caso haja descarte incorreto? A contaminação do solo e da água com tais componentes o que pode causar?

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Daniel 15 de junho de 2023

Sempre falo quando se coloca o custo de carbono todo desde a extração do metais até a fabricação das baterias. Rodar com um maverick V8 ou um Opala 6 cilindros, ou qualquer pick up grande aDiesel no dia – a dia é melhor pro meio ambiente que usar um elétrico a bateria (estou falando do elétrico a bateria Não o com célula combustível a movido a etanol), que depois terá que ser descartado e ou terá que ter sua bateria trocada, o que não vale a pena, sem contar que se toda a frota fosse elétrica além de se ter meios para produzir tanta eletricidade o custo da luz subirá muito imagina vc que hoje paga duzentos contos na sua conta de luz sendo que não tem nem ar condicionado em casa, se a necessidade de mercado for grande ela vai subir já pensou pagar 400, 500 conto de luz porque os carros precisam de eletricidade.

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Carlos 10 de junho de 2023

Concordo.
Apesar do imenso jabá feito na mídia (invariavelmente vira latas) em prol da eletrificação veicular, é muito claro que o trunfo que o álcool nos proporciona, não pode ser desconsiderado por ninguém.
Se a GM acha que apenas carros elétricos tem futuro, azar o dela.
E palmas ao CEO da Stelantis que vê justamente vantagem da hibridização levando em conta o álcool; inclusive desenvolvendo motor para otimizar o derivado da cana.
Vamos ver os próximos capítulos.

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Bruno 10 de junho de 2023

Efeito estufa? Isso já foi provado que nâo existe.

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Santiago 10 de junho de 2023

Concordo plenamente que as tecnologias híbridas são a melhor e mais honesta opção para o nosso mercado. Especialmente se acompanhadas por medidas governamentais que garantam o fornecimento pleno do etanol.
Lembrando ainda que a nossa eletricidade limpa (hidroelétrica, eolica e solar) não teria capacidade extra pra alimentar uma hipotética frota composta por dezenas de milhões de automóveis elétricos a bateria.

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