Preço dos combustíveis: em berço esplêndido, mas incentivando a carbonização

Nada de investir em biocombustíveis: pelo contrário, em ano eleitoral vale tudo, até subsidiar combustível fóssil

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Uso de gasolina e diesel está em declínio nos países desenvolvidos (Fotos: Shutterstock)
Por Boris Feldman
Publicado em 12/02/2022 às 08h03
Atualizado em 18/02/2022 às 15h27
  • Parlamenteres e governo querem baixar preço de combustível com subsídios
  • Gasolina brasileira está na média de preço mundial; renda da população é baixa
  • Brasil está na contramão do mundo ao incentivar combustível fóssil

Nas últimas semanas, tomou conta do noticiário econômico a tentativa de redução do preço dos combustíveis. Parlamentares empilham projetos para baratear seu custo. O Congresso examina o assunto. O governo elabora emendas.

O país continua deitado em berço esplêndido, sobre infinitos recursos naturais, mas faltam centros de pesquisas, cientistas, laboratórios e verbas voltadas para explorar esta riqueza e transformar o Brasil num exemplo de modernidade e independência energética.

É uma vergonha estarmos engalfinhados numa guerra tributária para reduzir o preço do combustível fóssil. Uma pilha de propostas para criar fundo especial, reduzir impostos do diesel e gasolina, alterar o cálculo do tributo estadual (ICMS) ou taxar as exportações e os dividendos da Petrobrás. Toda essa trapalhada para estimular a queima de carbono.

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Em ano eleitoral, vale tudo. Até atropelar as ponderações do Ministério da Economia, já nocauteado por poderosos políticos que ditam hoje as regras do jogo econômico.

Tem que baixar o preço da gasolina pois ela está entre as mais caras do mundo. Mentira: está próxima do valor médio internacional. Mas o bolso do brasileiro sofre mais, pois seu salário é muito inferior ao de outros países. Se fosse mesmo para reduzir, que seja o diesel, que influi diretamente no custo do arroz, feijão e do transporte público.

Redução de impostos de combustíveis é tiro no pé

boca tanque de combustivel
Preço de combustível nas alturas tem vários motivos

Redução de impostos é um tiro no pé e só funciona a curto prazo. As dezenas de bilhões de reais que se deixam de recolher desajustam as contas públicas. Que tem como efeito imediato uma distorção cambial que empurra o dólar para cima. E, se a moeda americana sobe, o custo do petróleo acompanha e, junto, o custo dos combustíveis. A médio prazo, volta tudo à estaca zero. Mas deixa os cofres públicos arrombados.

“Não! – protesta um parlamentar – é só dar um basta a esta inexplicável política de equiparar preços dos combustíveis ao dólar. Afinal, a Petrobras não extrai o petróleo de que necessitamos?”.

O ignorante nem imagina que os custos da Petrobras para extração do petróleo são debitados em moeda estrangeira. Plataformas marítimas, máquinas, insumos, navios, helicópteros. Ignora também que nosso ouro negro é do tipo pesado e nossas refinarias só estão capacitadas ao refino do tipo leve. Então exportamos o que extraímos e importamos o que refinamos. Nada em moeda nacional.

Além disso, soluções emergenciais não levam a lugar nenhum. Dona Dilma tentou represar os preços dos combustíveis derrubando sua flexibilização em relação à cotação internacional do petróleo e do dólar. Quase quebrou a Petrobrás e nada resolveu.

Matriz energética brasileira

Pior ainda: o país já deveria ter estabelecido uma política de longo prazo em relação à matriz energética. Que sentido faz propor incentivo ao uso do petróleo nos dias de hoje? Combustível fóssil está mais que condenado no mundo inteiro e já sofre desincentivos e proibições nos países desenvolvidos. Carbonização virou palavrão.

Inacreditável que o Brasil ainda não tenha estabelecido uma política energética adequada aos nossos recursos naturais. Somos um dos maiores produtores de biocombustíveis do mundo. Já temos etanol para substituir a gasolina. E dois tipos de biodiesel para o transporte pesado. Um deles já vai misturado ao diesel (10%, o B10), mas ainda sofre algumas restrições.

Entretanto, existe um segundo (“Diesel Verde”) chamado HVO (Hydrotreated Vegetal Oil), o óleo vegetal hidrotratado. Este, em fase experimental no Brasil e com previsão de construção das primeiras usinas para produzi-lo, tem a mesma molécula do diesel obtido do petróleo e pode ser usado 100% pelos motores.

Hidrogênio do etanol

Tivesse o governo federal sensibilidade para destinar recursos à pesquisa de novos combustíveis, já poderíamos estar obtendo – em escala industrial – hidrogênio a partir do etanol. E acionar com ele células a combustível (Fuel Cell) que geram energia para movimentar veículos elétricos. Abastecer um carro elétrico com etanol seria verdadeira sopa no mel num país que já o tem disponível em toda a rede de postos.

Entretanto, a pesquisa para viabilizar o etanol como combustível do carro elétrico não conta com verbas federais e está sendo realizada apenas por duas universidades paulistas financiadas por empresas do setor, Nissan e Volkswagen. A recém-vinda chinesa GWM também anunciou intenção de pesquisar esta opção.

O resumo da ópera é que, ao invés de estarmos discutindo incentivos aos combustíveis fósseis, já deveríamos – há tempos – estar desenvolvendo nosso potencial para movimentar a frota com energia limpa e renovável.

E exportando petróleo, enquanto é tempo…

Falo sobre os “carros elétricos a etanol”

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35 Comentários
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JOÃO CARLOS SIQUEIRA DUARTE 26 de maio de 2022

Vamos resolver os nossos problemas que é o combustível, deixe que seja taxado pela cota internacional,venderemos toda a nossa produção bruta,
E compraremos dos nos vizinhos já beneficiados é simples resolvemos a crise do combustível.
Vamos para definição: TODO PODER EMANA DO POVO, FAÇAMOS VALER O QUE DIZ A CONSTITUIÇÃO.

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JOÃO CARLOS SIQUEIRA DUARTE 26 de maio de 2022

Gostaria de entender por que motivo os custo da gasolina, no Pais vizinho são tão diferente,,
para solucionar esse problema é simples e barato vamos comprar o volume os oito% que precisamos,
O então para sermos mais inteligentes, venderemos toda à produção bruta, e compramos o que precisamos já beneficiado.
com isso vamos reduzir o custo mais de 50%. é simples o que emperra esse pais é a politica.

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Paulinho Gomes 17 de fevereiro de 2022

No país dos bananas, onde o presidenthe só quer comprar fuzhil e agradar banqueiros e empresários milionários, phodan-se povo banana com suas carroças e salário miséria.
Esta matéria é a fotografia da desghraça de um país a anos está totalmente desghovernado.

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Paulinho Gomes 17 de fevereiro de 2022

…* que a anos está totalmente desghovernado.

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yuri 18 de fevereiro de 2022

Dor de cotovelo de quem queria ter um “Fuzhill”

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Paulinho Gomes 18 de fevereiro de 2022

B/o/l/s/o/ m/i/n/i/o/n/h D/e/t/e/c/t/

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Daniel F Oliveira 17 de fevereiro de 2022

Caro Boris, tá muito caro o combustível aqui. e como ganhamos nosso salário em reais. não justifica pagar 7 reais o litro da gasolina ou 5,50 o Disel. A conta é simples a economia precisa circular e para isso os custos tem que ser menores ou os salários maiores como durante a crise não veremos melhoria salarial. se o transporte for caro, tudo encarece. as pessoas deixam de gastar com lazer, diversão, as vezes até com a sua alimentação e saúde e com os cortes, tira se o filho da escola particular e ou de algum curso, cancela se um plano de saúde e ou troca por um de menor cobertura, eu faço isso meu vizinho também e em cada 10 famílias 3 cortam gastos, para comprar o essencial e isso gera desemprego que vai virando uma reação em cadeia.

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Fabio 17 de fevereiro de 2022

O maior problema do ICMS sobre combustíveis que motiva a tal “guerra fiscal” é a forma de cálculo que faz a aliquota real ser muito maior do que a nominal que os estados declaram. Essa forma de cálculo foi uma “jabuticaba” que salvo engano foi inventada pela D. Yeda Crusius ainda na década de 90, durante a crise dos tigres asiáticos ou da Rússia.

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yuri 17 de fevereiro de 2022

Muito fácil. abasteci 350 reais. Imposto Federal, 47. Estadual 88 reais. Está na nota fiscal. Zera o imposto e reduz o etanol de 30 para 10, e a gasolina volta para o preço de 1990, além de podermos ir menos no posto.

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Samuel 17 de fevereiro de 2022

Fácil pro dono do posto quer dizer… não lembra da bolsa empresário da Dilma? Baixar imposto não necessariamente reflete em baixa de preço se todo mundo continuar praticando o mesmo preço… Depois vai fazer o quê? Crucificar os frentistas? Problemão desse não se resolve com solução simplista e imediata.

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yuri 18 de fevereiro de 2022

Por via das dúvidas, melhor seria extinguir o imposto. Imposto é dinheiro morto, mesmo. Imposto é um valor pago para um serviço o qual você não tem direito à devolução em caso de serviço não entregue.

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Mathias 24 de fevereiro de 2022

Só precisa combinar antes com o dono do posto.

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wagner paganelli 17 de fevereiro de 2022

Não vem com essa conversa que baixar imposto é um tiro no pé, nossos impostos são os mais altos do mundo, o icms é um roubo, acho que vc está puxando o saco de alguém, ou recebendo algum por fora, vai saber, já quanto a desenvolver veículos híbridos por aqui acho bom.

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Josh BigHead 17 de fevereiro de 2022

Só sei que a Petrobrás não pode ter prejuízo. Tem mandar muitos dividendos para os acionistas americanos. Diesel e gasolina baixar é estória para boi dormir.

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Vivi para ver este jornalista ser contra redução de impostos em um dos países que mais paga impostos no mundo e menos tem retorno. É pra acabar mesmo! A redução do diesel seria benéfica pra todos, afinal tudo que compramos viaja de caminhão. Precisamos sim investir em energia limpa, mas primeiro precisamos resolver os problemas mais graves, para devolver a dignidade a população mais pobre. Não adianta nada incentivar o carro elétrico ou movido a célula de hidrogenio gerado a partir do etanol se o pobre vai continuar pagando caro nos alimentos e no transporte, uma vez que para 99% da população não haveria impacto a curto e médio prazo com isso, até porque carro elétrico é pra rico e ninguém transporta arroz e feijão de carro elétrico.

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Samuel 17 de fevereiro de 2022

Se você tivesse lido a matéria teria visto que ele falou das duas coisas – se é pra baixar imposto que se baixe do diesel – isso reflete em transporte público e principalmente no transporte de mercadorias. E pra quem anda de carro é um tiro no pé querer promover uso de combustível fóssil se a gente pode ter opção de veículo a hidrogênio a partir do etanol (mas as pesquisas têm que andar). Isso sim botaria o Brasil na vitrine, mas para um país que está queimando madeira e carvão pra cozinhar por conta do retrocesso que tivemos, é pedir demais…

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yuri 18 de fevereiro de 2022

Continua sem pé nem cabeça. Reduzir imposto do diesel, que é altamente poluente; manter imposto da gasolina, que é a base da mobilidade populacional; incentivar combustíveis alternativos, os quais não há mercado… será que o jornalista está preocupado com o preço do combustível?

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Sr. Boris Feldman, você é rico e pra você tanto faz a gasolina ou o diesel custarem 10 reais o litro, o botijão custar 100 reais etc. Uma redução do preço do diesel automaticamente afetaria todos os preços do comércio no Brasil, uma vez que praticamente tudo é transportado de caminhão e parte dos custos de um produto é do frete. Se tem algo mais benéfico para a população mais pobre, desconheço. O Brasil não precisa de incentivo ao carro elétrico, até porque o mesmo ainda só é possível de ser adquirido por pessoas como o senhor, que ganham em 1 semana o que 99% da população ganha em 1 ano. Não seja hipócrita.

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Paul Muadib 16 de fevereiro de 2022

A PETROBRAS já refina 55% do óleo do pré-sal, então esquece essa historinha de que mandamos tudo para fora para voltar em gasolina.

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Ramon 16 de fevereiro de 2022

O Brasil é um hospício de políticas públicas feitas nas coxas. A catastrofe do Proalcool por exemplo, bastava haver um contrato pra obrigar os produtores de etanol da época a manter o abastecimento nao importanto o preço do açucar e teríamos toda uma frota a alcool descarbonizada, teríamos economizado centenas de bilhões de dolares com importação de gasolina, melhorado a qualidade do ar e gerado empregos. A opção pela celula a combustível a etanol certamente seria a melhor pro Brasil já que o custo de rodagem seria similar ao elétrico sem a complicaçao da recarga (e o biometano seria ainda mais barato podendo ser deixado pros pesados como caminhões, navios e aviões por exemplo), mas…. Estamos em banania e vamos perder essa chance. Cansa estar num país de ignorantes que votam como se fosse big brother seja porque Pai Polvo vai salvar o Brasil com picanha e cerveja ou porque o miliciano nao gosta de gays como manda a familia tradicional brasileira que assistia a banheira do gugu

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yuri 18 de fevereiro de 2022

Ainda bem que você não está lá em cima na cadeia de comando… imagina o fracasso que seria uma sociedade movida à álcool, o fracasso que sria.

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Nelson 12 de fevereiro de 2022

Enquanto a Idustria automobilística ditar as regras vamos viver nessa mesmo dilema de um transporte caro e ineficiente.

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Rodolfo 12 de fevereiro de 2022

O Brasil devia ter trem de carga de norte a sul, de leste a oeste… isso sim nos deixaria independentes do diesel e a baixaria o preço dos alimentos.

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Polvo 12 de fevereiro de 2022

Concordo, um país do tamanho do Brasil transportando quase tudo por rodovias é bizarro.

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Rodolfo 12 de fevereiro de 2022

Muito obrigado!

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Nesse sentido o atual governo tem construído e ampliado ferrovias com este intuito, barateando o transporte. Mas os trens também são movidos a diesel e não adiantaria muito se o diesel continuasse custando caro.

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yuri 17 de fevereiro de 2022

Foi dito isso e pronto, greve dos caminhoneiros.

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Rodolfo 12 de fevereiro de 2022

Acho que o problema do Brasil é muito mais embaixo… escola pública de qualidade faria o povo saber votar. Mas Boris você defender preço internacional não acho certo, pois a renda média do brasileiro é 8nferior a do europeu.
Boris você tem carro elétrico? Se sim quanto custa o jogo de baterias dele após o término da garantia?
Abraços

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Matéria vendida, não tem como se opor a uma medida tão benéfica para a população pobre, que é a redução do preço do óleo diesel, que impactaria na redução dos preços de todos os produtos vendidos no comércio devido ao frete mais barato. Mas esse tipo de atitude mal caráter é normal vindo do jornalista que escreveu…

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Céligny 12 de fevereiro de 2022

“o diesel, que influi diretamente no custo do arroz, feijão e do transporte público”.
Que também alimenta picapes e grandes suves…
Somente concordarei com o subsídio do diesel, se forem eliminadas todas as picapes e suves movidos por esse combustível.
Subsidiar combustível para quem tem posses é coisa de Brasil mesmo.

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Esse foi o comentário mais podre de todos até agora. Por causa de 2% da população que tem picape e SUV movido a diesel, você vai deixar de beneficiar toda a população pobre do país com a redução do diesel, que geraria um efeito em cascata reduzindo o preço dos produtos nas prateleiras – principalmente alimentos – uma vez que o frete ficaria mais barato. Você é doente.

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yuri 17 de fevereiro de 2022

Subsidiar algo num governo Socialista como o nosso significa manter os impostos elevados para custear o subsídio, mas a conta não fecha pois o imposto é mal aplicado e ficamos com déficit.

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Jefferson 12 de fevereiro de 2022

Excelente texto Boris. Temos opções para não depender tanto da gasolina, basta mais incentivo ao invés de populismo em ano eleitoral.

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Wesley 16 de fevereiro de 2022

Horrível texto. Incentivo uma pinóia, o pobre está sofrendo com os preços dos produtos e dos combustíveis, e abaixando o preço do óleo diesel automaticamente reduz o preço dos produtos comercializados já que o frete ficará mais barato. O Brasil não precisa de carro elétrico, precisa primeiro dar dignidade ao seu povo. Não se trata de populismo, se trata de facilitar a vida das classes mais baixas, que durante a pandemia foi impedida de trabalhar e viu sua renda, seu poder de compra e sua dignidade ir para o espaço.

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yuri 18 de fevereiro de 2022

Melhor comentário até agora… já começa pela falta de dignidade em não poder escolher entre gasolina com menos etanol, ainda tem que pagar 1:1 entre produto e imposto.

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