Rádio do carro: que saudade dos botões redondinhos

"A tela multimídia tem tantas funções que, se descubro como ligar o rádio, só consigo ouvir as emissoras registradas na memória. E olhe lá..."

radio antigo shutterstock
Por Boris Feldman
Publicado em 14/12/2019 às 09h00
Atualizado em 14/12/2019 às 14h42

Confesso que me sentia meio constrangido com minha inépcia ao lidar com as modernas tecnologias, até perceber a mesma dificuldade num jovem que formava dupla comigo, durante o lançamento de um modelo importado.

Quando ele assumiu a direção, eu estava certo de presenciar um show de habilidade. Mas ele praguejava sem conseguir sintonizar uma estação no rád… (desculpe) na tela multimídia.

Morro de saudade dos antigos rádios com dois botões redondinhos: o da esquerda ligava e aumentava o volume, o da direita sintonizava as estações.

radio antigo de carro

Som no carro? Teve um chiquérrimo toca-discos que se instalava sob o painel, com uma suspensão interna que permitia tocar disquinhos sem que a agulha pulasse. Mas, claro que, às vezes pulava.

Durou pouco e foi logo substituído pelos toca-fitas K7, que convivo até hoje nos carros antigos. Aí chegaram os CD Players, com invejável qualidade de som.

Alegria que durou pouco pois  desapareceram, substituídos pelo USB ou por entrada nenhuma: meu filho já ouve (por Bluetooth) no som do carro as músicas armazenadas no celular. Ou pelo Spotify.

A tela multimídia tem tantas funções que, se descubro como ligar o rádio, só consigo ouvir as emissoras registradas na memória. E olhe lá…

Quando o carro enguiçava, muitas vezes se resolvia o problema com uma lixa de unha no platinado ou um “araminho” para desentupir o carburador. Platinado e carburador já foram há tempos para o museu. E carro dificilmente enguiça.

Envenenar motor de carro era para poucos: exigia talento, tempo, paciência e muito conhecimento técnico. Hoje, tudo se resolve em minutos com a troca de um chip na central eletrônica. Motorista pode até – acreditem – aumentar eletronicamente o ronco do motor.

Espelho retrovisor é uma encrenca: embaça, suja, sai da posição, prejudica a aerodinâmica e esbarra nas paredes da garage. Agora, ele já tem desembaçador, a regulagem é elétrica, e se recolhe eletricamente. Mas às vezes esbarra em outro carro e quebra. Aliás, não precisa mais do outro carro: motoqueiro irritado o destrói.

Mas os retrovisores já estão sendo eliminados: visão perfeita, lateral e traseira, por câmeras.

Ainda tem o pneu que fura. Primeiro avanço tecnológico é o run flat, acessível para poucos e não adequado para nossas crateras asfálticas. Quando só fura (e não rasga), dá para continuar rodando até o posto. Mas já se desenvolve solução ainda melhor, que não fura. Por via das dúvidas, o quase medieval macaco continua firme no porta-malas.

Te aborrece puxar a vareta do nível de óleo? Tem uma novidade que vai acabar com ela, e também com a troca do óleo do motor e da caixa. Não vai ter embreagem para trocar, nem correias, filtros de óleo, combustível, e ar. Nem checar o nível do líquido do radiador. Chama-se motor elétrico. É isso mesmo, com uma única peça móvel que dura mais que o carro e não requer nenhuma manutenção.

Não é sonho de uma noite de verão: ainda são caros e inadequados para longos trajetos, mas já estão à venda. Na hora da revisão, só parte elétrica, freios e suspensão. Cano de descarga despencando, nunca mais.

O passo seguinte é o carro autônomo. Fim do volante, alavancas e comandos. Nada de motorista: é só entrar e digitar o endereço no painel. Ou por comando de voz: “Me leve ao escritório e depois busque minha mulher na loja”.

Os avanços tecnológicos continuam e cada dia surge mais uma novidade que derruba antigos hábitos e procedimentos. Só tem um equipamento que não se altera há mais de um século: o limpador do para-brisa. Elon Musk (Tesla) acabou de anunciar que desenvolve um sistema a laser. Será? Para mim, uma invenção literalmente sujeita a chuvas e trovoadas.

Muitas das tecnologias aplicadas aos automóveis vieram da aeronáutica. Avião tem até hoje as arcaicas palhetas varrendo seus vidros. Então, enquanto a Boeing ou Airbus não aparecerem com uma novidade, duvido que o carro tenha alguma.

Foto Shutterstock

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4 Comentários
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Roberto 19 de dezembro de 2019

Iniciei minha carreira profissional como aprendi de mecânico eletricista numa concessionária Willys.
Nessa época instalei muitos auto-rádios da marca Telespark nos Aero Willys e Rural Willys.
Eles eram desse tipo, com OM e OC (Ondas Médias e Ondas Curtas). Na época o AM era chamado de Ondas Médias. Não tinha FM e nem precisava porque na minha cidade não tinha nenhuma emissora de FM.
Nessa concessionária só vendiam rádios da marca Telespark. Alguns não funcionavam ou funcionavam mal. Então eu tinha de testar na bancada antes da instalação para só instalar o que funcionava.
De vez em quando vinha um cliente com um Blaupunkt para instalar num Aero Willys ou Rural Willys. Esses da Blaupunkt eram muito bons, eram incomparáveis com os Telespark.
.

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Antonio Issao 18 de dezembro de 2019

Boris, esqueceu do cambio; da alavanca…..muitos já não tem mais
Ainda bem que na nossa língua existe a palavra saudade…senão, nem isso sentiríamos

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Edison Ribas 16 de dezembro de 2019

Acho que não estamos evoluindo tanto quanto a tecnologia.

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Marcos 15 de dezembro de 2019

Triste

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