Salão vai dançar?

Dos 700 mil visitantes que visitam o Salão de São Paulo, quantos têm saldo bancário para comprar uma Ferrari ou um Rolls-Royce?

salao sp deni williams shutterstock
Por Boris Feldman
Publicado em 15/02/2020 às 09h00

O empresário Sérgio Habib contratou (em 2016) uma pesquisa na saída do Salão do Automóvel (no Anhembi) a respeito do estande da sua JAC Motors. Perguntava-se aos visitantes se tinham aprovado as modelos, sua roupa, conhecimento sobre os carros e a marca. Se os automóveis estavam bem expostos, a localização do estande, iluminação, fichas técnicas, etc. A maioria dos entrevistados aprovou, e apenas alguns itens foram criticados.

O “único” problema é que Habib não tinha montado um estande da JAC naquele ano, por já ter percebido o problema levantado agora por outras marcas: salão traz retorno ao investimento de milhões?

Os grandes salões internacionais estão às voltas com polêmica semelhante e várias marcas importantes não montaram estandes em Paris, Frankfurt, Detroit, Tóquio e outros.

VEJA TAMBÉM:

Marcas que estão de fora do Salão de SP 2020

O Salão de São Paulo, terceiro maior do mundo e marcado para novembro deste ano, enfrenta o mesmo problema pois 14 marcas já negaram presença: Chevrolet, Hyundai, JAC, Peugeot, Citroën, Toyota, Lexus, BMW, Mini, Volvo, Mitsubishi, Suzuki, Jaguar e Land Rover.

Todas alegam altos investimentos, que variam de R$ 5 milhões  a mais de R$ 20 milhões, sem retorno efetivo de vendas e reclamam da impossibilidade de realizarem vendas no salão, pois a legislação brasileira proíbe a comercialização direta ao consumidor.

As de carros premium alegam que apenas uma insignificante parcela dos visitantes (estimados em 700 mil) tem condições de adquirir seus modelos. Pode até valer a pena, dizem elas, investir no imaginário de cada um. Mas, a que custo?

Além de vitrine para visitantes, os salões sempre repercutiram a novidade na imprensa. Entretanto, o peso crescente das redes sociais reduz a importância dos veículos tradicionais (impresso e tevê). Além disso, o grande número de novidades das dezenas de marcas dilui o impacto de cada uma na mídia e várias fábricas estão – mundo afora – apresentando novos modelos antes ou depois dos salões para garantir mais espaço nos veículos de comunicação.

A empresa que organiza o de São Paulo (Reed Exhibitions) está fazendo das tripas coração para tentar reverter a debandada. Até pelo risco de as marcas que confirmaram presença aderir à ideia da ausência. Ou pelo receio de baixa frequência se o público perceber seu esvaziamento.

salao sp deni williams shutterstock

Revivendo

O Salão de SP já enfrentou situação mais complicada: em 1986, a associação das montadoras (Anfavea) decidiu não participar coletivamente do salão, pois o mercado estava em baixa (devido ao Plano Cruzado) e os organizadores se recusavam a reduzir preços. A solução foi trazer 59 carros norte-americanos, europeus e asiáticos, de luxo e esportivos.

Verdadeiro colírio para os olhos do público numa época em que as importações estavam proibidas. E, para completar, pequenas empresas nacionais que produziam esportivos, bugies e carros customizados.

No próximo Salão de SP, a decisão não é coletiva e várias montadoras confirmaram presença (Volkswagen, Fiat, Ford, Renault, Nissan, Jeep, Ram, Dodge, Troller) enquanto outras estudam: Honda, Mercedes-Benz, Porsche, Kia, Audi,  Ferrari, Lamborghini, Maserati, Rolls-Royce, Caoa Hyundai, Caoa Chery, Subaru.

Qual o plano da Reed? Ela promete uma grande reviravolta neste próximo salão, que será baseado, segundo ela, “em quatro grandes pilares: evolução, tecnologia, mobilidade e entretenimento”.

Pistas de testes (incluindo uma especial para veículos autônomos) serão disponibilizadas. Além disso, cada visitante terá um QR Code na pulseira para ser identificado e procurado mais tarde para se efetivar a venda.

A ideia de apelar para tecnologia e mobilidade em São Paulo vem de Las Vegas (EUA), onde acontece anualmente o Consumer Electronics Show (CES), que não é um salão de automóvel, mas de tecnologia e eletrônica.

Enquanto os tradicionais definham, o CES ganha relevância cada ano e atrai toda a indústria automobilística. Na última edição, no final de 2019, a Sony, que não produz nem pretende produzir automóveis, levou um protótipo para exibir seus dispositivos desenvolvidos para o setor.

O CES responde a questão do conceito do novo automóvel: veículo carregado de eletrônica ou computador sobre rodas?

Deve ser em Las Vegas que o Salão de São Paulo quer chegar…

Foto Deni Williams | Shutterstock

Newsletter
Receba semanalmente notícias, dicas e conteúdos exclusivos que foram destaque no AutoPapo.

👍  Curtiu? Apoie nosso trabalho seguindo nossas redes sociais e tenha acesso a conteúdos exclusivos. Não esqueça de comentar e compartilhar.

TikTok TikTok YouTube YouTube Facebook Facebook X X Instagram Instagram

Ah, e se você é fã dos áudios do Boris, procure o AutoPapo nas principais plataformas de podcasts:

Spotify Spotify Google PodCast Google PodCasts Deezer Deezer Apple PodCast Apple PodCasts Amazon Music Amazon Music
SOBRE
2 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Comentários com palavrões e ofensas não serão publicados. Se identificar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Avatar
cleriston rabelo dos santos 17 de fevereiro de 2020

Eu acho que cada um sabe onde o calo aperta, se a empresa que organiza o salão não rever o quanto quer lucrar vai acabar sem nada, dou todo apoio as montadoras que deixaram o salão.

Avatar
Gilberto Fernandes Lima 17 de fevereiro de 2020

Parabéns pelos comentários. Muito bem esclarecidos para todos. Isto prova também que a tecnologia está fazendo muitas mudanças no setor automobilístico. Principalmente quando cutuca as finanças de todos (principalmente das montadoras) e para ajudar o repensar delas, de quebra tem o coronavirus. Bom trabalho Bóris.

Avatar
Deixe um comentário