Seu carro pode estar coletando seus dados pessoais. Entenda

Os carros modernos estão cada vez mais conectados e cheios de funções. E eles armazenam milhares de informações diferentes sobre seus motoristas

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O carro pode ser uma forma mais fácil de acessar os dados do celular (Foto: Shutterstock)
Por Eduardo Rodrigues
Publicado em 21/06/2021 às 14h18
Atualizado em 13/09/2023 às 18h20

Nos últimos anos os smartphones se tornaram uma extensão da vida das pessoas. O aparelho com suas funções de GPS, câmera e acesso a internet facilita na vida diária, além de servir para conferir informações bancárias, guardar dados pessoais e gerenciar a comunicação pessoal ou de trabalho.

Os carros estão acompanhando as evoluções da telefonia para trazer as comodidades dos smartphones para os motoristas. As centrais multimídia hoje podem espelhar os telefones e também contam com GPS, que pode armazenar locais de interesse e rotas usadas frequentemente.

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Quando a conveniência fica inconveniente

O problema com isso começa na hora de vender o carro. Os consumidores nem sempre se preocupam em limpar seus dados da central multimídia do carro, deixando o trabalho para o próximo dono ou loja que ficou com o usado.

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Ao parear seu celular com a central, ou mesmo plugando na porta USB para carregar, o carro coleta dados do aparelho e os armazena. (Foto: Jeep | Divulgação)

Alguns fabricantes, como a Ford, possuem aplicativos de celular onde o dono do carro pode destrancar portas, realizar uma partida remota e vigiar a localização do carro. Uma pesquisa realizada na Inglaterra mostra que metade dos donos de carros com esse tipo de aplicativo fizeram a remoção dos dados do carro da maneira correta.

Quando o aplicativo é apenas desinstalado sem limpar os dados, o celular ainda é cadastrado ao carro. Com isso é possível vigiar e controlar um carro que já foi vendido.

Os Tesla coletam informações até desligados

Um hacker norte-americano especializado nos sistemas de software e hardware das Tesla invadiu os computadores de alguns veículos batidos da marca e descobriu diversas informações: lista de contatos dos telefones pareados com a central, calendários com compromissos dos usuários — incluindo endereços de email, — histórico do navegador com endereço de residência e até imagens das diversas câmeras do carro.

Os carros acidentados da Tesla mantém armazenado vídeo do acidente, incluindo dados como localização, horário, quais telefones estão pareados no momento do acidente e as últimas atividades do telefone. As cameras também gravam enquanto o carro está desligado.

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Os carros da Tesla armazenam gravações de suas câmeras até quando estão estacionados. E o fabricante se recusa a compartilhar os dados quando exigida. (Foto: Tesla | Divulgação)

O fabricante se recusa a passar esses dados de acidentes para consumidores e seguradoras, exigindo uma intimação judicial para fornecer os dados. A Tesla também não revela o motivo de seus carros gravarem tantas informações e armazená-las. Os consumidores podem até selecionar na central que o carro não colete seus dados, mas isso remove a capacidade de receber atualizações online e desativa o sistema Autopilot.

Consumidores que tentam acessar essas informações ou modificar os carros são identificados pela Tesla, segundo técnicos da marca. Essas pessoas ficam marcadas como hackers e a Tesla os deixa por último na hora de receber atualizações em seus carros.

O que fazem com seus dados pessoais?

A polícia nos EUA já está fazendo uso de dados pessoas encontrados em carros para auxiliar em investigações. Em 2019 a polícia de Kalamazoo usou dados da Chevrolet Silverado de uma vitima de um assassinato brutal para encontrar o criminoso.

A picape havia gravações de uma pessoa usando o comando de voz da central multimídia perto do horário do crime. A voz foi identificada como a de um amigo da vitima por familiares e os dados extraídos da Silverado serviram como evidência para efetuar a prisão.

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Os dados podem ser usados para auxiliar a polícia em investigações, mas também podem ser usada pelo governo para espionar. (Foto: BMW | Divulgação)

Esse é apenas um exemplo de como a polícia vem usando os dados coletados por carros para auxiliar na investigação forense de crimes. Empresas de tecnologia até ajudam a polícia fornecendo ferramentas para ajudar na extração de dados dos carros.

Os carros modernos fornecem informações bastante específicas como qual porta foi aberta em determinado local, posição da alavanca de cambio, se os faróis estavam ligados, etc. Os carros também permitem acessar informações de smartphones de maneira mais simples, como histórico de chamadas e de SMS.

Mais conectividade a caminho

Apesar de todas as controvérsias sobre acesso a informações pessoais em carros, as centrais multimídia e o pareamento com celulares vieram para ficar. As funções das centrais são um dos principais argumentos de venda atualmente.

Essa digitalização dos carros coloca os fabricantes automotivos junto das empresas de tecnologia como Google e Facebook. Porém um fabricante não tem o mesmo conhecimento sobre segurança digital nem é fiscalizada da mesma forma.

Os fabricantes não parecem ter um objetivo definido para o uso desses dados. Enquanto a Tesla recusa fornecer as informações para proteger a imagem de seus sistemas de segurança, a General Motors coletou dados do rádio do carro para empresas de publicidade.

As justificativas são sempre relacionadas com aumentar a comodidade dos motoristas, usar as informações para fornecer uma experiência mais personalizada. Seja de publicidade ou no uso do carro e de suas funções. Mas até que ponto devemos deixar que as informações dos carros sejam usadas sem saber o motivo? A indústria deve transparência.

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4 Comentários
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Mister Gasosa 21 de junho de 2021

Meu smartfone rastreia os meus passos, mas tenho a opção de desativar a minha localização, pois pra que saber da minha rotina, isso é confidencial e esses dados se caírem na mão de um criminoso estaremos fritos. Vai saber o seu caminho e os seus horários de saída e chegada em casa. Estou usando nele o Norton Antivirus para aumentar a proteção contra hackers.
Quanto ao carro se o hacker tiver acesso as nossos dados ele vai poder fazer o que quiser conosco pois terá toda a nossa ficha. Por essas e outras não uso mais o Internet Bank. Se alguém sofrer sequestro relâmpago e tiver que transferir o dinheiro via Internet Bank ou PIX o Bando devolve o dinheiro?

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Rodolfo 21 de junho de 2021

* corrigindo o texto:
Se alguém sofrer sequestro relâmpago e tiver que transferir o dinheiro via Internet Bank ou PIX o Banco devolve o dinheiro?

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Sir.Alves 29 de julho de 2021

Pois eh prezado, fazer transações bancarias pelo smart eh algo meio insensato, digo por que: Um certo jornalista estava ao telefone conversando em pé numa calçada qualquer no centro de SP… um rapaz veio de bicicleta e tomou o aparelho… o aparelho estava todo protegido por senhas e bla bla blas…era um iphone dos novos…porem no ato em que tomou o aparelho ele estava sendo usado numa ligação… ai….lascou…. o larápio era burro,mas ainda sim… fez vários empréstimos de 20k pelos apps bancários e entre outros… moral das historia… nao existe senha, criptografia, logins multiplos de confirmação , reconhecimento facial nem porcaria nenhuma que proteja efetivamente num imprevisto… o bom senso vale muito na horas de colocar sua vida num smart… abraço.

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Polvo 21 de junho de 2021

Quem compra um carro com conectividade deveria ter um bom desconto na hora da negociação, já que está praticamente “vendendo” suas informações para o fabricante.

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