Quando a Volvo quase foi dona da Scania por 5 anos

Volvo e Scania são sucecas e concorrentes diretas, mas no final dos anos 1990 quase que se fundiram num único grupo

leif ostling leif johanson
A esquerda o CEO da Scania, Leif Ostling e a direita Leif Johanson em uma foto simbólica feita em 1999 (Foto: Scania | Divulgação)
Por Érico Pimenta
Publicado em 09/09/2023 às 13h03
Atualizado em 12/09/2023 às 11h31

Xbox vs Playstation, Ford vs Ferrari, Brasil vs Argentina…essas são apenas algumas rivalidades que temos em nosso mundo hoje em dia, apesar que Ford vs Ferrari foi algo tão insano que ganhou até um filme. Entretanto, hoje quero falar de uma rivalidade no mundo dos pesados: Volvo vs Scania.

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Duas montadoras de origem sueca que sempre estão trocando posição no ranking de vendas (além de ter uma disputa pelo caminhão mais potente do mundo). Mas você sabia que a Volvo quase foi dona da Scania?

Para entendermos, vamos olhar o contexto da época:

Em 1995, a então Saab-Scania foi dividida em duas empresas, sendo a Scania AB e Saab AB, com isso a Scania tornou-se uma subsidiária integral da Investor.

Namoro Scania e Volvo

Em 1996, a Scania ganhou listagem na bolsa de valores, no qual a Investor ofereceu 50% das ações da Scania classificada como “Série A” e os outros 50% no mercado, classificando como “Série B”. Porém, logo depois, a Investor diminuiu sua participação para 45%, tanto nas ações Série A e B, e também emitiu warrants (título de compra e venda) equivalentes a 20% do capital social para os acionistas da Investor, que lhe dava direito de comprar ações Série B da Scania.

A Volvo vivia um bom momento e ainda tinha uma grana extra para investir, já que naquele contexto, em 1999, a montadora tinha acabado de vender a sua divisão de carros, a Volvo Cars, para a americana Ford pelo valor na época de US$ 6,5 bilhões.

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Em janeiro de 1999, a Volvo começou a comprar ações da Scania, alcançando 21,5% do poder de voto no conselho acionsita, isso já no final de abril. Em agosto, a Investor chegou em um acordo com a Volvo em que ela, a Investor, vendeu suas ações remanescentes da Scania para a Volvo. Porém, ao mesmo tempo, a Volvo fez uma oferta pelas ações remanescentes em circulação. O valor do negócio na época foi de US$ 7,5 bilhões.

Na época, a Volvo teria 49,3% do capital da empresa e 69,6% do volante. O curioso é que no anúncio dessa compra, em agosto de 1999, as ações da Scania subiram 25% no mercado sueco, quando as ações da Volvo caíram 8,6%.

E claro, que a venda total, ainda precisaria passar pela aprovação da União Europeia, já que a fusão das duas poderia criar uma das maiores montadoras de caminhões do mundo, e um possível monopólio. Mesmo que grupos como a Daimler AG, na época, via o negócio como algo natural e esperado.

Nos anos 2000, depois de todo mundo sobreviver ao bug do milênio, a União Europeia rejeitou a compra da Scania pela Volvo. Após a negativa, a Investor vendeu suas ações Série A (equivalentes a 34% do poder de voto) e 18,7% do capital social da Scania para a Volkswagen. Logo depois, a Investor ainda controlava 15% do poder de voto e 9% do capital social da Scania, enquanto a Volvo controlava cerca de 30% do poder de voto e 45% do capital social da Scania.

Dois anos depois, em 2002, a Scania vendeu sua participação de 50% na empresa sueca Svenska Volkswagen AB para a Volkswagen AG. No ano seguinte, em 2003, as ações da Scania foram retiradas da bolsa de valores de Nova York.

Apenas em 2004, a Volvo começou a vender as seus papéis. Ela inicialmente vendeu suas ações Série B para o Deutsche Bank, que por sua vez as vendeu ao mercado. Já as ações da Série A foram transferidas para uma nova empresa chamada Ainax, que logo foram distribuídas aos acionistas da Volvo. Depois, a Scania apresentou uma oferta para comprar todos os papéis da Ainax, que foi aceita por 96% dos acionistas.

Com isso, a Volvo encerrava o sonho de comprar a Scania, mesmo que nesse meio tempo, ela tenha lucrado com o negócio. Entretanto, a venda da Scania para outras montadoras não parou por aí, e acabou virando mais um emaranhado de compras.

VW entra na dança

Em 2006, a MAN Caminhões (MAN AG) comprou 13,23% do capital social e 17,01% do poder de voto. Porém antes da MAN, a Volkswagen já tinha feito uma oferta, que havia sido rejeitada pela Investor.

Já em março 2008, a Volkswagen e a Investor finalmente chegaram a um acordo e a Volkswagen adquiriu na época 134.711.900 ações Série A da Investor e das fundações Wallenberg, com Isso a Volkswagen já chegou na Scania com uma participação de 68,60% do poder de voto e 37,73% do capital social.

No ano seguinte, a Porsche teve que fazer oferta obrigatória pela Scania. Isso porque que na época, a empresa aumentou a sua participação na Volkswagen para mais de 50% e assim ganhou o controle indireto da Scania. Na época a montadora de esportivos pegou 8% do capital social e mais de 2% do poder de voto na Scania. Porém, não muito depois, a Porsche vendeu as ações para a Volkswagen, que aumentou sua participação para 49,29% no capital social e 71,81% no poder de voto.

Em 9 de novembro de 2011, a Volkswagen AG concluiu a aquisição da participação majoritária na MAN SE. Com isso a Volkswagen passava a ter 55,9% de direito de voto e 53,7% do capital social da MAN. Entretanto, lembra que em 2006 a MAN tinha comprado uma fatia da Scania? Então, a Volkswagen também pegou essa parte da Scania e com isso a montadora aumentou de 71,81% para 89,2% no poder de voto e o capital social que era de 49,3% passou para 62,6%.

Apenas 3 anos depois, em 2014, a Volkswagen fez uma nova oferta pública aos acionistas da Scania para oferecer todas as ações a um valor de 200 coroas suecas (US$ 18, na cotação atual) por ação. Em 3 de maio de 2014 a Volkswagen conseguiu superar mais de 90% das ações da Scania. E por fim, o dia 5 de junho daquele ano foi o último dia de negociação de ações da Scania na Bolsa de Valores. Assim, a Scania tornou-se uma subsidiária integral do Grupo Volkswagen.

No ano seguinte, 2015, a Volkswagen AG criou a Volkswagen Truck & Bus GmbH para agrupar as suas marcas, composta por Scania, MAN e Volkswagen Caminhoes e Onibus (VWCO). Já em 2016 a marca RIO, empresa de conectividade e telemetria foi adicionada ao grupo e, em 2018, a Volkswagen Truck & Bus se tornou a TRATON GROUP.

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No final das contas, a Scania foi parar nas mãos da VW (Foto: Traton | Divulgação)

Em 2017 a Volkswagen começou uma verdadeira novela com a Navistar, entretanto só em 2021 a montadora conseguiu comprar a Navistar pelo equivalente a R$ 18,7 bilhões.

Atualmente o grupo TRATON é composto pelas montadoras: Scania, MAN, Navistar International e Volkswagen Caminhões e Ônibus

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1 Comentário
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Andre 9 de setembro de 2023

Quando o governo se mete no mercado só faz besteira. A Volvo foi impedida de comprar a Scania, que passou para a VW que hoje é dona da Man, Scania, Navistar nos USA, e VW caminhões no Brasil, um grupo ainda maior que aquele que quiseram evitar. Nos Estados Unidos o mercado é livre sem interferência dos governos de esquerda, e funciona melhor que na Europa e no Brasil.

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