Você compra um carro para te atender ou para estar na moda?         

Se a compra do automóvel é irracional e o freguês paga mais por menos, por que não perpetuar o utilitário esportivo?

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Os SUVs são mais altos e mais beberrões (Foto: Shutterstock)
Por Boris Feldman
Publicado em 11/09/2022 às 09h03

Nas décadas de 50 e 60, ainda criança, mas já apaixonado pelos automóveis, admirava o cuidado com que muitos cuidavam de seus carros, na época quase todos importados: Chevrolet, Ford, Dodge…. Um zelo que particularmente me chamava atenção era o estofamento dos bancos “protegido” por um plástico transparente que envolvia todo o revestimento original, fosse couro, tecido, veludo ou outro qualquer.

O plástico era uma verdadeira aberração num país tropical, de sol intenso e equipamentos de ar-condicionado ainda inexistentes.

Acabei descobrindo o motivo do tal plástico desagradável que tanto incomodava (e fazia suar) motorista e passageiros: proteger o revestimento original de manchas, desgaste e sujeiras provocadas pelo dia a dia do automóvel. Ou seja, evitaria sua depreciação no momento da venda, quando se retirava a “proteção” para entregar o carro com estofamento em estado de zero km para o segundo dono. Este, sim, teria o direito (a menos que mantivesse o plástico para o terceiro) de usufruir do tecido ou do couro. E até, nos mais chiques, de um sofisticado veludo.

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Foi-se a moda do plástico nos bancos, mas outras viriam, especialmente no Brasil, que tornou-se, nas décadas de 70 e 80, o único país do mundo a comercializar exclusivamente carros de duas portas. Era comum a esdrúxula cena de madames num verdadeiro contorcionismo para se acomodar no banco traseiro do Opala cupê com motorista.

chevrolet opala coupe 1972 azul de traseira com cidade do rio de janeiro ao fundo creditos para divulgacao chevrolet
Chevrolet Opala cupê: duas portas para a madame e o motorista

A carroceria de duas portas era unanimidade nacional e os argumentos para defendê-la eram até prosaicos: “não quero ser confundido com taxi”, “é mais seguro para as crianças lá atrás”, “menos barulho de porta batendo”, “mais fácil de travar” e outras do gênero.

Não era difícil perceber o que ocorria: mesmo precisando de um quatro portas, comprava-se o de duas por ter “maior valor de revenda”. Era a negação do óbvio. A decisão não pautada para o próprio conforto e prazer, mas pelo resíduo contábil da compra.

Ditadura do PP

E outras modas vieram. Uma delas, a “Ditadura do PP”. Durante anos só se comercializavam automóveis prata ou preto em todo o país. E quem comprava um carro desta cor defendia com unhas e dentes sua beleza e praticidade.

Era até curioso olhar um grande estacionamento com 99% da área “colorida” de P&P. Apesar de a cor preta ser contraindicada num país ensolarado e com elevadas temperaturas na maior parte do ano, pois a que mais absorve raios solares.

SUV: o que justifica?

Estamos assistindo agora a mais uma radical virada de chave: ninguém mais quer saber de hatch, perua e sedã, que entraram em plena decadência.

O que está na moda é o utilitário esportivo, que tomou conta do mercado e virou o grande queridinho do consumidor. Nada justifica pois modismo é mesmo injustificável. O SUV, em geral, tem menor porta-malas que o sedã ou perua. É maior, mais alto, pesado e tem pior aerodinâmica. Então bebe e emite mais. Tem menor estabilidade pelo centro de gravidade mais elevado. A reposição de pneus é caríssima. E ainda custa mais.

Como moda é moda, são poucos atualmente os motoristas de bom-senso que optam (e ainda pagam menos) por um sedã ou hatch.

Bom para as fábricas

Mas, ao contrário dos modismos do passado, o SUV corre risco de permanecer por décadas (apesar de alguns designers terem afirmado que não passa do final desta) pois as próprias fábricas estão firmemente interessadas em sua longevidade.

Por quê?

Por ser uma compra puramente emocional, sem nenhum argumento minimamente lógico, o utilitário esportivo não precisa entregar nada mais que uma perua ou um sedã. Aliás, alguns entregam até menos. Pois o freguês está obstinado em levá-lo para casa a qualquer preço, já que existe uma baita demanda e tem menor desvalorização no mercado de usados.

Então, na ponta do lápis, fabricar um SUV pode custar o mesmo que um sedã, ou até menos. Mas a fábrica sabe que pode pedir de 10% a 20% mais por ele, aumentando consideravelmente a rentabilidade por unidade vendida.

Se o freguês não faz as contas e paga mais por menos, por que não perpetuar o utilitário esportivo?

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18 Comentários
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Marcos Freitas 29 de setembro de 2022

A ESMAGADORA maioria dos SUVs Nutella, principalmente estes, porque SUVs Raiz são poucos, entregam MUITÍSSIMO MENOS do que um sedã ou uma perua, porque eles não passam de hatchbacks anabolizados. Mesmo no caso dos SUV-cupês, a esmagadora maioria deles não passa de hatchbacks anabolizados. Pode conferir. Balanço traseiro menor, ao contrário do que ocorreria em um tr00 fastback, porta-malas pequeno, e caimento do teto realizado ao custo da redução radical do espaço para os passageiros do banco traseiro. Porque não lançar um SUV-perua pra variar? O Corolla Cross, por exemplo, perdeu 9 cm de entreeixos, e 17 cm de comprimento em relação ao Corolla Sedan, quando deveria GANHAR essas medidas. E o vão livre do solo é uma piada. Ele deveria ter, no mínimo, uns 10 cm a mais de vão livre do solo, e de curso de suspensão, para ser considerado um SUV. Sem falar na cara de capacete de stormtrooper que ele tem.

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Gustavo 13 de setembro de 2022

Se nossas ruas fossem bem conservadas certamente os SUVs seriam menos procurados, até por serem mais caros e alto custo de manutenção comparados aos hatches e sedans. Mas como a maioria dos brasileiros transitam por vias esburacadas e repletas de lombadas, faz sentido a preferência pelo veículo mais alto que traz mais conforto nessas condições.

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Polvo 12 de setembro de 2022

Como vc disse, Boris, comprar um SUV é totalmente irracional. A tendência das montadoras é SUVerizar toda a gama para maximizar a margem de lucro.

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Gustavo 13 de setembro de 2022

Não é irracional, nossas péssimas condições viárias com buracos e lombadas a granel justificam carros mais altos com pneus e suspensões reforçadas, claro que bebem mais e são mais caros que hatches e sedans por serem mais pesados, entretanto oferecem mais conforto para a família nas nossas judiadas ruas e estradas massacradas por Ônibus e Caminhões. PS.: se nossas vias fossem bem conservadas certamente os SUVs não seriam tão procurados, exceto obviamente para quem trafega em zona rural ou faz uso off-road.

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Santiago 13 de setembro de 2022

Isso realmente se aplica aos SUVs, porém os de verdade!
O que prolifera no nosso mercado são os crossovers que usam as mesmas plataformas dos renegados hatches e sedans. e portanto com capacidades e robustez muito similares a estes últimos – a maior diferença é mesmo na “roupagem” e na suspensão ligeiramente mais alta. Daí o apelido “suv de shopping”.

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Gustavo 13 de setembro de 2022

Pois é, mesmo assim esses crossovers mais altinhos são mais práticos no dia-a-dia que hatches ou sedans, seja para acomodar pessoas ou na colocação de bagagens, enfim, esses tipos de veículos são preferidos na América do Norte por motivos diversos, não é só uma tendência brasileira.

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Polvo 14 de setembro de 2022

A durabilidade da suspensão é relativa. Acho que a maioria compra pela sensação de segurança por dirigir em posição elevada e a estética aventureira. Sobre a suspensão tenho minhas dúvidas sobre a durabilidade diferenciada em modelos SUVerizados derivados de carros compactos. Só para comparar: veja o VW Polo e as versões SUVs dessa plataforma, T-Cross e Nivus. As suspensões são basicamente as mesmas e os problemas também. Talvez pelo maior peso da carroceria, o T-Cross use buchas mais reforçadas, proporcionais ao peso da carroceria que é mais pesada, mas isso não significa que vão durar mais.

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Polvo 14 de setembro de 2022

Quem utiliza em estradas de terra, o ideal seria um SUV de verdade, de preferência que não tenha chassi do tipo monobloco ou até picapes grandes, aí sim a durabilidade é infinitamente maior do que um carro de passeio comum.

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Julio 23 de setembro de 2022

Já tive caminhonetes (F-1000,D-20, S-10, etc), até que resolvi comprar um Civil 2017! Muito bom, só que sou uma pessoa grande, 1,92, 120 Kg! Descobri um Crossover (CRV-2018), comprei e não tive mais problema de acessibilidade que tive com o sedan Civic! Já estou no segundo CRV, um 2013! Rodo pouco, não tive de comprar o CRV novo (caro demais). Estava tentando ver se poderia comprar um Corolla Cross! Mas você é tão mal atendido na Concessionária Toyota de Rio Branco (Acre), que talvez desista de comprar o Corolla Cross! Resumindo: não acho irracional, no meu caso, comprar um Crossover. É uma necessidade para pessoas grandes!

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Santiago 11 de setembro de 2022

Vou pela praticidade e custo-beneficio. Ou seja, mecânica confiável, desempenho satisfatório aliado a conforto (não luxo), e com um design que me agrade (independente das opiniões alheias).
Mas infelizmente isso está ficando no passado, já que agora impera a moda forjada pelas montadoras e idolatrada pelos incautos. Daí os pseudo-SUVs estarem dando as cartas, enquanto os seus fabricantes gargalham montados em lucros pornograficos.

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Fabio 11 de setembro de 2022

Discordo. A moda quem cria são as montadoras. Tiraram os hatches médios ou subiram tanto o preço, que ficou impraticável. Focus hatch, câmbio manual, com controle de estabilidade. Carro perto do chão. Fazia curva como nenhum outro. Foi só colocar um câmbio ruim, e insistir, pra matar o carro.

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Rodolfo 11 de setembro de 2022

Devemos nos contentar com o que temos e não aderira uma moda que nos escraviza!

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Jo 11 de setembro de 2022

Não dou bola pra isso. Um design acertado é interessante, mas não essencial. Cuido da economia de combustível, conforto e robustez/confiabilidade.

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Rodrigo 11 de setembro de 2022

Compro o carro que gosto e preciso. Atualmente, tenho 5 carros, sendo 3 Hatches Médios, 1 Sedan e 1 Station Wagon.

Não sou contra SUV, sou contra a enganação dos Pseudo-SUV e da imposição e apologia aos SUV que, agora, está começando a ser os de Elétricos.

A escolha é um Direito do consumidor, portanto, manter a produção de Hatch, Sedan, Perua, Crossover, SUV (DE verdade), Picape, Esportivo, Conversivel, sejam eles Compactos, Médios ou Grandes e a forma de garantir que todos possam comprar o que realmente gostam ou precisam.

Nem todo mundo é “Maria vai com as outras”. Existem as pessoas com personalidade que compram o que gostam ou precisam, independentemente da modinha.

Se virar moda comer MERD… você vai????

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Cadillata 11 de setembro de 2022

“Se virar moda comer MERD… você vai????”.
Eu não, mas tenho vizinhos que sim.

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Rodrigo 11 de setembro de 2022

Kkkkkkkkkk, né???

Ou… virar a casaca quando a próxima modinha surgir… aí, esses defensores de Pseudo-SUV vão começar a criticar, falar que não presta e que só a nova modinha é que vale a pena, com as defesas mais estapafúrdias que existirem…

Enfim, gente sem personalidade é assim…

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Bob Rico 12 de setembro de 2022

Tu precisa de 5 carros, sendo 3 iguais?
Eu só preciso de 1 mesmo, porque só consigo dirigir 1

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Marcos Freitas 29 de setembro de 2022

Você tem condição de manter cinco carros? Que DEUS te abençoe, e não me desampare!

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