Cinco condições brasileiras que derrotam os carros

Os fabricantes precisam adaptar bem os carros para as condições brasileiras se quiserem fazer sucesso, mas alguns foram derrotados

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A Amarok fica bonita levantando poeira em fotos, mas no lançamento ela tinha alergia a isso (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Por Eduardo Rodrigues
Publicado em 09/02/2022 às 13h20
Atualizado em 29/06/2023 às 12h50
  • Adaptar um carro para as condições brasileiras é um trabalho árduo para os fabricantes.
  • É preciso levar em conta desde o jeito que o brasileiro dirige às condições de ruas e estradas por todo o país
  • Mas no fim alguns deles foram derrotados por alguns elementos, confira quais são.

Todo mercado possui suas exigências e os fabricantes adaptam seus carros para agradar melhor ao consumidor. O Brasil, com seu tamanho continental e variedade de condições, exige um trabalho árduo de adaptação para um carro sobreviver ao uso em qualquer parte do país. E essas condições brasileiras são exigentes.

A famosa tropicalização costuma incluir suspensão maias alta e com componentes mais robustos, amortecedores com batente hidráulico, melhorias na vedação, o motor vira flex, cambio com relações mais curtas e o mudanças no pacote de equipamentos.

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Mas parece que alguns fabricantes não aprendem e deixam alguns detalhes passar. O resultado disso pode ser catastrófico e até minar a imagem da marca no país.

1. Poeira

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Antes da Volkswagen resolver o problema, a Amarok era uma picape que não podia ser usada para trabalho (Foto: Volkswagen | Divulgação)

Quando a Fiat decidiu vir para o Brasil, ela testou o 127 europeu por aqui para saber o que era preciso mudar no carro para sobreviver ao país. Uma coisa que se tornou prioridade foi a vedação do habitáculo, nossas estradas são muito poeirentas.

Era de se esperar que a Volkswagen estivesse ciente disso na hora de topicalizar a picape Amarok, lançada em 2010. Mas clientes e frotistas que usaram a picape em regiões poeirentas ou em áreas de mineração descobriram da pior maneira que o modelo não lida bem com isso.

Sua correia dentada é banhada a óleo, com uma vida útil prevista para 120.000 km, estava durando nem 10.000 km. O motivo do desgaste acentuado era a corrosão causada pelo minério de ferro. A Volkswagen solucionou o problema instalando um kit que consiste em um aspirador e um filtro que suga as partículas antes de chegaram a correia.

2. Calor

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A falta de um trocador de calor na caixa CVT do Lancer e ASX renderam dores de cabeça (Foto: Mitsubishi | Divulgação)

O clima mais quente do Brasil exige que os carros vendidos aqui tenham o sistema de arrefecimento e o ar-condicionado reforçado. Muitos fabricantes já possuem pronto os kits para climas amenos e para climas mais extremos.

Antes dos sistemas de arrefecimento com circuito fechado era comum ver carros fervendo na beira da estrada, hoje isso diminuiu. O Ford Maverick era acima da média na época do lançamento, tanto o motor de seis cilindros vindo da Willys quanto o V8 importado sofriam de superaquecimento.

A Mitsubishi esqueceu da tropicalização no câmbio CVT do Lancer e trouxe o carro em especificação para climas amenos. A caixa veio sem o trocador de calor e rendeu dor de cabeça para os donos com os constantes superaquecimentos.

3. Asfalto

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O RCZ não foi feito para levar um estepe grande, mas a Peugeot deixou um no porta-malas do esportivo sabendo que o nosso asfalto detonaria os pneus do esportivo (Foto: Peugeot | Divulgação)

O asfalto é um problema nas estadas brasileiras. É comum fazer a pavimentação mais fina que o habitual em outros países. E fatores externos como caminhões sobrecarregados ajudam a degradar o asfalto mais rápido. Não bastando os buracos, existem situações onde os remendos criam ondulações.

Para encarar toda essa crocância, os carros vendidos no Brasil precisam de suspensão mais robusta e, muitas vezes, elevada em alguns milímetros. Uma adição boa é o amortecedor com batente hidráulico, que não dá aquela batida seca no fim do curso. Ajudando mais no conforto dos ocupantes.

O Peugeot 206 veio com uma suspensão de padrão mais europeu. Toda a agressividade do nosso pavimento fez que as bieletas do conjunto traseiro se tornasse item de troca frequente. Outra vítima dos nossos buracos são os pneus run-flat, que podem rodar vazio mas não são imunes a crateras.

Na Europa é comum carros virem sem estepe e contar com os run-flat. A Peugeot optou por colocar um estepe solto no porta-malas do cupê RCZ, roubando espaço de bagagem mas salvando o motorista de ficar na beira da estrada. No Honda Civic de oitava geração foi colocado um estepe de tamanho completo no espaço feito para um de uso temporário, o que reduziu o volume do bagageiro.

4. Combustível

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O motor flex do Série 3 e X1 não se davam bem quando abastecidos com etanol (Foto: BMW | Divulgação)

Apesar da nossa gasolina ser muito criticada por vir com uma porcentagem alta de etanol, as adaptações para o motor funcionar com ela são relativamente simples. O álcool que vai misturado na gasolina é anidro, por isso não é preciso mudar os componentes na hora de topicalizar o motor.

O problema vem na hora de criar um motor flex: o etanol vendido nas bombas dos postos é hidratado, possui uma parte de água. Os motores Active Flex da BMW apresentaram bastante problemas quando abastecido 100% com etanol, rendendo até um recall.

5. Manutenção

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O Marea era moderno para sua época, mas o plano de manutenção não foi adaptado para o Brasil e pôs fim na carreira de um carro promissor (Foto: Fiat | Divulgação)

O plano de manutenção é algo bastante específico para cada mercado. Nos EUA, por exemplo, as cidades são montadas pensando nos carros e os bairros residenciais ficam mais distantes das áreas comerciais. Por isso o uso de ir ao trabalho e voltar inclui vias expressas com velocidades mais altas. Isso faz que o motor se desgaste menos e as manutenções possam ser mais espaçadas.

No Brasil as condições normais são mais extremas: temos a já citada poeira, piso ruim, ruas movimentadas e condições de temperatura que obrigam as manutenções serem mais próximas. Antes o padrão era de revisões a cada 5.000 km, hoje cresceu para 10.000 km.

Alguns carros pegaram fama ruim devido a manutenção. O mais famoso é o Fiat Marea, que estreou no Brasil trazendo um plano de manutenção igual ao do modelo europeu. Isso significa revisões a cada 20 mil km. Muitos consumidores que faziam um uso mais severo do carro tiveram problemas. A Fiat resolveu o problema mudando o plano nos manuais, mas o estrago estava feito e até hoje vemos piadas com o Marea.

Outro carro vítima da manutenção no Brasil foi o Gol 16v. A Volkswagen indicou óleo sintético para o motor, algo que era comum apenas em importados e custa mais caro que os óleos minerais. Os consumidores tentaram economizar uns trocados nas revisões colocando óleo mineral no carro. O tiro saiu pela culatra, o lubrificante de especificação errada trazia problemas mais caros para o motor.

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4 Comentários
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Thiago 10 de fevereiro de 2022

Tem o problema do famigerado cambio DSG 7 da VW Audi que tem a versão mexicana e alemã. Os carros feitos na Alemanha dão muita dor de cabeça pois o fluido da mecatrônica não é compatível com nosso clima.

Nesse momento um veículo de um cliente meu está na CSS há quase um mês para a troca das bandeijas pois de acordo com a loja, as buchas são hidráulicas e não suportam o calor do país fazendo vazar o fluido amortecedor. Isso num carro de 400k.

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Mister Gasosa 9 de fevereiro de 2022

Se vocês verem no Google Acadêmico existem estudos que mostram que gasolina batizada pode diminuir a vida útil do óleo lubrificante do motor. Portanto escolham o combustível pela qualidade e não pelo preço.

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Marcus Malheiros 12 de fevereiro de 2022

Combustível de qualidade no Brasil??? É mais fácil encontrarmos no Paraguay!! Essa questão que muitos falam que a gasolina ou o álcool batizado/adulterado os postos vendem mais barato não cola, pensem bem? O cara está adulterando o combustível para ganhar mais, porque ele vai se preocupar em baixar o preço? Hoje não dar pra confiar em nenhuma bandeira pois todas fazem um grande cartel.

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Mister Gasosa 12 de fevereiro de 2022

Vejo que você abastece em qualquer posto que encontra.
É lógico que existem ainda postos que vendem combustível de qualidade.
Como saber que a gasolina é boa?
1. Faz mais km/litro que o posto fundo de quintal;
2. Não faz borra de óleo no motor;
3. O motor não grila nas saídas de semáforo em ladeiras.

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