Jeremy Clarkson analisa o novo Volkswagen Golf GTI

Entediado com o Tiguan, Clarkson muda para outro Volkswagen: "o interior do (Golf GTI) Mk 8 é uma sinfonia de bom gosto e bom senso"

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"Outros hatches rápidos são bons de curva ou muito moles. O Golf GTI é as duas coisas" (Foto: Volkswagen | Divulgação)
Por Jeremy Clarkson
Publicado em 12/01/2021 às 08h00
Atualizado em 07/02/2021 às 23h58

Vejo que Mr. Banksy* está por aí de novo. Desta vez ele pintou uma pessoa horrorosa na  lateral da casa de alguém em Bristol, e agora corretores imobiliários estão dizendo que essa casinha de nada, que fica onde, dizem, na ladeira mais íngreme da Inglaterra, pode chegar a valer 5 milhões de libras.

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Sério? A casa ainda é a mesma. Mas ela agora tem no seu final de telhado uma atraente obra de arte criada por famoso artista local, mas a arte está do lado de fora da propriedade. Desse modo, se o preço da casa disparou, o valor deve ficar para os vizinhos… Porque eles são os que podem vê-la.

Os proprietários, enquanto isso, agora terão que ir para a cama à noite imaginando se algum vagabundo está usando álcool metílico para remover a pintura, pois isso diminuirá o instantaneamente valor da sua casa em cerca de 4,7 milhões de libras. O que Mr. Banksy lhes deu virou um pesadelo.

Fico imaginando que se o Mr. Banksy gosta de dar sua arte para estranhos, ele deve parar com as pinturas em suas casas e muros de jardim. Em vez disso, deve colocá-las em carros.

Tiguan não se destaca em nada

Eu estava pensando sobre isso porque recentemente dirigi o novo Volkswagen Tiguan. É um SUV perfeitamente sensato, bem construído e bem-pensado. Como quaisquer outros com esse jeito que emporcalham o mercado neste momento. Ele não se destaca em nada. A menos que tivesse um Banksy na porta do motorista…

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“Dirigi o novo Volkswagen Tiguan. (…) Ele não se destaca em nada”

Talvez eu devesse fazer uma coisa. Sou razoavelmente bem conhecido, assim eu poderia à noite entrar sorrateiramente na sua garagem e pintar uma figura de qualquer coisa que me venha á cabeça na tampa do porta-malas, depois acharia um site para que todo mundo soubesse que o carro é realmente um autêntico Clarksy.

O único problema disso, claro, é que não demoraria para eu ser preso e ter que ir à um tribunal, onde uma mulher posuda com saia de tweed me chamaria de vândalo, diria ser inapropriado pintar um nu no carro de um estranho e me condenaria a algum trabalho comunitário.

Mas vamos voltar ao trabalho, que é escrever uma matéria de mil palavras sobre o Tiguan… Não dá. Seria como escrever sobre uma posta de peixe ou uma garrafa de leite. Ele tem um motor 2-litros, algumas janelas e ar-quente. Desse modo vou deixar o tempo de lado e lhe mostrar outra coisa. Acabou.

Mudança para o Golf GTI

Passemos para outro carro que dirigi faz pouco tempo, o novo VW Golf GTI. Nisso sou especialista. Quando gravamos o programa “Who Wants to Be a Millionaire?” eu sempre me reunia antes com os suarentos participantes e explicava que se lhes perguntassem sobre mitologia grega ou a escritora Hilarty Mantelm, ou pavê, ou árvores, ele deveriam telefonar para um amigo, ou perguntar para a plateia — ou se mandarem do estúdio, pois o “pergunte ao anfitrião não adiantaria nada.

Um deles invariavelmente me pergunta o que eu sei, e é muito fácil. Rock progressista de 1971 a 1976 e o Golf GTI Mk 1. Conheço também  um pouco do Mk 2, mas depois as coisas começam a ficar confusas porque o Mk 3, Mk 4, Mk5 e Mk 6 são todos um pouco entediantes. Então veio o Mk 7 (a sétima geração, última produzida no Brasil), comprei um. Era um carro incrível — prova de que uma cosa pode realmente ser tudo para todos os homens — mas agora ele se foi e em vez dele temos o Mk 8.

De início, as coisas parecem bem, pois ele tem o mesmo chassi do Mk 7 e o mesmo motor, logo o desempenho também é igual. Todavia, fora isso as coisas começam a parecer menos boas,  porque o carro… hum, não é.

Ele é, falando de uma maneira geral, de mesmo comprimento do carro anterior, mas de algum modo parece maior e mais flácido. E realmente não há mudanças no desenho que distingam esse modelo — o ícone — de seus insossos irmãos. Ele não sai gritando GTI.

Problemas do Golf GTI

Há também alguns problemas dentro, o principal deles o sistema de infotenimento, projetado por entusiastas de laptop que crêem que só porque uma facilidade pode ser aplicada, deve sê-lo. Não deveria, porque quando se tem possibilidade de mudar a emissora de rádio, escolher novo destino, ajustar a suspensão ou mudar o peso do volante, você está a caminho de terminar numa tela que confunde e incomoda qualquer um que tenha mais de 12 anos.

Os chefões das empresas precisam aprender a dizer a  esses fetos que empregam para trabalhar com esses sistemas que, a menos que se comportem como adultos, não haverá mais sorvete na hora do chá.

Fora isso, contudo, o interior do Mk 8 é uma sinfonia de bom gosto e bom senso, com alguma história embutida. Pode-se, por exemplo, ter o mesmo estofamento que o Mk 1 tinha. E se o câmbio for o manual, a manopla do câmbio é a mesma bola de golfe.

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“Interior do (Golf GTI) Mk 8 é uma sinfonia de bom gosto e bom senso”

Tem mais. No Mk 7 — e isso é o que me torna o perfeito anfitrião do “Who Wants to Be a Millionaire? por conhecer o assunto — não é possível ter teto solar se o carro tiver rodas de 19 polegadas. Não sei por que, mas me preocupa. Diz-se que é porque com as rodas grandes a carroceria se flexionaria, levando à quebra do vidro do teto solar. Mas de qualquer maneira pode-se ter um agora.

Não porque se deveria, pois teto solar é perda de tempo e dinheiro. Não adicionam nada ao carro senão ruído.

“Céus, como é bom”

Dirigindo? Céus, como é bom. Mais do que bom, é excepcional. A falta de uma baixa exuberante sugere que o onipresente motor 2-litros turbo foi calibrado para salvar ursos, mas há sempre um baixo e continuo rosnar dos escapamentos para se saber que na verdade não foi que aconteceu. Ele é realmente rápido.

E como é ágil. Não importa que ajuste de suspensão se escolha — este carro simplesmente ama ser tocado rápido numa estradinha secundária. E quando se trata apenas de voltar para casa, é confortável e também tem boas maneiras. Essa é parte do truque que não se vê em outros hatches rápidos. Eles são bons de curva ou muito moles. O Golf GTI é as duas coisas…

Dizem que John Lewis vende somente o que se precisa, não o que se quer. É onde se vai comprar pias ou travesseiros. Caso se queira um broche de diamante junto com partes de primeira peruca do Elton John, deve-se procurar outro lugar. O Golf GTI é então o John Lewis dos carros. Se você acha que o local parece um tanto tranquilo, avise-me. Qualquer noite dessas vou até lá com alguns pincéis e dou uma animada no ambiente…

*Nota da Redação: Banksy é o pseudônimo de um artista de rua britânico. Ele começou fazendo grafites na cidade de Bristol, no início dos anos de 1990: as obras chamaram atenção por abordarem temas políticos e sociais, muitas vezes retratados de maneira irônica. Atualmente, Banksy é reconhecido não apenas na Inglaterra, mas em todo o mundo. 

Conhece o The Grand Tour, apresentado por Jeremy Clarkson? Então, assista ao vídeo!

Fotos: Volkswagen | Divulgação

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19 Comentários
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Andreos Couto 3 de setembro de 2021

O Golf é um baita carro, particularmente não me interesso tanto por hatchbacks, são poucos que chamam atenção mas esse é lindo e parece fornecer tudo aquilo que é essencial em um bom carro.
Já coisas como teto solar realmente é bem descartável do meu ponto de vista, pura estética. Muito bom ler artigos do Orogotango de Camisa, “CLARCKSOOON” por aqui !

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The Driver 25 de abril de 2021

O teto solar acrescenta 30 kg x a distância ao centro de massa. Para um esportivo faz diferença, além do custo!

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Marcos 24 de março de 2021

Pessoal não entende de humor negro, nem de carros, mas adoram criticar por que se sentiram ofendidos por ele dizer que o carro é uma m, ou o carro é bom. mas não entendem as entre linhas.
Gênio!!

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Joao 12 de abril de 2021

Muito bom reencontrar os textos do J. Clarkson!

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Henrique Lauer 28 de janeiro de 2021

Muito bom ler as matérias do Clarksonnnnn, por aqui!!!

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Juvenal Jorge 27 de janeiro de 2021

Muito bom ter o importante Clarkson nesse site. Sempre polemico, e com pontos de vista interessantes. Parabens ao Autopapo.

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Geremia 18 de janeiro de 2021

Se não gosta de algo como o teto solar, não precisa achá-lo inútil. Não é perda de tempo ou dinheiro.
Meu carro tem teto solar e eu uso muito. Se não sabe para que serve ou se não sabe usar algo, cale a boca porque é melhor.

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Rafael 29 de janeiro de 2021

amigo, na inglaterra chove 300 dos 365 dias do ano, sim inutil ? e nao tem muita gente boa no brasil o nivel eh pessimo, jornalistas com 0 de conhecimento escrevendo sobre o que nao sabe, eu trabalho com carros ha 20 anos nao consigo ler 3 linhas de 90% das materias de carros hoje em dia masss gosto eh igual
c*, cada 1 tem o seu.

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Geremia 18 de janeiro de 2021

Um fanfarrão e falastrão.
O Jeremy é insuportável e fala bobagens demais. Sempre o que ele acha, nunca o que ele sabe. Seus comentários são longos e pouco úteis.
Ele se prende a detalhes e deixa coisas realmente sem falar.
Já era uma saco aguentá-lo na Quatro-Rodas, e agora você vão copiar esse lixo com tanta gente boa no mercado brasileiro?

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LUIZ FELIPE DUCLOS 14 de janeiro de 2021

Muito Bom, com bom humor, ele vai comentando com criatividade, suas opiniões a respeito dos carros.

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Ewerton 14 de janeiro de 2021

O bom e velho Clarkson. Parabéns, Boris!

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Eddie 13 de janeiro de 2021

O Clarkson odeia SUVs e adora hatches médios, especialmente o GTI; como a maioria dos ingleses, ele compra (GTI) cambio manual. Conhece muito de automóveis. Excelente leitura.

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DANIEL FORTUNATO DE ARAUJO 13 de janeiro de 2021

Muito bom…

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Augusto 13 de janeiro de 2021

Boa matéria. Só faria uma correção. Ele disse que teto solar “não adicionam nada ao carro senão ruído”. Adicionam sim, adicionam peso. No MK7 cerca de 30 kg. Ou seja, um GTI sem teto solar é mais rápido do que a versão com esse acessório, pois, sem o teto solar, o carro é mais leve.

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Davidsom 12 de janeiro de 2021

Ótimo.

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André Godoy 12 de janeiro de 2021

Excelente matéria! Boas informações com humor.

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Alberto Bardawil 12 de janeiro de 2021

É muito bom começar o dia lendo um artigo bem escrito por quem realmente entende do assunto, Jezza ama os Golf, mas nem por isso deixa de criticar o que merece reparação.

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Gus 13 de janeiro de 2021

Muito bom mesmo, foi ótimo encontrar essa novidade anunciada no Face. O interessante é que os comentários de lá ilustram bem a que ponto andam as coisas: “texto muito longo”, “chato”, “sem objetividade”…realmente as pessoas não sabem reconhecer uma dádiva quando a recebem.

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Aham 28 de janeiro de 2021

Concordo com as opiniões dos Srs. Gus, Lauer, Duclos, Ewerton, J J, Araújo, Davidsom, Godoy, Bardawil…
Jeremy é para quem gosta de crônicas, da melhor qualidade. Não vejo tais artigos como meramente técnicos, mesmo porque não me interesso por essa categoria de veículos. No entanto é um estilo inconfundível, divertido, irônico. Me faz rir do humor às vezes leve, outras vezes moderadamente ácido. Considero também um privilégio poder degustar esse tipo de artigo (com ótima tradução) – pois meu inglês é bem sofrível. Felicito o Boris Feldmann. Quando conheci o condomínio onde ele morava, (há alguns anos), percebi que ele tinha desde aquela época, muito bom gosto. O tempo mostrou que tem refinado ainda mais aquela característica. Um grande abraço a todos!

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