Porque não abro mão do meu velho carro!

O automóvel está numa complicada fase transitória que só será resolvida ao se tornar um autônomo de verdade

painel futurista shutterstock
Painel futurista (Foto: Shutterstock)
Por Boris Feldman
Publicado em 24/10/2020 às 07h00

A eletrônica chegou devagarinho no automóvel. Começou com algumas utilidades perceptíveis como o controlador de velocidade (cruise control), limpador de para-brisa intermitente e outros comandos.

Daí foi assumindo o gerenciamento de componentes mecânicos como motor, câmbio, suspensão e freios. Hoje, dificilmente se anuncia uma notável evolução mecânica no automóvel, pois as novidades estão quase todas concentradas nos dispositivos eletrônicos.

Aliás, o próprio etanol foi um fracasso como combustível na década de 80 e só viabilizado em 2003 com o motor flex. Possível graças a… eletrônica.

A computadorização do carro tornou-o mais seguro, econômico, confortável, limpo, eficiente e conectado. E também mais confiável, pois não para mais na estrada por um distribuidor desregulado ou carburador entupido, ambos no museu, obsoletados pela central eletrônica.

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Transição

Entretanto, a indústria automobilística está atravessando uma complicada fase transitória. A eletrônica vem assumindo também funções do próprio motorista ao dispor de diversos sistemas que antecedem o carro autônomo.

Antes de eliminar volante e pedais, o carro já estaciona sozinho. Procura uma vaga e volta até onde o motorista o deixou. Interfere nos freios e estanca o carro quando percebe um obstáculo à frente e que o motorista não vai reagir, para evitar a batida frontal. Tem sistema de proteção 360º para evitar esbarradas ou batidas acidentais na frente, laterais e traseira.

Por comando de voz, liga, desliga ou regula o ar condicionado. Estabelece um roteiro para chegar a um endereço. Sintoniza estação de rádio ou  fonte de música. Regula assentos, volante e retrovisores. Pode ser programado para abrir vidros e acender faróis quando chega na portaria do prédio.

O motorista pode também registrar seu perfil: o carro o reconhece quando se aproxima e faz automaticamente todos os ajustes previamente determinados.

painel futurista shutterstock

Pode também, pelo celular, ligar motor e ar-condicionado remotamente. Permite inclusive comprar potência adicional pelo celular (ou computador): a concessionária interfere na central eletrônica e reajusta o mapeamento (chip) para ampliar o haras sob o capô.

Por conexão de internet com uma central de apoio, pode-se pedir socorro, reservar hotel, restaurante ou teatro, e outras mordomias mais. Aliás, o socorro vai mesmo que o motorista não esteja em condição de solicitá-lo.

Passei aperto!

Mas eu passei uns apertos recentemente. Dirigia um destes carros semiautônomos e, rodando pela faixa da esquerda da rua, vi uma criança descendo do passeio com uma patinete, à minha esquerda, alguns metros à frente. Minha reação imediata foi desviar para a direita, mas o carro quase invadiu a faixa ao lado.

Entrou então em ação o sistema que evita mudança de faixa sem ligar a seta, me tomou o volante e jogou o carro de volta para a esquerda. Eu reagi rapidamente e tornei a forçar o carro para a direita, evitando um quase acidente.

Outro carro de teste, também do tipo premium, complicou minha vida ao estacioná-lo na garagem: o sistema de proteção 360º impedia a marcha-ré, pois suas laterais ficariam muito próximas das colunas ao lado da vaga. Quanto mais eu tentava, mais ele freava para evitar a “esbarrada” lateral. Tive que parar, ligar os sistemas de controle no painel central e desativar a tal da proteção para estacionar o carro.

Um carro premium de alto nível tem dezenas de sistemas de proteção, controle, sinalização, comunicação, ajuste e reparo remotos e vários outros que exigem razoável dedicação até o dono se familiarizar com toda a parafernália.

Mas a verdade é que são poucos os que vão além dos dispositivos essenciais. E muitas vezes só os acionam para exibir as maravilhas para a família, parentes e vizinhos.

Complexidade sem sentido

Toda essa complexidade incorporada ao automóvel só terá sentido quando for completamente autônomo e apenas exigir do motorista meia dúzia de comandos de voz, do tipo “me leve ao escritório e volte para pegar minha esposa”.

Enquanto estiver nesse nem cá, nem lá, eu continuo apaixonado pelo meu V6, tração nas quatro e câmbio DSG. Meio ultrapassado, zero parafernália, mas que oferece conforto, segurança e desempenho mais que razoáveis.

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21 Comentários
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PAULO MOTTA 22 de dezembro de 2020

minha preferencia é pelos antigos

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PAULO MOTTA 22 de dezembro de 2020

Eu prefiro carros antigos por eles serem mais bonitos e resistentes mecanicamente e lataria mais grossa, acho muito belo os carros que tem parachoques de ferro cromado, espelhos com capa de aluminio cromados (os atuais são de plastico), acabamento interno muito superior ao acabamento dos carros atuais

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Junior Barradas 30 de outubro de 2020

Gosto de carro antigo. Também gosto de carro moderno.
A questão é que o antigo parava mais por “problemas” que vc mesmo poderia resolver. Agora, perde-se horas aguardando o guincho pra te levar a uma concessionária ou oficina especializada, pra que em 10 minutos o “diagnostico” seja feito e muitas vezes não se encontra o problema facilmente.

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Paulo henrique guedes 28 de janeiro de 2021

Antigamente se fazia carros para durarem. hoje a coisa é descartável em tudo que vc compra. É prederteminado pra quebrar se não eles não vendem.

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Erick 28 de outubro de 2020

Como é q é ? Não para mais na estrada ? ? ? O meu sueco, considerado o supra sumo da qualidade já parou 2 vezes esse ano. Duas. E Ñ é por ser importado, pq antes eu tinha um nacional topo de linha da montadora, e ele tb parou. A diferença é q antes vc ia lá colocava um araminho, assoprava aqui e alí e tudo bem. Hj em dia precisa chamar guincho e o caramba. Esse nacional inclusive travou o cambio automático e para conseguir tirar ele da garagem p/ colocar no guincho foi uma aventura. O q eu aprendi é que aqui no Brasil carro confiável é esses baratinhos, sem turbo, sem cambio, sem nada. Menos coisa pra quebrar com nossa gasolina e nossas estradas e algo que nossos mecânicos talvez consigam arrumar indo só 2 ou 3 vezes. E olha q nem esses 1.0 os caras tem conseguido arrumar de primeira, sempre fica um rabicho.

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Fernando B 29 de outubro de 2020

Se vc não der manutenção preventiva, quebra mesmo.

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paulo motta 22 de dezembro de 2020

Os carros atuais não “guentam” o tranco das nossas excelentes avenidas e do nossos combustiveis de qualidade impar, essa é a verdade.

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Nanael 26 de outubro de 2020

Carro antigo não é hackeado.

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Antonio Pedro Gouveia 24 de outubro de 2020

Boa noite!
Tanto se sabe de norte a sul do Brasil sobre a adulteração de combustíveis. Pergunto será possível (independente do custo) alguem “domesticamente” extrair etanol da gasolina? E o carro funciona? A performance melhora ou piora?

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André Brügger 25 de outubro de 2020

Amigo, pelo muito que andei lendo sobre a gasolina brasileira, que tem adição de Etanol, deve-se a muitos fatores, mas pelo que li é justamente esse Etanol que faz com que a gasolina permita uma octanagem maior. A gasolina pura, digamos assim, realmente é muito mais econômica. Porém ela entra em combustão com muita facilidade, devido à baixa octanagem. Ou seja, se você conseguir extrair o todo o Etanol e utilizá-la pura, você corre sério risco de danificar seu motor, porque com a pressão exercida nos cilindros (adequada aos atuais padrões) ela pode explodir antes mesmo do cilindro terminar o ciclo. É um risco muito grande que não compensa.

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Werberti Luiz 24 de outubro de 2020

Isso só prova que você pode até comprar o carro autônomo, mas na maioria dos casos (pelo nas grandes capitais brasileiras) você não vai poder utilizar os recursos, primeiro porque não há espaço, nossos órgãos controladores de tráfego forçam os veículos a andarem quase ralando uns nos outros, segundo motoqueiros e motociclistas, trafegam em locais jamais imaginados pela indústria automobilística, terceiro as vagas de estacionamento já são projetas com o tamanho padrão fusca, e assim vai, conclusão compramos um canhão para matar uma mosca. Sem contar os carros elétricos, que com isenção de impostos não custa menos de 100 mil reais, com muita economia de combustível ainda não será possível recuperar o investimento inicial no mesmo e o sucateamento prematuro.

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Fernando Ricardo de Miranda 24 de outubro de 2020

Perfeito.

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Joaquim Francisco Ferreira 24 de outubro de 2020

O carro Peugeot 208, semi novos, como os 2015, 16,17, são carros confiáveis para compra-los ? E para vende-los ?

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Erick 28 de outubro de 2020

Carros franceses são problema. Quebram muito, peças muito caras e muito complicados para arrumar.

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Rodrigo Carvalho Viana 24 de outubro de 2020

Tenho 43 anos, sou fanatico por carros e estou tendo o mesmo sentimento: os carros estão ficando chatos…

Além da maldita Ditadura de SUV, onde nos, consumidores estamos sendo privados de comprar o tipo de carro que gostamos, o carro está perdendo o sentido…

Nada se compara a ouvir o ronco de um 5, 6 ou 8 cilindros… o carro está parecendo celular… 5 milhões de funções, que só encarecem o produto mas, que na prática, você não usa nem 10% de todas as funções…

O direito de escolha do consumidor deve continuar existindo, nem todo mundo quer, gosta ou precisa de um SUV…

Existem pessoas que não querem o carro “bunda” que todo mundo tem… Existem pessoas de personalidade que, independentemente da modinha, comprará o carro que gosta ou precisa, por isso, digo:

SALVEM os Hatches, Sedans, Peruas, Conversiveis, Picapes, Minivans, Crossovers e, até mesmo os SUV (de verdade, não esses tantos fakes que existem), sejam eles pequenos, médios ou grandes, afinal, a escolha é um direito do consumidor!

Carros Elétricos são caríssimos e, com a nossa dimensão continental, ainda não temos estrutura para isso…

Carros muito tecnológicos tiram o prazer de conduzir, para quem realmente é apaixonado por carros, e emburrece o motorista.

Não estou dizendo que os carros devem ser pelados, sem equipamentos, mas tudo tem um limite. A tecnologia tem.um limite afinal de contas e, acima de qualquer coisa, por mais tecnologia que exista, ainda existe atrás do volante do outro uma coisa chamada Ser Humano, que tem reações que um computador não conseguirá se precaver.

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ADRIANO OJEDA 24 de outubro de 2020

Isso é Verdade Rodrigo de Carvalho, carros de hoje parece celular, sem graça, prefiro os dos anos 90 e inicio de 2000, esse modernismo de hoje só serve para deixar os motoristas ruins de volante, e ter comodismo, deixar as pessoas desatentas ao volante, de nada adianta essas inovações,se as pessoas não tem noção para dirigir, outra coisa que acontece é o aumento de revisões e serviços de elétrica, os carros só prestam até acabar a garantia, acabou é só desmanche ou gambiarras, prefiro os carros de embreagem, cambio manual e volante sob meu controle.

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Marcos 25 de outubro de 2020

Dirigir ficou horrível com tanto radar, buraco, moto, bicicleta, pedestre, sinalização, bandido, falta de educação e agora toda essa besteira de configurar o carro já a melhora técnica e muito bom motor 1.0 potente econômico, leves, proteção, etc.

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Lourdes Maria 25 de outubro de 2020

Concordo plenamente com você!

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Fernando B 25 de outubro de 2020

Hoje as pessoas preferem botões (mesmo que praticamente não usem) a um motor mais potente que garante segurança numa ultrapassagem. É a geração leite com pêra que já pode comprar carro.

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WALDIR SIEGFRIED WEHRLE 25 de outubro de 2020

Muito bom Rodrigo, concordo plenamente. Pergunta para a geração Nutella o que significa a sigla SUV – talvez algo como Simulador Universal de Veículo…

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Erick 28 de outubro de 2020

Espere até ver os elétrico, quase fui atropelado por um no exterior (em alguns lugares eles já estão por toda parte). Vc não ouve o carro, é um negócio indescritível. Q troço chato.

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