Suspensão a ar para carros: como funciona? Instalação vale a pena?

Legislação brasileira permite alterar a suspensão dos veículos, mas essa medida é desaconselhada por engenheiro

volkswagen golf verde rebaixado com suspensao a ar
Suspensão a ar permite regular a altura do veículo em relação ao solo (Foto: Shutterstock)
Por Alexandre Carneiro
Publicado em 25/08/2021 às 16h03

Você sabe o que é suspensão a ar, com molas pneumáticas? Trata-se de um mecanismo que utiliza ar comprimido para controlar a rigidez dos componentes elásticos: assim, o veículo pode der um rodar mais macio, para privilegiar o conforto, ou mais rígido, para aumentar a estabilidade. Outra vantagem desse dispositivo é a possibilidade de regular a altura da carroceria em relação ao solo.

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A suspensão a ar é bastante comum em veículos pesados, principalmente em ônibus. Porém, é item raro em automóveis: apenas modelos de alto luxo, como Mercedes-Benz Classe S, Audi A8 e Range Rover Vogue. Isso devido à complexidade do sistema, que implica em maiores custos. A estimativa é de um gasto extra na casa de 30%. Outro problema é a exigência de mais espaço sob o veículo para os componentes.

Como funciona a suspensão a ar?

Via de regra, os principais componentes de um sistema de suspensão a ar são: reservatórios (ou tanques) de ar, compressor, bolsas, mangueiras e unidade de controle. Há ainda outros itens, como sensores de altura e acelerômetros. Tudo é controlado eletronicamente.

Nesse tipo de arquitetura, em vez de molas, a suspensão tem bolsas como elementos elásticos. De acordo com a situação, o compressor pode aplicar maior ou menor pressão ao ar que circula pelo circuito: isso pode ocorrer automaticamente, para manter, por exemplo, a altura em relação ao solo mesmo com o veículo carregado. Ou por meio do comando do motorista, para elevar ou reduzir o vão livre ou a rigidez.

sistema de suspensao a ar substitui mola convencional por bolsa
Em vez de molas, sistema de suspensão a ar utiliza bolsas

Para elevar ou enrijecer a suspensão, o sistema aplica maior pressão de ar à rede pneumático. Por outro lado, para baixar a altura do solo ou para tornar o rodar mais macio, parte do ar do circuito é expelido, reduzindo a pressão interna.

Em alguns sistemas de suspensão a ar, em especial naqueles que não são originais de fábrica, o condutor pode controlar individualmente a pressão das bolsas de cada roda. Isso permite, na prática, que o veículo fique com uma altura desigual em relação ao solo.

Vale a pena instalar um sistema de suspensão a ar?

De acordo com João Irineu Medeiros, da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), a resposta é não. Ele explica que, em tese é possível fazer diversas modificações técnicas em um carro. Contudo, na prática, elas dificilmente obtêm resultados melhores que os dos sistemas originais, pois existem muitas nuances que podem trazer problemas.

O engenheiro pondera que a suspensão tem um papel fundamental para o comportamento dinâmico do veículo: “Existem muitos regulamentos e aspectos que o projeto deve atender, como estabilidade em curvas e em mudanças bruscas de direção, eficiência em frenagem etc; e todos aspectos estão ligados à segurança veicular”, adverte.

Além disso, ele explica que sistemas eletrônicos de segurança, como freio ABS, controle de estabilidade e até dispositivos de frenagem autônoma dependem do projeto de suspensão original para funcionarem bem. Por isso, Medeiros adverte que todos esses requisitos precisam ser testados e certificados após a instalação de um sistema de suspensão a ar.

fiat 500 rebaixado com suspensao a ar em evento de tunning na suica
Suspensão é fundamental para a dirigibilidade do veículo: alterações podem trazer consequências negativas

Outra questão levantada pelo engenheiro é que mudanças na altura do veículo geram consequências aerodinâmicas aerodinâmicas. E maior arrasto implica em aumento de consumo e redução de desempenho.

Durabilidade

Por fim, Medeiros lembra que a durabilidade de um sistema de suspensão a ar não-original é uma incógnita. No Brasil, onde há tipos de pavimentação muito diversificados, alguns bastante agressivos, a situação é ainda mais delicada. “O projeto original da suspensão prevê a utilização em todas, absolutamente todas, essas condições”, conclui.

Suspensão a ar é ilegal?

Se, mesmo diante de todas as questões levantadas pelo engenheiro da AEA, o proprietário quiser instalar um sistema de suspensão a ar, ao menos é possível manter o veículo legalmente regularizado. Alterações desse tipo estão previstas pela Resolução 479 no Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada em 2014.

O texto do Contran estabelece critérios básicos para alterar a suspensão e permite a utilização de sistemas fixos ou reguláveis, como no a ar. Vale destacar que as modificações devem constar tanto no Certificado de Registro de Veículo (CRV) quanto no Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV).

Resolução 479 do Contran

Art. 6º: Os veículos de passageiros e de cargas, exceto veículos de duas ou três rodas e quadriciclos, usados, que sofrerem alterações no sistema de suspensão, ficam obrigados a atender aos limites e exigências previstos nesta Resolução, cabendo a cada entidade executora das modificações e ao proprietário do veículo a responsabilidade pelo atendimento às exigências em vigor.

§ 1º Nos veículos com PBT até 3500 kg:

I – o sistema de suspensão poderá ser fixo ou regulável.

II – A altura mínima permitida para circulação deve ser maior ou igual a 100 mm, medidos verticalmente do solo ao ponto mais baixo da carroceria ou chassi, conforme anexo I.

III – O conjunto de rodas e pneus não poderá tocar em parte alguma do veículo quando submetido ao teste de esterçamento.

§ 2º Nos veículos com PBT acima de 3.500 kg:

I – em qualquer condição de operação, o nivelamento da longarina não deve ultrapassar dois graus a partir de uma linha horizontal.

II – A verificação do cumprimento do disposto no inciso I será feita conforme o Anexo I.

III – As dimensões de intercambiabilidade entre o caminhão trator e o rebocado devem respeitar a norma NBR NM – ISO 1726.

IV – É vedada a alteração na suspensão dianteira, exceto para instalação do sistema de tração e para incluir ou excluir eixo auxiliar, direcional ou auto direcional.

§ 3º Os veículos que tiverem sua suspensão modificada, em qualquer condição de uso, deverão inserir no campo das observações do Certificado de Registro de Veiculo – CRV e do Certificado de Registro e Licenciamento de Veiculo – CRLV a altura livre do solo.

Suspensão a ar: preço

É possível encontrar sistemas de suspensão a ar por preços variados. Os conjuntos básicos, sem o compressor de ar, são encontrados por valores a partir de R$ 2.000. Porém, um kit completo, com compressor, pode chegar a R$ 4.000 ou até R$ 5.000. Esses valores não incluem a mão de obra de instalação.

Lei de trânsito que permitiria mudanças nos componentes estruturais do veículo é vetada.
Kits de suspensão a ar podem custar a partir de R$ 2.000 até mais de R$ 5.000

Ademais, o proprietários ainda terá de arcar com os gastos referentes à legalização do veículo. Os procedimentos incluem vistoria antes da instalação da suspensão ar, Certificado de Segurança Veicular (CSV) emitido pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e alterações na documentação.

Histórico

O sistema de suspensão a ar é quase tão antigo quanto o próprio automóvel. O primeiro registro desse tipo de mecanismo do qual se tem notícia é uma patente registrada em 1901 por William W. Humphreys: ele chamou a invenção de “Mola Pneumática para Veículos”. Grosso modo, o projeto era composto por duas grandes bolsas que percorriam longitudinalmente o veículo, cada qual com uma válvula de ar própria.

A primeira aplicação prática de um sistema de suspensão a ar ocorreu logo depois, já em 1909. Naquele ano, um sistema que utilizava uma bomba de bicicleta para encher um diafragma de borracha dentro de um cilindro foi adotado pela britânica Cowey Motor Works. Porém, esse mecanismo se mostrou pouco durável, devido a vazamentos de ar.

Investimentos em sistemas de suspensão a ar só voltaram a ocorrer em 1946. O projeto, desenvolvido pela Firestone, destinava-se a um protótipo: o Stout Scarab Experimental. O sistema não foi produzido em série, mas, assim como nos similares atuais, já trazia quatro bolsas no lugar das molas, associadas aos respectivos compressores.

cadillac eldorado brougham 1957 preto lateral
Cadillac Eldorado Broughham 1957: primeiro carro produzido em série a oferecer suspensão a ar

Em 1957, a suspensão a ar enfim chegou a um automóvel de produção em série: a primazia coube à Cadillac, do grupo General Motors, que a ofereceu no luxuoso Eldorado Broughham. Em 1962, foi a vez de a Mercedes-Benz aderir ao sistema. A marca alemã disponibilizou um dispositivo semelhante em modelos como o 300SE e o 600 Grosser.

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